O adeus à Barbara Walters

Para jornalistas mulheres, Barbara Walters sempre foi uma das maiores referências globais. Seu jeito de falar, baixinho, mas direto ao ponto, suas entrevistas bombásticas com famosos e polêmicos, ela foi indubitavelmente uma pioneira, como todos obituários ressaltam. Oprah Winfrey, hoje ainda mais conhecida do que Barbara, afirmou que “não teria Oprah sem Barbara”. E está certa (como sempre). E nas primeiras horas do último dia de 2022, Barbara Walters faleceu em casa, aos 93 anos. A causa ainda não foi divulgada.

Barbara Walters começou a trabalhar como jornalista quando o meio ainda era dominado por homens, ainda nos anos 1950s. Saiu da universidade direto para a redação da CBS, trabalhando no jornal matutino da emissora. Anos depois mudou para a NBC, onde começou como pesquisadora e editora, mas sendo uma repórter ágil e perspicaz, conseguiu se destacar com histórias cada vez mais relevantes. Foi uma das escolhidas para viajar com a então primeira-dama, Jacqueline Kennedy e ganhando prestígio aos poucos.

Homens a chamavam de “competitiva”, muitos ressaltaram sua rivalidade com Diane Sawyer, outros a definiam como “obstinada” para conseguir as maiores entrevistas. Quem ganhava eram os telespectadores. “Se for mulher, é cáustico; se for um homem, é autoritário. Se for mulher é muito insistente, se for homem é agressivo no melhor sentido da palavra,” comentou sobre as críticas ao seu estilo.

Muitos também reclamavam que ela “confundia” a linha entre jornalismo e entretenimento, sempre descobrindo o ponto vulnerável de um entrevistado para fazê-lo chorar e também por expressar suas opiniões pessoais, como fez com Monica Lewinsky, em 1999.

Do dia que entrou para o jornalismo até fazer história ao ser a primeira mulher a apresentar o jornal matutino Today, Barbara levou 20 anos. Logo depois, quebrou outro tabu ao assinar um contrato de 1 milhão de dólares com a ABC para co-apresentar o The Evening News, virando a primeira mulher a apresentar um noticiário noturno em uma grande rede e de quebra, a jornalista de TV mais bem paga da época. Mudou para o prestigiado programa 20/20 poucos anos depois, onde passou a ser uma das apresentadoras e ali foi onde fez mais história com uma série de entrevistas exclusivas, fossem celebridades, políticos ou até criminosos. Entrevistou todos os Presidentes americanos desde Richard Nixon (menos Donald Trump, como jornais americanos lembram, que falou com ela antes de ser eleito) e estar diante de Barbara Walters era a confirmação de que aquela história era importante.

Depois de 25 anos, ela deixou o 20/20 e criou o The View, uma mesa redonda feminina onde mulheres de diferentes idades e formações discutem todos os tipos de assunto. Ficou no programa até se aposentar, em 2014. Na época, disse que estava satisfeita com todas vitórias que já tinha conquistado.

Barbara Walters era uma referência na cultura pop americana, sendo parodiada por comediantes e nem sempre elogiada por colegas. Mas era indiscutivelmente única. Faleceu em casa, cercada de sua família que, parafraseando Edith Piaf, disse em nota que a jornalista viveu sem arrependimentos. Ela é uma da principais referências femininas do século 20 e em especial, para jornalistas que sonharam com contar histórias e conversar com pessoas interessantes. Não há obstáculos para talentos verdadeiros. R.I.P. Barbara Walters.

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