A condenação de Ghislaine Maxwell

A decisão era esperada, mas o suspense ainda durou cinco dias – incluindo o aniversário de 60 anos da acusada, Ghislaine Maxwell, no dia de Natal – mas, mesmo com um único voto a seu favor, a ex-namorada de Jeffrey Epstein foi condenada à 70 anos na prisão por seu envolvimento e liderança em uma rede de exploração sexual e tráfico de menores. Das seis acusações, ela conseguiu ser inocentada apenas de uma, que era a de induzir menores de idade a viajarem para participar de atos sexuais ilícitos.

A sentença, por conta da idade da acusada, equivale a perpétua. A advogada de defesa de Ghislaine, Bobbi Sternheim, se disse decepcionada com o resultado e que já está apelando.

Um dos argumentos de defesa era o de que a empresária britânica estava respondendo sozinha no lugar do verdadeiro culpado, seu ex-namorado, Jeffrey Epstein, que foi encontrado morto em sua cela, em 2019, em um aparente suicídio, antes de chegar a julgamento. É verdade, ela ficou para responder sem ele, mas, em todos os depoimentos das sobreviventes, sua participação no esquema era obvia e inegável. Minimamente, como um dos depoimentos do julgamento revelaram, Ghislaine sabia de tudo e “permitia”, porque teria sido ensinada a “deixar seu homem feliz”.

A leitura do veredito não provocou uma reação dramática da condenada. Ghislaine teria bebido água calmamente e apenas falado com seus advogados durante a leitura. Quando acabou, foi retirada imediatamente.

A conclusão dessa fase do processo é um capítulo importante nesse conto de terror que envolveu o excuso e misterioso milionário. A promotoria lamentou que o julgamento e condenaÇão tenham acontecido apenas mais de uma década depois dos abusos, mas elogiou a coragem das mulheres que fizeram a acusação e prestaram depoimento.

O processo judiciário foi surpreendentemente rápido. Originalmente se esperava que levaria mais de um mês, mas encerrou em duas semanas. Ghislaine acabou não prestando depoimento e as testemunhas de acusação recontaram ocasiões onde ela mesma teria participado dos abusos. Em todas as ocasiões, era a Ghislaine que induzia as meninas aos encontros sexuais com Epstein. Segundo a promotoria, “ela sabia o que estava fazendo. Manipulou as vítimas e as preparou para serem sexualmente abusadas”. A defesa de Ghislaine bateu na tecla que a motivação das sobreviventes é financeira e que os relatos sobre a participação dela no esquema eram inconsistentes. Segundo os advogados, o erro de Ghislaine foi o de ter se envolvido com Jeffrey Epstein, mas isso não era o crime que estava sendo julgado.

Uma das falhas na defesa de Ghislaine foi a de querer afastá-la da relação com o milionário, alegando nem serem mais romanticamente ligados. Fotos dos dois confirmou que tinham sim uma relação pessoal próxima de mais de 10 anos.

O resultado do julgamento parece estar preocupando a equipe de advogados do Príncipe Andrew, acusado em um caso semelhante por uma das vítimas. A defesa do príncipe estava usando argumentos parecidos dos advogados de Ghislaine, a ver agora se mudam a estratégia. No momento estão querendo tirar o caso das cortes americanas.

O resultado do julgamento de Ghislaine Maxwell era obvio e correto. Ghislaine certamente é o que poderíamos dizer, “uma mulher de seu tempo” e certamente fez o que fez por amor ou/e situação financeira. Epstein a manteve em um padrão de vida luxuoso e ela teria recebido mais de 30 milhões de dólares ao longo dos anos que esteve com ele. Nada disso a faz inocente.

As jovens que foram abusadas ao longo dos anos vinham de famílias pobres – na maior parte – tinham 14 anos e ainda não saberiam como se defender em casos de manipulação. Elas não foram violentadas ou sofreram violência física nem mesmo ameaças para participar, o que não quer dizer que estavam cientes do que estavam fazendo. O fato das meninas trazerem outras vítimas para o esquema fazia parte da manipulação da dupla Ghislaine-Jeffrey, igualmente não classificando culpabilidade das vítimas. Elas foram induzidas cooptar mais jovens, não o fizeram de livre e espontânea vontade.

O raciocínio de que as meninas compartilhavam a culpa está com pés fincados na cultura patriarcal de uma mulher fazendo de tudo para agradar ao “seu homem” como argumento de defesa. Abusar sexualmente de meninas menores de idade já era crime, Ghislaine não têm como negá-lo. E o fato de que ficou sozinha para pagar o pato? Sim, verdadeiro. Jeffrey Epstein se matou para não viver o que ela está vivendo. No final das contas, Ghislaine Maxwell fez tudo – literalmente – por seu ex-namorado. Incluindo a condenação pública e a vida atrás das grades. Uma história de amor bandido inegável.

E a história não acaba aqui. A promotoria agora trabalha em um novo processo contra Ghislaine: o de acusação de perjúrio durante o processo contra Jeffrey Epstein. O novo julgamento está previsto para 2022 e pode acrescer ainda mais anos na já longa condenação de Ghislaine Maxwell.

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