Justiça feita: Ghislaine Maxwell é condenada

A vida da milionária Ghislaine Maxwell, acostumada a luxos e tratamentos VIP desde que nasceu será passada atrás das grades. Acompanho o caso há pelo menos dois anos aqui no blog, e antes em CLAUDIA, É um caso absurdo de ponta a ponta, onde uma mulher ajudou a homens poderosos abusarem, traficarem e explorarem menores sexualmente. Seja como for, uma vez que Jeffrey Epstein e Jean-Luc Brunel se mataram, restou apenas Ghislaine para responder judicialmente. A recomendou 30 anos sem condicional. A Justiça deu 20 anos. Quando acabar o período, Ghislaine terá perto de 70 anos.

A vida de Ghislaine foi marcada por tragédia, mistério, luxo e crimes, desde nova. Filha do magnata da mídia britânico Robert Maxwell, que morreu em circunstâncias jamais esclarecidas, ela se envolveu com Epstein no início dos anos 2000, quando estava em Nova York. O namoro passou para uma amizade e cumplicidade ímpares. Mesmo sem estarem romanticamente envolvidos, ela era conhecida como a “dona da casa e agenda” do milionário. Citada nos depoimentos das vítimas como sempre presente nos abusos, ela conspirou com Jeffrey Epstein por mais de uma década para realizar o tráfico sexual pelo qual foi condenada.

Antes de aparecer morto, supostamente por suicídio, Epstein fez de tudo para proteger Ghislaine. Seu acordo com a Justiça a isentava de culpa e por isso ela não fugiu depois de ser preso, em 2019, permanecendo nos Estados Unidos, mas praticamente escondida. Sua localização e prisão em julho de 2020 foram cinematográficas.

Ghislaine alega total inocência de todas as acusações e acredita nisso. Uma armadilha perigosa por empatia. Muitas mulheres aprenderam a sobreviver à opressão machista cedendo ao que os homens queriam, mas ela foi além. Seu papel no esquema era de selecionar, abordar e trazer jovens menores de idade para o Epstein e amigos. Na ótica nociva dos dois, eles acreditavam que os abusos na verdade eram ” oportunidades”, onde as jovens de origem simples (ela chamava de “lixo”) viajavam o mundo, conheciam homens poderosos e ricos em uma troca consensual. Não. Era abuso.

Em sua defesa, Ghislaine diz ter sofrido em sua infância, ficando vulnerável e sendo manipulada por Epstein. Como seus advogados argumentaram, “Epstein era o cérebro, Epstein era o principal agressor e Epstein orquestrou os crimes para sua gratificação pessoal. ”



Gratificação pessoal. Um argumento de duas pontas. Como adulta, Ghislaine fez suas escolhas e todas foram erradas, justamente porque aceitou participar e usufruir de luxos e viagens proporcionadas pelo ex-namorado em troca de ajudá-lo a ter sexo com menores de idade. Os advogados podem dizer que ela está pagando o pato sozinha, mas ela participou de tudo e deve responder pelo que fez.

Duas décadas atrás das grades é uma sentença severa, mas, para alguns, “curta”. A equipe de advogados de defesa ainda vai recorrer, mas se a condenação for mantida, ela poderá sair antes, por causa do tempo potencialmente deduzido por bom comportamento e crédito pelos dois anos que já está cumprindo.

Na audiência em que ouviu sua sentença, Ghislaine ficou calada e não demonstrou reação. Ela se dirigiu às sobreviventes lamentando os traumas e dores causados, mas sua declaração não foi vista nem como admissão ou pedido de desculpas. Ghislaine, na verdade, adotou o discurso de vitimização, se isentando de todos os crimes cometidos.

A Sra. Maxwell foi namorada de Epstein e companheira de longa data. Ela havia voado com ele em seus aviões e morava em suas mansões em Manhattan e Palm Beach, Flórida, onde era conhecida como a “Dama da Casa”.

Mesmo na morte, Epstein pairava sobre o julgamento de Maxwell – seu nome veio à tona repetidamente e os advogados de Maxwell aproveitaram todas as oportunidades para separar seu cliente dele.

No total, foram 24 testemunhas acusando a empresária de estar presente nos abusos e até ocasionalmente participar deles. As vítimas eram menores de idade na época. Por isso foi condenada por conspiração para atrair menores para praticar atos sexuais ilegais, conspiração para transportar menores com intenção de se envolver em atividades sexuais criminosas , transporte de menor com intenção de se envolver em atividade sexual criminosa, conspiração para cometer tráfico sexual de menores e tráfico sexual de menor.

Depois de que o Príncipe Andrew comprou sua liberdade, pagando uma indenização para garantir o silêncio de sua utilização no esquema de Epstein, assim como o suicídio do sócio de Epstein na agência francesa de modelos, Jean-Luc Brunel, é um alívio ouvir que a coragem das sobreviventes de virem à público teve uma resposta oficial. É improvável que a sentença seja alterada. Ghislaine Maxwell vai passar muitos anos bem longe do universo social do qual fez parte, mas em um local conveniente para quem fez suas escolhas.

Minimamente há uma ironia karmicana conclusão da história. Ghislaine Maxwell passou mais de uma década fazendo tudo para Jeffrey Epstein. Uma vez que ele preferiu não passar pela Justiça, ela responde pelos dois. Como sempre fez.

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