Fernando Bujones foi um dos maiores bailarinos clássicos de todos os tempos. Minha sorte foi que, por várias razões e dentre elas sua ligação com o Brasil (foi casado com Márcia Kubistchek e tem uma filha, Alejandra, nascida aqui), eu tive a imperdível oportunidade de vê-lo dançar – no auge – mais de uma vez. Bujones era perfeição técnica com talento artístico. Seus passos eram claros, perfeitos. Sua elevação era estonteante. Era ator, era simpático e perfeccionista. Uma lenda, sem dúvida.

Fernando Bujones nasceu em Miami, de pais cubanos, mas só passou a viver em solo americano aos sete anos de idade. Seu talento era inegável desde muito cedo. Assim como Paloma Herrera depois dele, chegou ao topo do American Ballet Theatre aos 19 anos. Dançava com as melhores bailarinas e companhias, colecionava elogios dos mais exigentes críticos, tinha como mentor ninguém menos do que Rudolf Nureyev. Já estava a caminho do estrelado absoluto quando ganhou a medalha de ouro no disputado Festival de Varna, como o o mais jovem e melhor bailarino do mundo. Porém o destino trouxe uma sombra da qual Bujones nunca exatamente se livrou: Mikhail Baryshnikov.

Exatamente no mesmo final de semana que Bujones venceu Varna, Baryshnikov fugiu da União Soviética. No auge da Guerra Fria, qualquer estrela da dança que viesse da Rússia era envolto de mistério e drama. A fuga de Nureyev, dez anos antes, foi cinematográfica. A de Baryshnikov, via Canadá, também. Ele era uma estrela internacional e sua beleza, juventude e carisma fizeram dele um fenômeno pop. Estava em todos os jornais, revistas, festas… virou o sinônimo do balé, ofuscando pelo menos duas gerações até que se aposentasse.
A rivalidade entre Bujones e Baryshnikov é clássica e o próprio bailarino a conta abertamente em sua autobiografia, publicada no ano de sua morte, em 2005. “Ele tem a publicidade, eu tenho o talento”, disse o bailarino em uma entrevista.
Sua aberta oposição à maior estrela do ABT, depois diretor da companhia, tiveram seu preço. Enquanto Baryshnikov esteve no comando, Bujones não tinha espaço, sendo demitido ainda no apogeu de sua carreira. Rodou o mundo, encantou platéias por onde passou, mas sempre longe da companhia que tanto amava.
Bujones e Baryshnikov eram igualmente brilhantes, mas com estilos opostos. Bujones, na escola de Nureyev, era o que se chama de danseur noble, um partner generoso, ator, com passos perfeitamente executados e frequentemente visto em papéis clássicos. Baryshnikov, mais atlético, tirava o fôlego com saltos inimagináveis, mas pouco se pensa nele ao lado de alguém. Ele era a estrela solitária, quisesse assim ou não.

Ler a biografia de Bujones foi muito emocionante. Sincero, ele não tem meias palavras para recontar momentos mais duros, com ele mesmo ou colegas. São muitas anedotas extremamente interessantes, ainda mais porque, ele mesmo uma lenda, conviveu com os maiores bailarinos de todos os tempos e cada encontro gerou uma história interessante.
A maior emoção, no entanto, é saber que ele não conseguiu terminar o livro, mesmo estando tão perto do fim. É que, logo depois de entregar as últimas páginas, Bujones descobriu que estava com um câncer, melanoma maligno, que tirou sua vida em apenas três meses. Ele morreu no dia 10 de novembro de 2005, cercado por sua família.

No Brasil, especialmente no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, onde dançava com Ana Botafogo com frequência, Bujones foi filmado como Albretch, em Giselle. Uma dessas apresentações, foi filmada e preservada no Youtube.
Sua principal parceira, no entanto, foi Cynthia Gregory. Com ela, Bujones fez história.
Dia 10 de novembro completam 15 anos desde sua morte, fica aqui, minha homenagem à lenda.
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