A Importância de Take On Me em The Last of Us

Domingo, dia 4 de maio, teremos uma das cenas mais impactantes em The Last of Us, depois de termos antecipado a traumatica partida de Joel (Pedro Pascal) e estarmos dependentes de Ellie (Bella Ramsey) a partir de agora. É que, depois de ter tocado rapidamente na primeira temporada, finalmente teremos a cena na qual Ellie canta Take On Me para Dina (Isabela Merced), um momento que os fãs do jogo queriam que chegasse logo.

Lançada oficialmente em 1985, Take On Me, da banda norueguesa A-ha, é um daqueles fenômenos que transcendem seu tempo. Com uma melodia inconfundível, um refrão marcante e um dos videoclipes mais icônicos da história da música, a canção levou o trio europeu ao estrelato internacional e ajudou a redefinir os limites entre música, tecnologia e arte visual nos anos 80.

Hoje um clássico dos anos 80, a canção é sempre inserida em filmes e séries em momentos de emoção. Apenas em 2025 tem destaque na parte final da série Adolescência, em uma cena que é impossível não se emocionar, e, agora The Last of Us. Vamos relembrar sua importância.

Origens e versões iniciais: uma luta pela perfeição

Curiosamente, Take On Me não foi um sucesso imediato nem mesmo tinha esse nome. Antes de atingir seu formato final, a música passou por diversas versões.

A melodia principal, especialmente o famoso riff de teclado que abre a música, foi composta por Magne Furuholmen quando ele ainda era adolescente, no final dos anos 1970. Ele vinha experimentando melodias em seu teclado e acabou criando aquele tema rápido e cativante, que ficou gravado na cabeça de Paul Waaktaar-Savoy, parceiro de composição.

Originalmente, essa melodia apareceu em uma música chamada The Juicy Fruit Song, quando a dupla ainda fazia parte de uma banda anterior chamada Bridges. Em 1982, com a formação do A-ha e a chegada de Morten Harket, os dois decidiram reaproveitar o tema com um novo arranjo

A essa altura, a primeira encarnação da faixa surgiu sob o título Lesson One. O grupo, que ainda buscava um som que se destacasse para alcançar a carreira internacional que almejavam, insistiu em aprimorar a canção, o que revela uma combinação de autocrítica artística e visão de futuro.

Mesmo sem um contrato com gravadora na Noruega, eles se mudaram para Londres e continuaram refinando a música, trabalhando com o produtor Tony Mansfield, do grupo New Musik. Take on Me foi oficialmente lançada em 1984, mas fracassou nas paradas. Foi só com a regravação de 1985, combinando uma produção mais polida com o vídeo revolucionário, que Take On Me finalmente encontrou seu público. Ela puxou as vendas do álbum Hunting High and Low, e se tornou um sucesso mundial, colocando o A-Ha na história musical da década de 1980.

A letra: um apelo desesperado e romântico

A letra de Take On Me é aparentemente simples, mas cheia de tensão emocional. É uma súplica amorosa — o eu lírico reconhece que está em um relacionamento instável, possivelmente prestes a terminar, mas ainda assim convida a outra pessoa a apostar nele: “Take on me / Take me on / I’ll be gone / In a day or two”.

Essa ambiguidade entre desejo e despedida, impulso e vulnerabilidade, é intensificada pela interpretação vocal de Harket, que percorre mais de duas oitavas, culminando na icônica nota aguda que virou marca registrada da canção. O verso “So needless to say / I’m odds and ends / But I’ll be stumbling away” reflete um protagonista emocionalmente fragmentado, tentando manter o equilíbrio diante da iminência da perda. Segundo os próprios membros da banda, a ideia não era criar algo narrativamente complexo, mas sim capturar um sentimento honesto, com uma letra leve que combinasse com a melodia vibrante.

Take On Me é, portanto, uma canção de amor desesperado, mas também de coragem emocional — um chamado para o risco, o salto de fé. Não é à toa que seu título, em inglês coloquial, significa algo como “me enfrente”, “me aceite” ou “tente comigo”, ao mesmo tempo convite e desafio. Falaremos mais sobre a letra à frente, no contexto de The Last of Us.

