Há 242 anos, Chordelos Laclos chocou a Corte francesa pré-revolução francesa com um livro que muitos achavam ser o relato verdadeiro de nobres na decadente e fase final da monarquia na França. Batizando a obra como Ligações Perigosas, o livro funcionava como a publicação de cartas escandalosas entre o Visconde de Valmont e a Marquesa de Merteuil. Os dois amigos, ex-amantes e eventuais rivais, são um exemplo nato de narcisistas sem empatia por suas vítimas. Usam a sedução como arma para controlar e explorar socialmente os outros, como um jogo e se gabam como conseguem manipular todos com facilidade.
O livro foi adaptado para o cinema, TV e teatro em mais de uma oportunidade, sendo fiel ao original ou imaginando uma atualização. Não importa a distância de mais de dois séculos desde seu lançamento, sempre causa grande impacto.

Como a história traça as vidas adultas de Valmont e Merteuil, ficou o espaço em aberto para entender como os dois vieram a se conhecer e relacionar. Na peça de Christopher Hampton que virou o perfeito filme de Stephen Frears e, 1989, Merteiul menciona que os dois foram amantes em um passado relativamente distante, mas quando já usavam e descartavam suas vítimas, mas é ambígua para esclarecer sua própria origem.
Em 2022, a série da Starz que chegou a ser exibida no Brasil no que hoje é o MGM Plus, se propôs a explorar essa parte inexplorada da história, com uma luxuosa produção com Alice Englert e Nicholas Denton dando vida aos anti heróis da história. Foi cancelada antes de concluir sua história, e, embora eu tivesse querido mais, entendi.
O dramalhão estava exagerado e a complexidade que incluíram nas vidas dos dois não casava com o livro ou clássico do cinema. Por exemplo, Merteiul seria uma ex-prostituta e Valmont teve que lutar contra sua madrasta para herdar o título de sua família. Embora a trilha sonora tenha sido incrível e a atuação de Denton sensacional, nada disso era suficiente para compensar os tropeços.

Diante desse fracasso, reagi com surpresa e ceticismo com a notícia de que está sendo gravada uma nova tentativa de buscar retratar de Merteiul. A série, agora 100% francesa, está sendo gravada na Normandia e traz um elenco espetacular: Anamaria Vartolomei será Isabelle de Merteuil, Diane Kruger é Madame de Rosemonde, Vincent Lacoste interpreta o malicioso Visconde de Valmont e Lucas Bravo, que conhecemos de Lily in Paris, será o Conde de Gercourt.
A história é a mesma de uma elogiada peça que esteve em cartaz em Paris, que fala do que aconteceu depois que Merteiul foi exposta por Valmont. Dessa forma, podemos esquecer tudo proposto pela série da Starz, pois Merteiul é completamente diferente. As filmagens estão previstas para continuarem até dezembro em cenários grandiosos que incluem os penhascos da Normandia aos castelos de Ile-de-France. .
Segundo foi divulgado pela MAX, Merteuil “explora jogos de poder, manipulação e dilemas morais por meio de personagens complexos e fascinantes”, e é mais uma revisitação do “espírito” do clássico de Laclos do que algo definitivamente ligado à obra. A plataforma menciona que a série terá “um prisma moderno”, mas que mantém “a intensidade e a sofisticação que o tornaram uma obra-prima atemporal”. (Sei não…)

O fato é que, em tempos atuais, a Marquesa de Merteiul, que lutava por liberdade, autonomia e equalidade feminina e foi descrita (literalmente) como monstruosa por dentro, não se encaixa mais como “vilã”. Ter uma série onde é a protagonista – e heroína – não é boa notícia para Valmont…
A sinopse da peça diz que “após sua queda após a morte de Valmont, a Marquesa de Merteuil foi para o exílio. Depois de quinze anos, ela aceita um curioso convite que a colocará frente a frente com Cécile de Volanges tendo ao fundo o Visconde de Valmont, que continua a envenenar suas vidas após a morte. Os ultrajes de Valmont sofridos por Cécile, o maquiavelismo da Marquesa ressurgem numa torrente de censuras morais de um lado, e reivindicações feministas do outro“.
Escrita por Salomé Villiers, Merteiul a peça explorou temas históricos, sociológicos e sociais que estarão na série, cujos showrunners, Jessica Palud e Jean-Baptiste Delafon imaginam “a gênese e o destino dessa personagem revolucionário”, explica a MAX. “Através do século 18 de libertinos e da nobreza moribunda, Jean-Baptiste e Jessica oferecem uma exploração moderna dos temas de prazer, liberdade e emancipação das mulheres”, antecipam.

A sinopse diz que “para ser o herói da sua própria história, às vezes você tem que ser o vilão da dos outros. A Marquesa de Merteuil, traída por Valmont, embarca em uma jornada ousada para se tornar a principal cortesã de Paris. Livremente adaptado do romance “Les Liaisons Dangereuses” de Pierre Choderlos de Laclos, uma exploração emocionante do preço da liberdade emocional e sexual — em um mundo onde as mulheres tinham pouco“.
Sabe o que podemos realmente esperar? Prêmios e prêmios. Ela deve estrear na plataforma em 2025.
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