Eu tenho enorme dificuldade de escolher que foto de Marilyn Monroe eu gosto mais. Em geral, os ensaios em que estava à vontade, com menos produção, são os que eu tenho tendência em escolher. Curiosamente, discordo da escolha da própria Marilyn, que elegeu a foto de 1956, tirada no Hotel Ambassador, em Nova York, por Cecil Beaton, como sua preferida. Está em exposição no National Portrait Museum, em Londres e ficava na parede de sua casa, quando estava casada com Arthur Miller.


Cecil Beaton já era um dos fotógrafos mais famosos da época e Marilyn a estrela mais disputada entre os melhores. Era uma junção quase necessária. Se sofria em frente das câmeras de filmagem, era completamente confortável com ensaios fotográficos. Não é por nada que Marilyn era unanimamente a preferida dos melhores. Ela sabia como poucos, ficar à vontade e criar momentos, eternizando sua imagem que até hoje mantém o encanto.


Além das imagens, biógrafos gostam da análise que Beaton fez da estrela, pois ele também se “apaixonou” por ela, mesmo tendo ficado mais de uma hora esperando por ela e irritado inicialmente com a falta de profissionalismo. A partir do momento que ela entrou no quarto, todos se derreteram com ela.
Especialista em imagem, ele estava ciente de que os papéis de Marilyn exploravam inocência e o rótulo de “loira burra”, mas de bom coração e espirituosa. Ele tinha dúvidas se era algo fabricado, mas deparou com algo bem mais complexo. Sua conclusão? Marilyn Monroe era um gênio.
“A verdadeira maravilha está no paradoxo – de alguma forma sabemos que essa performance extraordinária é pura farsa, uma caricatura jovem de Mae West“, ele disse, acrescentando que foi “seu próprio gênio estranho que [tinha] sustentado seu vôo”. Em outras palavras, Marilyn era o que vendia e tinha consciência do que era vendido. Gênio.
A descrição foi considerada a mais apurada e até o diretor Joshua Logan, que trabalhou com ela em seguida, no filme Nunca Fui Santa (Bus Stop), a presenteou com um tríptico com a foto (abaixo) e duas páginas escritas à mão por Beaton com sua análise sobre ela, como a que a considerava como uma das musas do pintor fancês Jean-Baptiste Greuze, do século 18, mas circulando em um mundo contemporâneo.
Outra surpresa que Cecil Beaton ressaltou foi a habilidade de transformação da atriz, de proporcionar ao fotógrafo milhares de “versões dela mesma”, “sem inibição, insegurança e com uma vulnerabilidade verdadeira”, e, mesmo com uma beleza “incandescente” apresentava uma liberdade igualmente paradoxal de não se importar com as roupas ou cabelo. Bora resumir? Autentica e linda.
A experiência no Ambassador foi tão marcante para a atriz que até o fim de sua vida andava com algumas cópias das fotos para autografar para fãs. Em especial, a foto em que segura uma única flor, era sua favorita entre todas.

Segundo dizem, a foto acima foi puro improviso. Marilyn tinha usado a flor para imitar um cigarro e depois a colocado sobre o peito, a protegendo e acariciando como um presente.
Beacon encerrou sua descrição comparando Marilyn Monroe à Ondine: “Ela tem apenas 15 anos de vida, mas nunca vai morrer”.
Infelizmente, Marilyn morreu apenas 6 anos após essas fotos. Sua lenda, no entanto, se mantém viva, mesmo 60 anos depois.