Um clipe que moldou a cultura da MTV

Hoje unir os conceitos de vídeos e música faz parte de todo processo artístico, mas isso é a herança direta do que foi a MTV, o canal por assinatura de músicas que estreou como uma “rádio visual”, ou seja, 24h de música em videclipes.

Se a geração millenial não capta o que foi o impacto dos videoclipes, a Geração X cresceu com eles. Músicos inicialmente reagiram à “necessidade” de não apenas tocar, mas atuar em pequenos filmes que transformavam as canções em uma Arte mais complexa. Havia aqueles artistas que consideravam mesclar video e música uma blasfêmia, mas astros como Michael Jackson e Madonna abraçaram a nova expressão com fervor e viraram lendas.

Faço esse parenteses para explicar como ter um grande vídeo de impacto na MTV mudava a trajetória de uma banda e o A-ha é um dos maiores exemplos disso, justamente com Take on Me porque não há como falar da canção sem mencionar seu videoclipe, dirigido por Steve Barron. A produção mescla live-action com animação em rotoscopia (uma técnica na qual animadores desenham quadro a quadro sobre filmagens reais), criando uma estética híbrida e onírica. Nele, uma jovem (vivida pela atriz Bunty Bailey) é puxada para dentro de uma revista em quadrinhos por um piloto de corridas — o próprio Morten Harket. O vídeo foi inovador tanto técnica quanto narrativamente, recebendo seis prêmios no MTV Video Music Awards de 1986.

Esse clipe não apenas impulsionou a música nas paradas — ele redefiniu o papel do videoclipe como forma de arte e publicidade. Foi exibido incessantemente na MTV, criando uma simbiose perfeita entre imagem e som que fez da canção um fenômeno global e é frequentemente citado como um dos mais importantes da história da MTV.

Impacto comercial: um sucesso meteórico e duradouro

Take On Me alcançou o topo das paradas em mais de 27 países, incluindo os Estados Unidos, onde atingiu o primeiro lugar na Billboard Hot 100 em outubro de 1985. Curiosamente, a versão lançada na Europa no ano anterior havia passado despercebida — foi a regravação final, aliada ao videoclipe inovador, que catapultou a faixa para o estrelato. No Reino Unido, chegou ao segundo lugar nas paradas, sendo barrada por The Power of Love, de Jennifer Rush, mas ainda assim se tornou uma das músicas mais tocadas daquele ano.

O single vendeu mais de 7 milhões de cópias mundialmente, e o álbum Hunting High and Low, impulsionado por seu sucesso, tornou-se multiplatinado. A-ha tornou-se a primeira banda norueguesa a conquistar fama global, abrindo caminho para artistas escandinavos nos anos seguintes. Apenas em 2020, o vídeo original ultrapassou 1.6 bilhão de visualizações no YouTube, tornando-se uma das poucas faixas dos anos 1980 a atingir essa marca — junto de Sweet Child O’ Mine, do Guns N’ Roses e Billie Jean, de Michael Jackson.

Covers, citações e renascimentos

Com o tempo, Take On Me deixou de ser apenas um símbolo dos anos 1980 e passou a ser constantemente redescoberta por novas gerações. Já foi regravada por artistas de estilos muito distintos — do acústico melancólico de A.C. Newman ao synthpop nostálgico de Anni B Sweet, passando por covers instrumentais em saxofone ou orquestra. Em 2017, o próprio A-ha lançou uma versão acústica no álbum MTV Unplugged – Summer Solstice, que revelou o poder emocional da melodia mesmo despida dos sintetizadores.

A canção também virou meme, trilha de paródias e gifs animados, e foi usada em comerciais, séries e filmes como La La Land, Ready Player One e Deadpool 2. Mas entre todas essas reinterpretações, há duas aparições especialmente marcantes — e elas vêm do universo dos videogames e da televisão, sim, The Last of Us. Já chego lá!

Comparações com outros hinos dos anos 1980

Take On Me é frequentemente comparada a outros clássicos que definiram o som e a imagem dos anos 1980. Em termos de inovação visual, está ao lado de Sledgehammer, de Peter Gabriel, e Money for Nothing, do Dire Straits, ambos também pioneiros na combinação de música e animação.

