A assertividade tóxica no drama de Ted Lasso

Ted Lasso (Jason Sudeikis) é um técnico que não se importa com vitórias ou derrotas. Ele avisa isso na primeira temporada, para irritação dos fãs do AFC Richmond, que consideram a resposta como a de uma pessoa sem compromisso com resultados. Ted, como avisa, quer que seus jogadores sejam “melhores pessoas”, uma batalha mais árdua e frequentemente ignorada no Esporte.

Chegamos à terceira temporada onde Ted colecionou grandes vitórias e amargas derrotas, mas nenhuma mais significativa como a de ter transformado Nate Shelley (Nick Mohammed) em um monstro. E agora?

Como brilhantemente a série Ted Lasso vem nos mostrando, a adversidade molda a nossa personalidade de formas mais opostas. Na segunda temporada nós vimos como pais ausentes, autoritários e abusadores psicológicos destruíram a auto-estima e criaram gatilhos em todos: Rebecca com o pai mulherengo, Jaime com o pai bêbado e agressivo, Nate com o pai opressor. E Ted? Com pai depressivo e distante, que tirou a própria vida quase que na frente dele. Isso mesmo, se você ouviu que Ted Lasso é uma série fofa e para cima, preste atenção nas duras e importantes mensagens que estão lá. A terceira e última temporada será sobre redenção, dos monstros e vítimas que são Ted e Nate.

A positividade de Ted, cujas raízes ninguém sabe (querer ajudar quem sofre em silêncio), acelerou a destruição moral de Nate, um homem reprimido e que tem em casa a mensagem de que responder na mesma moeda é a alternativa que gera respeito. Ele foi ‘descoberto’ por Ted, apadrinhado e elevado à posição de respeito, mas Nate queria também carisma e amor, as duas coisas que não estão nele e que abundam em Ted. Para Ted é fácil “ser ele mesmo”, falar o que pensa e manter uma autenticidade que o faz ser adorado apesar das falhas básicas profissionais. Em três anos só aprendeu as regras com o jogo da FIFA? Claro que não. Ted OUVE as pessoas, esse segredo é o que ainda não descobriram ou não querem adotar. Na coletiva ele conhece cada um dos repórteres que poderiam estar ali apenas para atacá-lo, ele não se importa desde que eles estejam bem. Sim, ele consegue inventar o “altruísmo tóxico”.

Reencontramos nosso técnico ainda sofrendo o fim do casamento, com a distância que seu trabalho impôs de seu filho. Nate, que é seu espelho do mal, plantou a dúvida no final da temporada ao questionar o que Ted está fazendo ao “fugir” de onde deveria estar: nos Estados Unidos enfrentando suas derrotas pessoais. Em seu lugar, ele está em Londres “salvando” pessoas que não são sua responsabilidade.

Questionamentos são a tônica da abertura do episódio, alinhado com o teaser da temporada que usou You Can’t Always Get What You Want, dos Rollings Stones. Em tese, todos alcançaram seus objetivos, mas estão vazios. Rebecca Welton (Hannah Waddigham) é uma empresária de sucesso, mas está consumida na disputa com o ex-marido vilanesco e nojento, Ruppert Mannion (Anthony Head), que ganha tudo quando faz o que gosta: destruir as pessoas. Keeley Jones (Juno Temple) quis ser reconhecia como profissional e não namorada de Roy Kent (Brett Goldstein) e agora os dois estão separados sem entender a razão, mas sem ainda poder voltar atrás. E assim vamos. Para nosso prazer, nem Nate está bem.

Nate está fazendo o que acha que seu pai esperaria dele, mas em vez de ter sucesso, só é reforçado de que precisa ser ainda mais alguma coisa que não é. Materialmente está vendido: tem uma sala gigantesca, pessoas o adulando e o temendo, porém está mais sozinho do que nunca. Ele é mesquinho, cruel e detestado. Por outro lado, Ted tem sido cobrado de assumir assertividade, de responder no mesmo tom, de dar um fim à Nate. Ele não consegue, não quer.

Estaria Ted sendo covarde? Falta à ele o pulso que esperam que tenha? Seria ele a pessoa que o AFC Richmond precisa?

A essa altura, o Ted Lasso Way é tudo menos previsível. Ainda aposto em Ted. E você?

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