
Para estrangeiros pode ser curioso como a cultura americana enaltece os pistoleiros e cowboys do passado. “Lendas” como Butch Cassidy, Sundance Kid, Jesse James e Billy the Kid têm tratamento de heróis mal compreendidos, de jovens ídolos corajosos, mesmo que fossem assassinos violentos e milicianos. Para brasileiros, especialmente para cariocas, que ainda convive com absurdos de faroeste mesmo no século 21, há algo problemático em enaltecer criminosos, mas como consumidora de Westerns, a categoria criada por Hollywood para explorar o tema, conheço suas histórias e aprecio o conteúdo. Em outras palavras, esse disclaimer de abertura é para admitir os paradoxos do post abaixo.


Entre as várias lendas do faroeste, a breve e trágica história de William H. Bonney, ou Billy the Kid, é uma das mais populares. Em uma pesquisa superficial sobre ele, vemos que são mais de 50 filmes onde aparece como personagem ou tema da trama, de 1911 até hoje, com a série Billy The Kid, atualmente disponível na Paramount Plus. Assinada pelo respeitado Michael Hirst, a série se propõe em nos apresentar uma versão mais humana do criminoso morto em 1811, aos 22 anos.
Depois de explorar o universo dos Tudors e dos Vikings, ver o olhar do showrunner sobre o velho oeste é minimamente curioso. Está fora de seu cenário de conforto, em outro país, em um universo tão árido quanto o dos vikings. Assim como aconteceu com Ragnar Lothbrok, vemos que Billy é uma personagem que claramente agrada Michael Hirst, um herói de potencial íntegro, mas sem alternativa de vida. A primeira temporada explora uma boa parte do qual há poucas informações concretas do pistoleiro, incluindo como sua família decidiu arriscar tudo no sonho de fortuna no oeste depois de viver na pobreza em Nova York, as perdas (tio, pai, irmão, dinheiro, mãe) e como um esperançoso Billy virou o temido fora-da-lei.
A fotografia e a trilha sonora são primorosas, mas é uma leitura parcial sobre ele. Como seus defensores alegam, boa parte de seus crimes foram em auto-defesa e a cultura anárquica, caótica e corrupta do Velho Oeste são angustiantes.


Para os conhecedores de Western, há um desfile de nomes de pistoleiros famosos, incluindo Alias, Jesse Evans e Pat Garret. As histórias são tão absurdas que é difícil lembrar que não é ficção. Quem curte Yellowstone percebe que a maldade da conquista de território ficou entranhada nos estados americanos fundados na época.
O britânico Tom Blyth, que faz uma ponta em The Gilded Age como o interesse romântico de Gladys Russell, Archie Baldwin, esteve em algumas produções menores e faz sua estréia como protagonista. Sem o carisma nato de um Travis Fimmell, que fez de Ragnar um ídolo internacional em Vikings, Tom não compromete. Até porque Billy não é um homem emotivo e seu ar soturno traz uma aura de mistério necessária para a construção da lenda. Resta então ao australiano Daniel Webbs – que conhecemos como Vince Neill em The Dirt – a roubar a cena como o inseguro e invejoso Jesse Evans. Outro britânico, Alex Roe, entra mais no final como Pat Garrett, sem grandes demandas ainda.


Com a “reimaginação” das motivações de Billy the Kid como criminoso, vimos na primeira temporada o envolvimento do pistoleiro na Guerra do Condado de Lincoln, no Novo México, que será fatal para sua existência e onde se torna – involuntariamente – um dos homens mais procurados do Velho Oeste. A segunda temporada, confirmada agora no início de 2023, vai explorar como Billy e Jesse se transformam em inimigos tanto no trabalho como no amor. Pelo que já entregaram, será interessante.