A primeira temporada de The Gilded Age chega ao fim amanhã, com a certeza de que a série deu certo e encontrou os fãs carentes de Downton Abbey. Ao abandonar a idéia original de ligar as duas histórias através de Cora Crawley, Julian Fellowes nos apresentou uma nova gama de personagens e está inserindo diversidade na trama, com a personagem Peggy Scott (Denée Benton) e outros.
Nessa primeira etapa, The Gilded Age nos ensinou que Nova York, na virada do século, enfrentou a guerra silenciosa entre “novo” e “velho” dinheiro, com costumes sociais extremamente amarrados em o que era permitido ou não.
Nossa ingênua da história, Marian Brooks (Louisa Jacobson), é tão inocente quanto insolente ou teimosa, está claramente se encaminhando para o precipício da infelicidade com um suspeito Tom Raikes (Thomas Cocquerel). Quanto mais é avisada sobre ele, mais acredita estar certa e os outros errados. O irritante da equação é que, enquanto todos têm fatos e exemplos para apontar, Marian se apóia em nada, apenas nas declarações de amor do advogado. A ver, mas essa história não tem cara de final feliz e não deve se concluir amanhã. (Mais sobre isso em outros posts)
O que veremos, finalmente, é a inauguração do salão de baile dos Russells e a entrada de Gladys (Taissa Farmiga) na sociedade. E com isso, uma representação do que foi o baile do século, uma festa que entrou para a história de Nova York e que aconteceu na casa dos Vandebilts.
Na série, vimos Bertha Russell (Carrie Coon) se encontrando quase aceita pela sociedade, mas enxotada vergonhosamente pelas portas dos fundos quando a Sra Astor (Donna Murphy) entra no ambiente, deixando muito claro que ainda estaria longe de alcançar seu objetivo de participar de igual nos eventos mais disputados de Nova York. E, pelo trailer, sabemos que ela vai adotar a estratégia de Alva Vanderbilt para virar o jogo. Será incrível.


O baile do século
Em 1883, Alva Vanderbilt seguia determinada a se tornar parte da alta sociedade de Nova York e entrar na Lista dos 400, do qual foi abertamente excluída e que “determinava” quem era digno na cidade. A lista era “controlada” pela Sra. Astor e Ward McAllister (na série, Nathan Lane), os “Defensores do dinheiro e da tradição antigos”, como nossa querida e fictícia Agnes Van Rhijn (Christine Baranski).
Como The Gilded Age mostra com fidelidade, a Sra. Astor e McAllister se colocam como as autoridades em todas as coisas da classe alta, decidindo quem era respeitável o suficiente ou de linhagem pura o suficiente para se tornar parte da elite. Os Vanderbilts não se encaixavam.
Diferentemente dos nossos fictícios Russells, que têm uma mansão que ninguém visita, quando a impressionante mansão em estilo de castelo francês na 5ª avenida, a “Petit Chateau”, ficou pronta, Alva decidiu fazer o maior baile já visto na cidade para inauguração. E, assim, quebrar a resistência que a impedia de entrar para a tal lista. Estaremos revendo algo quase perto da data da festa original, que aconteceu na segunda-feira, 26 de março de 1883. E atenção porque deve ser a inspiração para o episódio final de The Gilded Age.
O baile de Alva foi à fantasia e os convites foram entregues em mãos por criados uniformizados. As jovens socialites ensaiaram as quadrilhas, as danças com quatro casais em formação retangular, por semanas a fio, segundo o New York Times, as mulheres estavam desesperadas para conseguirem se superar em suas fantasias. Com toda imprensa antecipando a festa, o baile passou a ser o assunto mais comentado da cidade e quem não estava na lista de convidado se sentiu por fora. Adivinha quem Alva “esqueceu” de convidar? A filha da Sra. Astor, Carrie, que entrou em desespero.

Assim como vimos na série, Carrie, vinha praticando a quadrilha com suas amigas há semanas e aguardava ansiosamente o seu convite, mas, quando todos menos ela receberam os seus, pediu à mãe para descobrir o porquê. E foi a vitória de Alva. Ela alegou que, como a Sra. Astor nunca havia visitado a casa dos Vanderbilt para se apresentar formalmente, não tinha endereço para enviar um convite. Para aplacar o desespero de Carrie, que seria a única excluída da festa, a Sra. Astor relutantemente apareceu no Petit Chateau e deixou seu cartão de visita. Os Astors receberam o convite no dia seguinte e os Vanderbilts foram oficialmente aceitos na sociedade. Isso tudo veremos no episódio final da temporada.
O que não vai entrar, por não ser reprodução exata, é o relato a seguir, tirado da Antique Trader.
O baile de fantasias começou às 22h, quando as 1.200 socialites de Nova York começaram a chegar em carruagens à mansão. A polícia teve que conter as multidões que se reuniram para assistir ao evento se desenrolar e vislumbrar os homens e mulheres da sociedade em seus trajes ultrajantes e fantasias inventivas. Até a Sra. Astor e Ward McAllister compareceram.
