Em 12 de agosto de 2022 completam 2.050 anos da morte de Cleópatra, aos 39 anos. Relatada oficialmente como suicídio, a Rainha governou o Egito por 21 anos, mas sua lenda desafia ainda o tempo, ultrapassando os dois mil anos de mistério.
Historiadores divergem até hoje sobre sua aparência, sua habilidade e participação em eventos políticos egípcios ou romanos, com o cinema , a literatura, teatro e artes plásticas embolado nesse meio e contribuindo frequentemente para desinformação. A começar que houve mais de uma Cleópatra na dinastia Ptomolaica, da qual a rainha fez parte. A que nos elude em curiosidade é a sétima de sua linhagem (e última).
Cleópatra VII, portanto, foi uma astuta monarca egípcia, nascida já sobre o controle romano e que governou o Egito por 21 anos, gerações antes do nascimento de Cristo. Sua família, os Ptolomeus, eram de origem grega macedônia, que se autodenominaram Faraós e que se mantiveram no poder por 10 gerações.
Subiu ao trono ao lado do marido-irmão (que odiava), que tinha apenas 10 anos e por todos os relatos era realmente detestável. É preciso ressaltar que os Ptolomeus se casavam entre si para manter a linhagem “pura” ( o que inspirou George R. R. Martin para desenhar os Targaryens em House of the Dragon e Game of Thrones). Mais velha e melhor preparada que o marido, Cleópatra logo entrou em conflito com ele, o que piorava o cenário ema região instável e de grande importância para o Império Romano. Ninguém disputa que longe iam os anos de glória dos faraós e, em especial, do império ptolomaico .

Na briga pelo poder, a rainha a princípio levou a pior e precisou se exilar no deserto. Nesse meio tempo, seu irmão mandou matar e decapitar o general Pompeu, o Grande, que estava em rota de colisão com Júlio César e tinha fugido para o Egito. César poderia estar brigando com Pompeu, mas um general romano ser assassinado por estrangeiros era inadmissível portanto foi pessoalmente à Alexandria lidar com a questão. Ao se hospedar no antigo palácio da rainha fugida, criou a oportunidade de volta que ela esperava. Como lembra a lenda, chegou escondida enrolada em um tapete (ou dentro de um saco). Seja como for, voltou e logo se aliou ao imperador romano, que se encantou com sua beleza, juventude e sagacidade. A ligação era tão forte que em poucos meses a Rainha ficou grávida. Júlio César a restaurou como única comandante no Egito (sob controle romano, claro). Isso fez de Cleópatra VII, uma das primeiras mulheres na História a governar com (relativa) autonomia um império.
Com apenas 18 anos, praticamente toda a costa leste do Mediterrâneo estava sob seu poder, o último grande reino de qualquer governante egípcio.


Seus retratos de moedas que circulavam enquanto ela ainda vivia são as únicas imagens consideradas autênticas porque teriam sido aprovadas por ela. O que não ajuda 100% na briga sobre a verdadeira aparência e cor de sua pele, assunto delicado ainda em 2022. O que não há dúvida era de sua perspicácia política. Sob seu comando direto foram construída uma frota de navios, lidou com a peste, a fome de seus súditos, reprimiu uma insurreição, controlou uma moeda e os corações dos dois mais importantes homens de Roma: Júlio César e depois, Marco Antônio.
Rica, famosa, poderosa, implacável e sedutora, teve o destino do mundo ocidental em suas mãos. Se manteve Rainha por 18 anos depois de subir ao trono sozinha e lidava com a insegurança política piorada por conta de seu gênero. Jogou para dois eleitorados para se garantir, tanto o da elite grega, quanto a dos egípcios nativos, que a viam como uma Deusa, comparada a Ísis (uma das divindades mais populares da época).
Se era adorada no Egito, era vista como vilã em Roma, que colaborou para que sua imagem de sedutora e calculista entrasse para os relatos oficiais da história e que são usados como base até hoje. Afinal, os dois generais mais respeitados se apaixonaram por ela, sendo que Marco Antônio abandonou tudo para se unir a ela, em pleno período de guerras civis romanas. Eventualmente, Otaviano, filho adotivo de César, e Marco Antônio, protegido de César, acabaram se colocando de lados opostos e Cleópatra era um dos pontos de conflito. Otaviano a detestava.
O fim da vida da rainha egípcia e seu governo nasceu da ambição de Otaviano de ser o único imperador em Roma, esbarrando com o triunvirato e a popularidade de Marco Antônio. Não ajudou em nada que o general tenha deixado a irmã de Otaviano, com quem era casado, para se unir a Cleópatra, com quem veio a ter três filhos. Juntos, planejaram liderar um império romano oriental, dando a Otaviano a causa que precisava para realizar seu plano pessoal.
Ao declarar guerra à Cleópatra, no fim de 30 a.C., Otaviano sabia que Marco Antônio não abandonaria a rainha egípcia, abalando sua imagem em Roma. Marco Antônio liderou as batalhas, mas, em Actium, perdeu o embate, fugindo com sua rainha para Alexandria. As tropas perderam. a confiança no lendário general, desertando e o deixando para uma humilhante derrota para Otaviano.

