“Tu és como rosto das rosas: diferente em cada pétala.
Onde estava o teu perfume?
Ninguém soube.
Teu lábio sorriu para todos os ventos e o mundo inteiro ficou feliz.
Eu, só eu, encontrei a gota de orvalho que te alimentava, como um
segredo que cai do sonho…
Depois abri as mãos , – e perdeu-se.
Agora, creio que vou morrer.”
Cecília Meireles, 1962


O poema acima, Vivien Leigh ao Cair da Tarde, foi escrito pela poetisa depois de uma visita surpresa da atriz ao hospital onde a autora estava internada. A pequena pérola na biografia da atriz que completará 55 anos de morte em julho, é apenas conhecida no Brasil, mas é delicada e linda como foi a estrela britânica, Vivien Leigh.
Em 1962, recém separada de Laurence Olivier e já secretamente lidando com a bipolaridade, Vivien embarcou em uma longa e dolorosa turnê teatral pela América do Sul, acompanhada por seu namorado, Jack Merrivale. Exausta, desgastada emocionalmente, ela lidou com a avidez dos fãs e da imprensa latina, excitada por rever Scarlett O’Hara e Blanche Dubois em pessoa.



A turnê chegou primeiro em São Paulo no dia 7 de maio de 1962, com Shakespeare e Alexander Dumas na programação do Teatro Municipal. Alguns dias depois, ela desembarcou no Rio de Janeiro, onde concedeu entrevistas e conheceu a atriz Maria Fernanda, filha da poetisa Cecília Meireles, que estava em cartaz com a peça Um Bonde Chamado Desejo. Na época, foi promovido um encontro das três intérpretes da personagem principal, Vivien (que tinha recebido seu segundo Oscar como Blanche), Maria Fernanda e Henriete Morineau.

Como sempre, muito educada, Vivien gostou muito de Maria Fernanda, que além de ter estudado em Londres tinha ainda interpretado Scarlet O’Hara na televisão brasileira. Porém a estrela percebeu que a brasileira parecia triste e perguntou o que acontecia. Maria Fernanda explicou que sua mãe, a poetista Cecília Meireles, estava doente, hospitalizada, por causa de um câncer.
Em segredo, Vivien descobriu o hospital em que Cecília de Meireles estava internada e foi visitá-la, levando flores e aguardando ao seu lado, em silêncio até que acordasse. Enquanto esteve no país, visitou a escritora no hospital todos os dias, nascendo assim uma amizade entre elas que permaceria até a morte da poetisa, dois anos mais tarde. Antes de falecer, Cecília publicaria um poema em homenagem a atriz inglesa, que não é um de seus mais conhecidos, mas que é muito doce, relembrando as flores e a surprsea de encontrar Vivien Leigh ao seu lado no hospital.
A sensibilidade e carinho da estrela tocava a todos pelos pequenos gestos como esse. Sua beleza era interna e externa e mais do que isso, completamente genuína.


