Como o título sugere, o álbum Music for the Masses, de 1987, é um dos mais populares da banda Depeche Mode, contendo alguns de seus maiores sucessos até hoje: Strangelove e a clássica entre os clássicos, Never Let me Down Again. O sexto album do grupo tinha dupla importância pois, quando surgiram na febre eletrônica do anos 1980s, a banda parecia fiel ao seu nome, que alude à brevidade da moda (depeche é rápido em francês e mode, moda), por isso não era exatamente levada à sério com suas músicas dançantes. Como fã alucinada deles, discordei desde o início, mas o som do Depeche Mode certamente mudou quando entramos nos anos 1990s.

Lançado em 28 de setembro de 1987, Music for Masses (em outras palavras, músicas comerciais) solidificou o sucesso da banda no mercado americano, especialmente com um show (gravado) no Rose Bowl, em Pasadena, como ficou registrado no documentário/álbum 101. Eles vinham de uma virada deprê com Black Celebration e seguiram a vertente mais dark de letras, melodias e arranjos que hoje são sua marca registrada. Se ouvirmos bem, tudo que o som do álbum é exclui som comercial, mas, mesmo assim, fez sucesso.

A faixa que abre o álbum é justamente hoje a música que tradicionalmente fecha todos os concertos do Depeche Mode (mais sobre isso abaixo), Never Let Me Down Again, que vem sido usada com brilhantismo na série The Last of Us, encerrando o primeiro e o sexto episódios, marcando perfeitamente a relação entre Ellie e Joel.

Como quase todas as canções do DM, foi escrita por Martin Gore com perfeito encaixo no timbre vocal de Dave Gahan. Na época, a ambiguidade da letra foi amplamente discutida por críticos e fãs. Há uma vertente que acredita que Martin já aludia os problemas de drogas que viriam afligir a carreira de Dave. (We’re Flying high, we’re watching the world pass us by/ Estamos voando alto, estamos vendo o mundo passar por nós, numa alusão da sensação das drogas), e há quem defenda que seja apenas uma viagem de avião como as que têm que fazer em longas turnês. Há também outra teoria que suspeita de uma relação homoafetiva, porque ele canta “Promises me I’m safe as houses, As long as I remember who’s wearing the trousers“/ “Promete que estou seguro como em casa
Desde que eu me lembre de quem está usando as calças”, mas a expressão “who’s wearing the trousers” é (com fundo machista) criada para dizer “quem quem manda” ou domina o assunto, portanto é uma pessoa que está confiando no melhor amigo e ao mesmo tempo deixando claro que também conduz a viagem.

Essa parte da letra também casa na série pois têm horas em que Ellie estará no controle (em breve!) e não é Joel “quem manda”.

Voltando ao Depeche Mode, Music for the Masses marca também o início da maior parceria deles, a que os une ao fotógrafo e diretor Anton Corbijn, que passou a cuidar do visual dos álbuns e vídeos do grupo. Para Never Let Me Down Again, são oito minutos de imagens dos músicos em preto e branco, com uma série de imagens desconexas.

A banda mais tarde citou influências de Led Zeppelin para os riffs da guitarra e até os toques da bateria, mas o refão, melódico, teria nuances da canção Torch, da bana Soft Cell (contemporânea deles). E foi sua versão vivo, eternizada em um show em país (e parte do documentário, 101), que a transformou em hino. Sendo a última música do show, Dave acenou com os braços para plateia de mais de 60 mil pessoas que o imitaram, criando uma imagem arrepiante. Desde então, é uma das assinaturas de todas as apresentações do Depeche Mode.

Desde que o fenômeno The Last of Us foi ao ar, Never Let Me Down Again vem liderando o streaming. Para o showrunner, Craig Mazin é A canção de Ellie e Joel. Alguém duvida?