Assim como no baile, os convidados tiveram a oportunidade de ter sua foto tirada no evento do ano, ou talvez do século, por Mora, um arrojado refugiado cubano que era o fotógrafo dos ricos e famosos.
Alva vestiu-se como uma dama renascentista veneziana e lá estava a senhorita Edith Fish vestida como a duquesa da Borgonha, com safiras reais, rubis e esmeraldas cravejados na frente do vestido. A cunhada de Alva, a Sra. William Seward Webb, foi como uma vespa, com um cocar importado feito de diamantes. Miss Kate Fearing Strong foi como seu apelido “Puss” e usava uma fantasia de gato perturbadora que consistia em uma cabeça de gato taxidermizada que ela usava como chapéu e sete caudas de gato costuradas em sua saia.
A Sra. Cornelius Vanderbilt II, em um dos trajes mais deslumbrantes da noite, representou “Luz Elétrica”. O vestido, desenhado por Charles Frederick Worth, era feito de cetim amarelo e fios de ouro e prata e decorado com pérolas de vidro e contas em um padrão de raio. Tinha até uma tocha que acendia, graças às pilhas escondidas no vestido.
O vestido de cetim amarelo Electric Light desenhado por Charles Frederick Worth. É decorado com pérolas de vidro e contas em um padrão de raio. Este vestido foi apenas um dos vários vestidos espetaculares que serviram para tornar o evento o início oficial do papel de Alva Vanderbilt como uma das principais socialites de Nova York. O vestido está preservado no Museu da Cidade de Nova York.
Exatamente às 11h30, o baile começou oficialmente com a quadrilha do cavalinho de pau, a primeira de cinco quadrilhas em que os jovens da sociedade dançavam pela grande escadaria em seus trajes luxuosos.
Os dançarinos da quadrilha de Dresden usavam trajes de corte totalmente brancos e pareciam assustadoramente bonecas de porcelana vivas. Para a quadrilha da Opera Bouffe, os figurinos eram igualmente elaborados. O New York Times descreveu Miss Bessie Webb, que apareceu como Mme. Le Diable, como estando “com um vestido de cetim vermelho com um demônio de veludo preto bordado e todo o vestido enfeitado com franja de demônio – ou seja, com uma franja ornamentada com cabeças e chifres de pequenos demônios”.
A bola realmente entrou em pleno andamento depois que as quadrilhas terminaram. Dezenas de Luís XVI, nobres venezianos, um rei Lear “em sã consciência”, Joana d’Arc e centenas de outras figuras fantasiadas beberam champanhe e dançaram ao redor da casa cheia de flores, inclusive no ginásio do terceiro andar que havia sido convertido em um floresta repleta de palmeiras, buganvílias e orquídeas. O jantar foi servido às 2 da manhã por um pequeno exército de servos. O cardápio incluía pratos quentes de ostras fritas, croquetes de frango e tartaruga de água doce ao estilo de Maryland, e pratos frios de salmão à la Rothschild, carne, presunto e frango em geléia, salada de frango com aipo, sanduíches à la Windsor e vários tipos de sorvetes.
A dança continuou até o nascer do sol e Alva conduziu seus convidados em um último rolo da Virgínia. Então, assim, o grande baile acabou. O mundo de fantasia que Alva criou voltou à realidade, enquanto homens de perucas empoadas tropeçavam na Quinta Avenida em direção a casa.
A maioria das fontes contemporâneas estimam o custo do baile em US$ 250.000 (cerca de US$ 6 milhões em valores atuais), incluindo US$ 65.000 para champanhe e US$ 11.000 para flores. Toda a pompa e pompa extravagante funcionou: os jornais de todo o país elogiaram os gostos e a elegância de Alva e relataram os detalhes mais minuciosos. Houve alguma reação, no entanto. O New York Sun publicou um artigo que criticava todo o excesso quando havia tanto sofrimento na mesma cidade:
“Algumas pessoas de boa mente argumentam que entretenimentos desse tipo são tanto caridosos quanto patrióticos, pois fazem o dinheiro circular e dar trabalho àqueles cujo destino é trabalhar. Isso é um lixo sentimental. O operário e a trabalhadora americanos carentes não ganham um centavo com a importação dos vestidos de Worth, a compra de novos diamantes na Tiffany’s ou o reassentamento de velhas joias de família… do trabalho de muitos”.
Mas estamos supondo que todos os foliões da festa, especialmente a própria Alva, não deram a mínima para o que o The Sun achou de seu extravagante baile à fantasia, porque em 27 de março de 1883, os Vanderbilts estavam na lista que não se limitava mais a 400 pessoas.
Talvez seja por isso que Mora mais tarde adicionou pássaros à foto de Alva – para simbolizar que ela finalmente estava voando tão alto quanto as outras elites da sociedade.
Você pode ver trajes de baile mais extravagantes no álbum de fotos do Museu da Cidade de Nova York.
Assuntos para 2ª temporada
Muitas dúvidas ainda serão transportadas para as próximas temporadas, como a questão da fortuna de Marian Brook, o destino do filho de Peggy Scott, como Bertha Russell vai “vender” Gladys por um título de nobreza e etc. Não vai faltar drama!
Mal posso esperar!