Sobre o documentário da Rainha Cleopatra

Se você está lendo os posts de hoje de MiscelAna está estranhando a corrente de críticas que está marcando a sexta-feira. Juro que é coincidência! Citadel e Ghosted estavam devendo há tempo uma citação, e passaram à frente de Rainha Cleópatra, que estreou há pouco na Netflix. Infelizmente, é outra decepção.

Venho acompanhando há tempos a polêmica em torno de colocar Cleopatra como rainha africana e ainda mais, negra. Sou defensora de revisar a narrativa que impactou a visão que temos dela há milênios, não me incomoda em nada de parar no processo de retratá-la como européia, mas não sei como ela era. Ninguém sabe. E sim, o Egito fica na África, mas sua cultura sempre foi do meio-oriente. Gente, tocar nessa colmeia é para levar ferroadas. Dito TUDO isso como aviso, lamento dizer, o documentário Rainha Cleópatra é ruim. Simples assim.

Parte de um projeto liderado por Jada Pinkett Smith de recuperar as histórias de grandes rainhas africanas abre com a mais famosa delas e traz historiadores de diferentes etnias para falar sobre Cleopatra. Mesclando depoimentos com encenação, algo que não é novo, é um documentário de três horas (em três episódios) que cobre não apenas os temas polêmicos, mas como o legado da faraó. Porém nem um lado nem o outro satisfaz.

Do lado histórico, os argumentos pró a revisão da cor da rainha é obviamente o que abre, no entanto é um desfile de achismos e nenhuma prova concreta de que, por conta do hábito familiar dos Ptomolaicos e só reproduzirem entre si – para justamente manter a ‘pureza’ de sua linhagem – é relegado à uma “lenda”. Mais ainda, alguém inclusive alega que o pai da Cleopatra poderia ter sido ilegítimo e que ninguém sabe quem era a mãe dela. Argumentar que ela não era uma Ptolomaica e então uma usurpadora potencial não é bem a justificativa mais realista de dizer que ela tampouco deveria ser caucasiana. Honestamente não faz diferença pra mim qual era sua cor, quero vê-la como uma mulher inteligente e capaz, não a sedutora vendida pela propaganda romana.

Mas nem isso nós temos. A única forma de render à Cleopatra o crédito que tem é tirar qualquer habilidade de César ou Marco Antônio, dois generais que se apaixonaram por ela. Esse simplismo atrapalha o movimento necessário de tirar das mulheres a sombra de bastidores e habilidades negadas. Cleopatra era uma grande mulher, inteligente, sagaz, líder tanto quanto uma mulher apaixonada, sensual e senhora de si. Uma coisa não elimina a outra. E é essa narrativa dramática que faz do docudrama uma novela de baixo orçamento.

Senti muita falta de dados históricos concretos, de fontes documentadas que ajustassem a narrativa. Fique com pena porque Cleopatra ainda está à espera de ter sua história contada sem conflitos. Nem milênios resolvem isso.

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