Shrinking: a terapia no divã

Quem já fez terapia que segue a linha freudiana pode se identificar como em muitos momentos queríamos saber o que o analista está pensando… mas ele se mantém quieto. O princípio da análise não é de intervenção direta, pois o caminho para a mudança está na própria pessoa, que é sutilmente conduzida até compreender onde estão seus gatilhos e como pode ter controle sobre suas emoções e reações. Um sumário de leiga, claro, mas uma visão básica do processo. Em Shrinking, a nova série da Apple TV Plus temos um terapeuta em crise pessoal que chuta o balde e decide “inovar” seu método de tratamento. Algo como um Jerry Maguire, um tratamento ainda mais pessoal com cada um de seus pacientes… Claro que é só o começo de dramas e risos.

A série é dos mesmos atores e criadores de conteúdos populares como Scrubs e Ted Lasso. Isso mesmo, Bill Lawrence de Scrubs e Ted Lasso, assim como Brett Goldstein, que além de roteirista também interpreta Roy Kent em Ted Lasso, são os criadores de Shriking, junto com o ator e estrela da série, Jason Segel. O trio desenvolveu esse conceito simples que depende 100% do carisma de Jason e tem provocado muita discussão com a falta de ética sobre o processo psiquiátrico. Afinal, Jimmy Laird (Jason Segel), é um viúvo que está processando muito mal o luto de perder sua esposa, se afastar de sua filha adolescente e estar desiludido com a profissão que escolheu. Em um rompante vai contra tudo que um bom profissional tem que fazer, se convencendo que alcançará resultados mais eficazes e rápidos. Será mesmo?



Claro que na ficção a sugestão é permitida e traz reviravoltas divertidas, mas está longe de ser inofensiva. Seria uma crítica à linha tradicional da psiquiatria ou apenas uma idéia que não considera as consequências? Até porque, nem mesmo o que mostram como parte da prática de terapia ou mesmo os terapeutas está perto do correto. O princípio é que os profissionais sabem exatamente o que seus pacientes devem fazer, mas, por ética, não dizem. Quem está no divã pensa assim, mas não é bem verdade.

O amigo e chefe de Jimmy, Dr. Phil Rhodes (Harrison Ford) também é adepto de alguns desvios (as sessões com a filha de Jimmy são o exemplo de anti-ética), não o denuncia assim que descobre a infração. Até porquê, acabaria a série se o fizesse, mas os profissionais estão criticando a “liberdade” criativa de Shrinking. Afinal, a restrição opinativa é porque os terapeutas estão em posição de influência sobre seus pacientes, em geral, mais vulneráveis.

Tendo esclarecido o ponto “fraco” da série, vamos ao conteúdo por si só. Shrinking brinca com dois trocadilhos, o de “encolher” assim o “analisar” (em inglês o psiquiatra é chamado de “shrink”), mas não é exatamente original nos seus personagens. Depois de Esquecendo Sarah Marshall, vemos Jason Segel repetindo o conceito de um homem com problemas de seguir em frente com sua vida e Harrison Ford já está pela milésima vez repetindo sua famosa persona mal humorada dos bastidores nas telas. Mas funciona. A gente ri, a gente torce e se envolve. Bem longe da positividade romântica e viciante de Ted Lasso (que está para voltar!!!), mas se depender os três primeiros episódios, pode ser um acerto. Vale conferir!

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