Musicalmente, pode ser considerada uma irmã de faixas como Everybody Wants to Rule the World do Tears for Fears ou Don’t You (Forget About Me) do Simple Minds — canções que equilibram melodia cativante, melancolia e arranjos eletrônicos. No entanto, o diferencial do A-ha sempre foi o virtuosismo vocal de Morten Harket, cuja extensão e controle conferem uma dimensão emocional única à faixa.

The Last of Us: amor, memória e melancolia

A presença de Take On Me em The Last of Us é mais do que uma simples trilha sonora: ela se torna um símbolo afetivo, uma cápsula do passado em um mundo em ruínas. No jogo The Last of Us Part II (2020), há uma cena opcional em que Ellie, protagonista da história, encontra um violão e toca uma versão acústica da canção para sua namorada Dina. A interpretação é suave, hesitante, profundamente comovente — uma forma de expressão e intimidade em meio ao caos e à dor. A cena rapidamente se tornou uma das favoritas dos fãs, por sua delicadeza e simbolismo e está no episódio de domingo (4 de maio), como vimos nas imagens do trailer.

Como mencionei, ela já tinha aparecido antes, em 2023, na parte final do episódio “Left Behind”, em que Ellie (Bella Ramsey) revive um momento doce e trágico com Riley (Storm Reid) em um shopping abandonado, antes da tragédia. Por isso, duplamente, ouvir Ellie cantar Take on Me para Dina promete ser um dos momentos mais importantes da temporada.

No jogo, ela entra para o repertório de Ellie porque ela ouve em fitas e discos deixados no mundo pós-apocalíptico, funcionando como marcador de um passado que ela nunca viveu, com a cena em que canta para Dina a de peso emocional definitivo. Em um momento de rara paz e intimidade, Ellie toca a canção em um violão que encontra numa casa em uma interpretação lenta, vulnerável, despida de qualquer artifício pop — um contraponto poderoso à versão original. A música, ali, representa a memória de Joel, que ensinou Ellie a tocar e que a conectava com o mundo anterior ao colapso. O trecho se tornou um dos mais comoventes de toda a franquia, elevando Take On Me a um patamar quase sagrado entre os fãs, como símbolo de beleza, perda e humanidade em meio à destruição.

Isso também porque a cena ressignifica a letra da canção. Por exemplo, “Talking away / I don’t know what I’m to say / I’ll say it anyway…” é Ellie confessando sua insegurança – ela quer dizer algo importante, talvez declarar seus sentimentos, mas não sabe bem como expressar. Mesmo assim, decide falar, porque sente que precisa ser honesta. É um momento de hesitação corajosa.

I’m shy away / I’ll be coming for your love, okay?” mistura insegurança com coragem. Ellie parece hesitante, mas ao mesmo tempo determinada a se lançar num amor incerto, e talvez por isso sua mensagem continue tão relevante em narrativas de amadurecimento, despedida e transformação.

Ou seja, uma cena para nos emocionar (e ultra fiel ao jogo).

A atemporalidade que confirma a importância cultural

Take On Me, no final das contas, não é apenas um hit atemporal — é uma obra de arte multimídia que soube unir música, emoção e tecnologia. Mais do que uma faixa de sucesso, ela se transformou em símbolo de uma era e inspiração para gerações. O A-ha pode ter tido outros sucessos, mas será sempre lembrado por ter criado uma das experiências audiovisuais mais marcantes da cultura pop.

No fim das contas, Take On Me sobreviveu — e continua a ressoar — porque encarna uma sensibilidade muito humana. É uma música que fala sobre se lançar no desconhecido, amar sem garantias, cantar até a nota mais alta, mesmo quando tudo ao redor parece prestes a desmoronar.

Essa universalidade emocional, combinada ao apelo nostálgico e à força estética, fez da canção mais do que um sucesso pop: ela se tornou um símbolo cultural. E como toda boa arte, continua se transformando com o tempo — seja nas mãos de Ellie em The Last of Us, seja nos fones de ouvido de alguém atravessando a cidade em 2025, ainda movido pelo mesmo impulso: viver, sentir, tentar.


Descubra mais sobre

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

1 comentário Adicione o seu

Deixe um comentário