O sucesso da série Ginny e Georgia está em parte na fórmula folhetinesca que é mais usual nas novelas, um formato bem explorado na Turquia e na América Latina. Condensada em 10 episódios, pode ficar excessivamente dramática. Mas é igualmente viciante.


Críticos já tinham ressaltado a aberta referência a Gilmore Girls, mas definitivamente acrescentou Big Little Lies também. O elemento “criminoso” que foi a surpresa da primeira temporada rege as crises e escolhas na segunda, mas nem sempre nos faz conectar com Georgia (Brianne Howey). Se os crimes anteriores eram motivados por seu amor aos filhos, agora fica no ar a razão de suas novas decisões. E com razão, quando a temporada chega ao fim ficamos buscando o próximo episódio. O que piora quando a Netflix ainda não confirmou a continuação.
Os temas da temporada são pesados: autolesão não suicida (ALNS), depressão, alcoolismo, abuso sexual, racismo, homofobia, eutanásia e até assassinato. Juro, é preocupante assistir ao lado de adolescentes porque assusta. O contexto é duro, realista e embora a série se preocupe em explicar e seja transparente, é preciso desse alerta. A atuação de Antonia Gentry é emocionante e nos convence como uma adolescente que sofre estresse e dores na alma que estão além de seu alcance imediato resolver, especialmente por conta da forma que foi criada com uma mãe apenas 15 anos mais velha do que ela. Ela alterna o narcisismo juvenil com a fragilidade de crianças-ainda-não-adultas perfeitamente, nos deixando com raiva e pena de Ginny.
Mais do que Antonia, no entanto, é Brianne Howey que tem um trabalho mais complicado. Georgia é uma sociopata simpática, uma mulher complicada e que atrás da aparência de “louquinha” tem planos e estratégias que nos surpreende a cada episódio. Seu monólogo no qual “justifica” ter matado o ex-marido que estava abusando de sua filha é assustador e emocionante, uma performance que merece todos os elogios.
Porém, o ritmo novelesco de Ginny & Georgia, agora que está centrado em crimes, demanda com muita frequência que não nos apeguemos a detalhes ou até mesmo, lógica. No fundo, vemos uma mãe (Georgia) que faz literalmente qualquer coisa – justificando que é para os filhos – mas na verdade quer escapar do trauma de uma infância e adolescência abusivas. Enquanto isso os filhos lidam com as repercussões distorcidas de suas ações. A segunda temporada é superior à primeira por ousar mais, mas não é perfeita. E pior… será que saberemos o que mais pode acontecer?

