Os australianos Nicholas Denton e Alice Englert têm um senhor desafio diante deles em Ligações Perigosas. Além de lendas que deram vidas à Marquesa de Merteiul e o Visconde de Valmont nos palcos, as interpretações de John Malkovich e Glenn Close no cinema é a definição de icônica. Poucos encarariam o teste com tanta firmeza como os dois.

“É como se eles tivessem sapatos enormes para preencher”, reconheceu Nicholas em entrevista à PEOPLE. “Mas acho que queria colocar minha própria carne naqueles ossos que já foram feitos quando o livro foi escrito. Esses personagens são superpotentes e tão fortes de se ler. Embora eu tenha tentado colocar minha própria versão, sempre há esse tipo de peça central que mantém Valmont.”
A série, que reconta a juventude das personagens lendárias, dá liberdade criativa à dupla. Levou quase 10 anos para chegar na versão atual, com um primeiro roteiro de Christopher Hampton (autor do filme de Stephen Frears e da peça teatral) até chegar às mãos de Harriet Warner. Foi ela que encontrou em umas das cartas do livro original a sugestão de que a marquesa não tinha origem nobre, mas conquistado sua posição.


Substituir Glenn Close coube à Alice, filha da prestigiada e premiada diretora Jane Campion, mas a atuação de Malkovich no papel é uma das mais poderosas da história do cinema e foi depois de muitos testes, no início de 2020, que Nicholas superou os 200 outros candidatos. Ele diz que tentou ao máximo se afastar da maior referência no papel para criar algo original. Nicholas alega “nunca ter visto” o filme de 1988, mas que é “um grande fã de John Malkovich“, explicando à Entertainment Weekly que, “se assistisse ao filme, teria apenas copiado John Malkovich.” Quem vê a série entende que Nicholas captou perfeitamente a energia do ator americano e é um dos pontos altos da nova versão.


Já Alice, seguir os passos de Glenn Close foi um sonho adolescente realizado. “Lembro-me de sentir esse tipo de arrepio no corpo com a performance dela”, lembrou do filme Ligações Perigosas. “A ideia de que o orgulho e o amor eram incompatíveis parecia tão verdadeira. O jogo provoca essa ideia de que um dia você vencerá, mas sempre será uma espécie de prisioneiro disso, não importa o que aconteça. Eu apenas pensei que era cruel e vulnerável e eu amo isto.”


Saído do teatro, John Malkovich já tinha sido indicado ao Oscar quando surpreendeu a todos sendo escolhido para o papel do sedutor Valmont. Sua atuação o transformou em sex symbol e é tão perfeita que é uma das maiores injustiças da Academia de nem o ter indicado a Melhor Ator.
“Concordo com Tennessee Williams que a única coisa imperdoável no mundo é a crueldade deliberada. É completamente imperdoável. Portanto, não posso dizer que me identifico com Valmont nesse nível, porque quando você está interpretando qualquer papel, obtém algum tipo de prazer vicário, seja um prazer vicário por amor ou luxúria ou sexo ou culpa ou tragédia ou humor. Ou simplesmente atenção”, o ator explicou na época. “O que Valmont descobre no decorrer da história e o que causa sua destruição, pois vai contra seus sentimentos, pensamentos e autoimagem, é que ele não só é capaz de inspirar amor e paixão verdadeiros em alguém e de destruí-lo de verdade, mas ele é capaz de sentir amor e pode ser digno de senti-lo. Isso é o que o destrói. Ele não pode viver com isso porque vai contra tudo o que ele já pensou sobre si mesmo”, contextualizou.
E com Nicholas, veremos Valmont chegar lá.