Isolados e traídos, Cleópatra e Marco Antônio ficaram sem muitas opções, sendo que alguns biógrafos sugerem que a rainha entendeu tardiamente que estava sozinha para tentar salvar seu reino e seus filhos, por quem tentou negociar uma proteção e ter garantias. Adversários tentaram colocar o casal em rota de colisão, sem sucesso.
Em 1º de agosto de 31 a.C., a frota naval de Marco Antônio rendeu-se a Otaviano, seguida pela cavalaria. Com a clara derrota e antecipando uma execução e humilhação públicas, Cleópatra se escondeu em sua tumba com suas escravizadas. Por alguma razão, enviou uma mensagem ao amante que havia cometido suicídio o que o levou a seguir o exemplo, esfaqueando-se no estômago e tirando a própria vida aos 53 anos. Mas ela ainda estava viva e foi impedida de se matar colocando fogo no esconderijo, repleto de seus tesouros. Presa, recebeu a autorização de embalsamar e enterrar Marco Antônio dentro de sua tumba antes de ser escoltada para uma audiência com Otaviano.
Diante do inimigo, Cleópatra declarou em grego: “Eu não serei exibida em triunfo”, tendo a garantia de que seria mantida viva, mas quando soube que seria levada para Roma tomou para si a responsabilidade de tirar sua própria vida. Historiadores divergem se ela morreu no dia 10 ou 12 de agosto, e se o suicídio ocorreu dentro do palácio ou em sua tumba. Suas servas também tiraram suas próprias vidas. Outra polêmica é a causa de sua morte. A lenda diz que permitiu que uma víbora a picasse e a envenenasse. Nenhuma cobra venenosa foi encontrada, mas como havia pequenas perfurações em seu braço, nasceu a lenda, embora há quem defenda que tenha injetado o veneno com uma agulha.

Otaviano ficou frustrado com a impossibilidade de expor Cleópatra, mas feliz de se livrar de uma inimiga. A enterrou à moda real ao lado de Antônio em seu túmulo. Sua morte é o fim do marco do que chamam helenístico. Otaviano passou a ser o único imperador de Roma, na, época, do mundo.
No cinema, bem típico da versão machista que manchou seu legado, o nome de Cleópatra ficou associado ao de vamp, compulsiva sexual, intempestiva, manipuladora e aproveitadora. Mais de 2 mil anos de difamação.
Nas telas foi interpretada por vários ícones da beleza, mas sempre atrizes brancas. A mais famosa, claro, é de Elizabeth Taylor, por muito tempo o filme mais caro de todos os tempos. Há dois projetos em andamento, um que já teve Angelina Jolie associada, mas não mais. Essa é a de Scott Rubin e a ser dirigida por Dennis Villeneuve. Aoutra, mais discutida, é a que está em fase de pré-produção, dirigida por Kari Skogland e que trará Gal Gadot como a rainha do Nilo. Já temos a imagem oficial. Aprovamos?

