O mundo se dividiu em duas categorias: quem acompanhou Game of Thrones e quem não, e nem quer chegar perto. Há subgrupos dentro dessas duas categorias, mas basicamente hoje eles lideram redes sociais e até dividem amigos e familiares. Está tudo bem se você fizer parte do segundo time, porque nada mais natural quando algo vira unanimidade e febre de ter um pé atrás. Afinal, fantasia não é mesmo um gênero para todos. Mas, se me permitir, vou conversar sobre as duas visões, defendendo ambas, para falar da massiva campanha de divulgação para o lançamento de House of the Dragon, que está num grau tão elevado que vale reflexão.

Não vi e não gostei.
Tentei e não gostei.
Não vi nada demais.
A franquia da série Game of Thrones já era um mega sucesso na literatura antes de chegar à HBO e mesmo assim foi uma aposta incerta. Isso porque Pillars of the Earth tinha fracassado alguns anos antes , o elenco só tinha o ator Sean Bean com alguma proeminência internacional, sendo mais lembrado por ter participado de outro fenômeno pop, a trilogia O Senhor dos Anéis. No mais, rostos e nomes desconhecidos, como Emilia Clarke e Kit Harington, praticamente fazendo suas estreias como atores (Kit já vinha de sucessos no teatro). Em 10 anos, todos os desconhecidos passaram a ser as maiores estrelas do entretenimento, com outras franquias de filmes que incluem desde X Men a Star Wars. Você pode não ter visto a série, mas conhece as estrelas delas, sem dúvida.
Embora tenha sido sucesso nas duas primeiras temporadas, razoavelmente fieis aos livros, foi ao final da terceira que Game of Thrones virou um fenômeno pop cultural, quebrando as barreiras de todas as “verdades” que regravam a indústria.
Conteúdo nichado não vende?
GOT vendia como água as assinaturas da HBO.
Violência é rejeitada? As cenas mais sangrentas são as mais lembradas até hoje.
Imprevisível, “ninguém está seguro”?
A série não foi a primeira a usar essa estratégia, mas levou a questão a outro grau.
Fotografia impecável, trilha sonora marcante?
Inegáveis.



Muitos listam vários fatos que impulsionaram a marca a virar essa febre internacional, mas foi a sacada da HBO de fazer exibição mundial simultânea que transformou Game of Thrones em um evento semanal, com a mesma paixão dos amantes de futebol. Mesas redondas, twitters e Reddit reúnem até hoje pessoas ao redor do planeta que discutem teorias, opiniões e compartilham informações em um universo próprio. Nenhuma necessidade de binge, que a Netflix tanto propagava. Todo domingo à noite era o suficiente para render toda uma semana discutindo a série e mantendo a marca viva. A razão pela qual Game of Thrones virou essa febre tão maior que as outras (e alguns argumentam, melhores)? Química. Engajou o público com atuações premiadas de Peter Dinklage e o elenco, num domínio tão absoluto que era apenas sentar e aplaudir.
Claro que é possível não ver e não gostar de Game of Thrones. Igualmente ter visto e não identificado os valores compartilhados por bilhões. A única coisa que não dá é ignorar sua força.
Quando se compara GOT aos sucessos de Arquivo X ou Lost, poderia até sustentar a diferença das redes sociais como alavanca, mas Breaking Bad e The Walking Dead não chegaram perto do sucesso da série da HBO e são contemporâneas. Mesmo com todo prestígio que a HBO já tinha, nada em seus 50 anos de existência teve o mesmo alcance e estamos falando da plataforma de conteúdos que mudaram a televisão, como A Família Soprano e Sex and the City, para citar apenas dois títulos mais recentes.



Você pode não gostar, não ter visto e não entender o sucesso, mas é icônico. E incômodo para quem não curte. O intervalo de alguns anos não reduziu a procura ou a discussão em torno da série, por isso a ultra agressiva campanha pelo spin off House of the Dragon beira a histeria. Apostando nos elementos que funcionaram antes, é a volta da exploração comercial ultra bem sucedida. A má notícia? Vai ficar no ar pelo menos por mais uns quatro anos…
Febre mundial e torcida apaixonada
Para os fãs de fantasia, Game of Thrones é Disneylandia. As obras clássicas de J. R. R. Tolkien – O Hobbit e O Senhor dos Anéis – também mudaram a maneira que obras complexas eram produzidas e distribuídas no cinema, a começar por manter o elenco comprometido contratualmente para todos os filmes, gravá-los numa tacada, mas lançá-los anualmente. Sem mencionar a tecnologia inovadora, o respeito pelo texto original. Espelhar um planejamento semelhante para GOT funcionou, assim como as fases divididas da Marvel também são o guia para a segunda etapa, começando com House of the Dragon. É saber explorar uma marca que atende à fãs de diferentes idades, gêneros e que adoram poder estar sempre com algo novo no horizonte.
George R. R. Martin usou Tolkien como guia, a História medieval britânica como inspiração e com isso criou um mundo que poderia ser o nosso. Essa fantasia com pé na realidade – algo paradoxal – é também um dos chames da franquia.
Faço parte do grupo apaixonado, não preciso me estender nos argumentos para justificar minha fascinação por essa saga bem amarrada (nos livros). House of the Dragon já é um sucesso antes mesmo de estrear.

Unindo polos opostos
Dito tudo isso, compartilho do cansaço dos que nem curtem de ter que lidar com tanta pressão e hype em torno de House of the Dragon. Está mesmo exagerado. Mas, se quiser conferir, há boas coisas.
1) A saga da família Targaryen, diferentemente de Game of Thrones, já está praticamente toda escrita, salvando a nova série do destino polêmico de sua antecessora, cujo final é duramente rejeitado ainda hoje e que não tinha mais os livros para se basear.
2) Como a trama se passa ANTES de Game of Thrones, se não tiver visto, não fará diferença. Funciona de forma completamente independente.
3) Se tiver visto, vai adorar as referências.
4) Os showrunners são os que fizeram os melhores episódios de Game of Thrones, por isso é qualidade e continuidade garantida.
5) O investimento de produção equipara às produções de filmes para o cinema. Não será nada tosco.
Mas, se mesmo com tudo isso ainda tiver antipatia pela paixão exagerada dos fãs, também tudo certo. Os Anéis do Poder (a prequel de O Senhor dos Anéis e O Hobbit) vem em seguida. Não falta conteúdo!
Curto muito seus textos.
Muito legal.
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Obrigada!!!!
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