Como publicado no Correio do Estado
Dizem que 1993 foi “o ano do filme família”, com vários mega sucessos de bilheteria como Star Wars – O Retorno do Jedi, Esqueceram de Mim, Jurassic Park, Free Willy, para citar alguns. No meio desses blockbusters, veio uma pérola que apostava na leveza de sua história para conquistar o público: O Feitiço do Tempo. A comédia na qual um jornalista do tempo fica literalmente preso no mesmo dia é, até hoje, 30 anos depois, um dos mais queridos de Hollywood. Quem não lembra e ama esse filme?
Pois no original, Groundhog Day é a referência ao que nos Estados Unidos chamam de “o dia da marmota”. Em Punxsutawney, uma pequena cidade da Pensilvânia, em todo dia 2 de fevereiro, se mantém a tradição de observar a marmota. Se o animal sair da toca por causa do tempo nublado, o inverno terminará cedo. Já se o dia estiver ensolarado e o animal se assustar com a própria sombra, voltando para a toca, o frio continuará por mais seis semanas.


O filme entrou em cartaz no dia 4 de fevereiro, estrelado por Bill Murray e Andie McDowell, e fez mais de 100 milhões de dólares com os ingressos. A comédia romântica gira em torno de uma metáfora simples e divertida: até mudarmos como somos, passaremos pelos mesmos problemas. No caso do repórter do tempo Phil Connors (Bill Murray) sua arrogância e atitudes intratáveis com as pessoas em geral. Phil está frustrado com a sua carreira, ainda mais irritado que tem que fazer a cobertura do evento que considera estúpido e faz tudo com má vontade, maltratando a todos. Quando uma nevasca isola a equipe em Punxsutawney, Phil acorda no dia seguinte com a mesma música do dia anterior tocando no rádio, I Got You Babe, de Sonny e Cher, e aos poucos percebe que “está preso” no dia que mais odeia. Não importa o que faça, literalmente, sempre acaba no mesmo lugar. Gradualmente percebe que para sair do loop, precisa mudar de personalidade, não antes de abusar do fato que não há consequências para suas ações e por isso se entrega a compulsão alimentar, encontros de uma noite, assalto e manipulação. A única imune às suas ações é sua produtora Rita (Andie MacDowell), que ele queria conquistar por diversão, mas por quem se apaixona de verdade.
Tom Hanks era o ator original do elenco, mas o diretor Harold Ramis achava que ele jamais enganaria a plateia de que não viraria um cara legal (e ele mesmo, já querendo fazer a mudança de carreira que viria com o Oscar por Philadelphia, não topou fazer O Feitiço do Tempo). Harold, que era amigo e companheiro de Bill Murray, sabia que ele era o cara certo para interpretar Phil. Os dois brigaram muito nos bastidores, tudo que sempre vira lenda quando se fala de um clássico. No caso, era sobre o roteiro que foi indicado ao Oscar.


Em 2020, Danny Rubin, autor da história original e do filme, falou comigo em um e-mail que queria deixar de dar entrevistas sobre seu trabalho na produção pois era como ele estivesse ainda preso naquele tempo – e rimos por isso. Justo, não? Mas ele ama o fato de que 30 anos depois as pessoas ainda reajam com a mesma paixão pela história. Curiosamente, ele teve a ideia para O Feitiço do Tempo quando estava vendo A Entrevista do Vampiro e pensou como seria lidar com a imortalidade. Será que teria tédio? Será que sempre seria divertido? Como seria para amadurecer e virar uma pessoa melhor? Para baratear os custos de uma história que ficaria cara se ultrapassasse séculos, pensou no conceito de uma pessoa que acorda todos os dias para repetir a mesma rotina. A comédia e o drama estariam no mesmo problema: a pausa no tempo.
O roteiro levou oito semanas para ficar pronto. A escolha de I Got You Babe tem um motivo simples: o refrão repetido, além de falar de amor, claro. Ao chegar às mãos de Harold Ramis, o conceito ganhou algumas mudanças, como a de ressaltar a espiritualidade e o romance da história e acrescentar mais humor. Bill Murray queria focar nas questões filosóficas e Ramis sabia que tinha que trazer risos para o filme. Seja como for, quando chegou na hora de lançar O Feitiço do Tempo, o ator se recusou a estar na pré-estreia e os dois ficaram sem se falar até 2014, pouco antes do falecimento do diretor.
Considerado um dos maiores clássicos recentes de Hollywood, O Feitiço do Tempo não perdeu seu apelo ou charme. Até hoje é referência popular para tudo que é repetitivo (no melhor sentido, claro!). Em 2016 virou um musical e em 2019, um game. Considerando que em 2023 é seu aniversário de 30 anos e que a marmota previu que o inverno no hemisfério norte será longo, vale o repeteco, concorda? Está disponível para alugar na Amazon Prime Video, na Claro TV Plus e na Apple TV Plus. Eu certamente estarei vendo de novo!
