A famosa frase de Dirty Dancing se encaixa perfeitamente com o que deveriam ter pensado no penúltimo episódio de Barry.
Tudo que Barry Berkman (Bill Hader) pediu há quatro anos (para nós, na série, há uns 12) é que o deixem recomeçar sua vida “a partir de agora”. Não quer matar, não quer mais se envolver com crimes, só quer seguir em frente. Mas não consegue e, em geral, porque os psicóticos e psicopatas que não tem seu “talento” assassino não deixam. Com isso acompanhamos um espiral complexo, inovador e extremamente inteligente que a série Barry trouxe para a HBO, se despedindo no final de maio. Foi uma grande viagem até aqui.
Assim como sua vizinha de grade, Succession, já era hora para acabar com Barry. A trama é rasa e não fosse o talento cada vez mais impressionante de Bill Hader como diretor e roteirista já teria “morrido” há tempos. O fato de que com poucas personagens ou situações as viradas de jogo (sempre inesperadas) nos peguem de boca aberta é algo para se destacar sempre. Barry foi e ainda é um dos conteúdos mais inteligentes e originais dos últimos anos. Merece os prêmios que levou e vai deixar saudade.
Se Noho Hank, Fuches e Cousineau não fossem tão narcisos, a vida deles teria outro caminho. Mas é como o tema geral de Barry, as pessoas podem até querer mudar, mas a verdadeira natureza de cada um impede. No caso de Berkman, sua habilidade ímpar dizimar pessoas acaba sendo útil para Fuches e Hank, por isso não o deixam “mudar”.
Nem o amor colaborou para que os dois que colocaram o atirador na armadilha em que se encontra mudassem de vida. Noho Hank mandou matar Cristobal, Fuches pode ter qualquer mulher em qualquer parte do mundo, mas sua obsessão pela “posse” de Barry desafia qualquer tentativa de justificativa ou explicação. Barry poderia ter facilmente eliminado ambos em vários momentos, mas são também sua única conexão social e foram ‘poupados’, agora terão o duelo final. Será sangrento. Já Cousineau é complexo mas paradoxalmente simples: sua vaidade sempre o impede de fazer a melhor escolha. Esse triângulo fatal, quando combinado, é letal.

A sorte está sempre do lado de Barry, tortuosamente. Capturado por um vingativo Jim Moss, seria impossível sair vivo ou inalterado da garagem porque se há algo que Jim é insuperável é o processo de “interrogação”. E ele descobre algumas coisas que não esperava, o que o faz pausar e de alguma forma facilitar a fuga de Barry. Quando sabe que o atirador deu 250 mil dólares para Cousineau fugir e recomeçar a vida, Jim questiona a motivação e versão do professor de teatro para toda tragédia. Afinal, prenderam Barry, mas Gene Cousineau jamais mencionou o dinheiro, usado tranquilamente por ele desde então. Jim agora suspeita – erradamente – que Janice foi vítima de um plano maior do namorado dela, que, a seus olhos, foi o maior beneficiado em tudo.
É uma virada inesperada, trágica e engraçada ao mesmo tempo. Cousineau É vítima de Barry e da morte de Janice, mas, como não é uma boa pessoa, faz erros que o levam para uma narrativa que dificilmente vai conseguir inverter. Não ajuda que tenha reaparecido para impedir que o filme sobre Barry seja feito, mas muda imediatamente de idéia quando acredita que Daniel Day-Lewis quer deixar a aposentadoria para interpretá-lo no cinema. Ele ignora o ultra suspeito contato do agente do astro já imaginando a glória e fama, novamente querendo tirar de Barry o protagonismo de tudo. Se Cousineau tivesse sido realista e humilde que foi coadjuvante, e não o principal, não teria criado a dúvida da qual agora terá problemas de eliminar. Isso porque o contato era uma armadilha do FBI e de Jim, que acreditam na conspiração entre professor e aluno, com Cousineau manipulando Barry para ficar com o dinheiro e eliminar testemunhas. O ator queria tanto o protagonismo que mesmo admitindo sua mentira, está em maus lençóis.
Fuches, enquanto isso emerge como o mais perigoso dos antagonistas de Barry. Armado de um exército de mercenários, ele consegue matar a equipe de elite enviada por Noho Hank com facilidade e igualmente coloca o checheno sem alternativa quando ele tenta resolver tudo pessoalmente. Para Noho Hank só há uma chance de se livrar (por hora) de Fuches: entregar Barry para ele. O mafioso pode até ter protelado se envolver de novo no drama dos dois, mas nem pestaneja quando entender o que está enfrentando.

A “sorte” de Hank é o azar de Sally. Depois de escapar de um ataque em sua casa no deserto, ela volta para Los Angeles atrás de Barry, trazendo John com ela. Ao pedir ajuda a Cousineau, praticamente se entrega de bandeja para os inimigos do marido. Sequestrados por Hank, Sally e John são a isca para Barry ser entregue a Fuches. Vemos Barry – de costas – entrando na vibração assassina que dizimou uma cidade no Afeganistão. E mais, ninguém desconfia da habilidade de Sally (ela mesma matou um assassino profissional em um ímpeto) e, com isso, o próprio John que Barry vem se esforçando a doutrinar para o bem. Uma família de assassinos confrontada contra via e morte não dá a eles outra alternativa. Tenho quase pena de seus antagonistas. Só que não…