No início dos anos 2000 a Disney perdeu uma grande oportunidade de avançar na inclusão e levar para as telas, como planejado, o musical Aída, vencedor de vários Tonys e um mega sucesso na Broadway. Com uma princesa de cor, uma história de amor interracial seria uma adição importante. Porém o projeto segue classificado como “em desenvolvimento”, mesmo que as últimas notícias tenham colocado ninguém menos do que Beyoncé como o nome que lideraria o elenco. Como anda Aída?

Após o fenômeno que Rei Leão provou ser, nos cinemas e nos palcos, parecia óbvio seguir com Elton John e Tim Rice cuidando da parte musical dos projetos do estúdio. A animação da história de Simba se espelhava na lenda de Hamlet, algo que jamais se pensaria ser “infantil”. Mas deu mais do que certo. E se mantendo ainda no continente africano, o tema que a dupla sugeriu foi adaptar – para a Broadway, não para o cinema – uma das óperas mais conhecidas do mundo, Aída, de Giuseppe Verdi, que tinha tudo: amor, vingança, política e exotismo. A idéia era, se desse certo, depois virar animação.
Embora Hamlet seja inspirado em uma lenda real, não era o caso da ópera de Verdi. O tema egípcio foi escolhido apenas de olho na grandiosidade de cenários, portanto não houve uma específica princesa etíope escravizada que tenhamos conhecimento histórico. Em geral, a ópera é interpretada por artistas brancos e no musical, assim foi o elenco da parte egípcia. Hoje seria impossível manter o trio original, mas é ainda uma personagem que poderia ser referência se revista e atualizada. Sem mencionar a lida trilha sonora que estamos “perdendo”.
Pode ser que seja justamente a delicada controvérsia de toda história que hoje tenha parado Aída nos bastidores. Como é baseado na história criada Antonio Ghislanzoni em 1870, há temas sensíveis que hoje jamais seriam tratados como há mais de 150 anos. A trama gira em torno da invasão e domínio egípcio na Etiópia. Entre os escravizados está Aída, uma princesa, que esconde sua posição para poder sobreviver. Ela é “presentada” à filha do Faraó Radamés, Amneris, que é noiva do comandante militar egípcio, Radamés. O problema é que Aída e Radamés se apaixonam e o amor impossível dos dois testam sua força e lealdade ao seus povos. Apaixonada sem retribuição por Radamés, Amneris se vinga cruelmente dos amantes quando ascende ao trono.

O musivcal fiou em cartaz por quatro anos e foi eleita pela revista Time como uma das dez melhores produções teatrais do ano. Eu vi em Nova York, era sensacional. “Humanizaram” Amneris como uma mulher fútil, mas divertida. A sequência do desfile em My Strongest Suit é espetacular. A canção de amor entre Aída e Radamés, Written in the Stars, fez sucesso nas rádios, era tão certo que seria uma produção vencedora! Só que, 23 anos anos, ainda não.
Claramente a trama não tinha infantil que justificasse um desenho, mas ninguém discorda do poder em formato live-action. Em especial, porque Aída é uma personagem incrível, uma líder política de resistência, vivendo o que muitas mulheres africanas enfrentaram no terrível período de escravidão e complexa por se apaixonar por um homem inimigo. Talvez tenha sido bom que não tenha sido feito há 20 anos, mas acho que seria um bom momento agora. Será que um dia acontece?
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