Há poucos nomes que transcendem e viram sinônimo do que fazem. Nos anos 1970s e 1980s, mesmo quem não seguisse ballet, sabia que quando alguém falava que alguém era uma Makarova, se referia à supremacia na dança e à bailarina Natalia Makarova, uma das maiores do século 20. No dia de seu aniversário de 80 anos, dia 21 de novembro de 2020, faço uma homenagem à ela.

Natalia Romanova Makarova nasceu em Leningrado, hoje São Petersburgo e começou no ballet “tarde”, aos 13 anos, quando entrou para a renomada Escola Vaganova. A idade média das iniciantes era de 9 anos de vida, mas a diferença estava no talento. Após se formar, Natasha (como é conhecida entre amigos), entrou para o corpo de baile do Kirov em 1956. Em poucos anos foi promovida a primeira bailarina, status que poucas alcançavam tão rapidamente. Em 1965 ganhou a medalha de ouro em Varna e, em 1970, o prêmio Anna Pavlova. Foi no mesmo ano, em setembro de 1970, que desertou da União Soviética durante uma turnê do Kirov em Londres. Antes dela, Rudolf Nureyev fez história ao literalmente fugir durante uma turnê em Paris. Quatro anos depois, o colega de Kirov, Mikhail Baryshnikov faria o mesmo quando viajava em turnê pelo Canadá.

Segundo a versão oficial, Makarova escolheu ficar no Oeste para “expandir seus horizontes”, mas há a lenda de que a motivação foi a de um coração partido. Seja como for, em Londres ela encantou o ocidente com uma impecável Giselle, um dos seus papéis mais famosos. Abaixo, Natasha em 1964, com Yuri Soloviev.
Foi dançando Giselle que Natasha estreou no American Ballet Theatre, sua “casa” oficial quando deixou o Kirov e onde dançou até se aposentar.

Os estilo de Natasha era impressionante. Ela não acelerava o movimento, ao contrário, quase lânguida era de uma exatidão – e perfeição – inigualáveis. Seu equilíbrio e movimentos de braços também eram lendários. Era conhecida também por ser fumante inveterada, exigente e muito passional.

Embora tenha vindo para dançar mais do que os clássicos, foram os papéis “tradicionais” que mantiveram sua fama. O Lago dos Cisnes, Giselle e Don Quixote eram frequentes. Dançava com alguns parceiros “fixos”, como Fernando Bujones, Mikhail Barsyhnikov e, o mais lembrado, Anthony Dowell. Sua remontagem de La Bayadère, em 1974, resgatou um dos ballets mais belos que não era dançado no ocidente (completo) antes da produção coordenada por ela. Quando Natasha não venceu a disputa pelo cargo de diretora artística do ABT, que foi foi para Baryshnikov, passou a dançar com maior frequência no Royal Ballet, de Londres. A princesa Diana conferiu pessoalmente uma de suas apresentações em Manon e quis conhecê-la.

Após o fim do comunismo, em 1989, Natasha voltou ao Kirov e reencontrou amigos e familiares. Sua última apresentação no palco onde estreeou foi emocionante.

No início dos anos 1990s, Natasha deixou os palcos e passou a dirigir montagens como Lago dos Cisnes, A Bela Adormecida e, claro, Bayadère. Ela parou de dançar como consequência de lesões nos joelhos, mas não antes de ganhar um Tony Award por sua participação na Broadway por On You Toes.
Natasha se casou em 1976 com o empresário Edward Karkar e teve um filho com ele, Andrei. Ela voltou a dançar em apenas cinco meses após dar a luz e, em 1979, merecidamente ganhou um prêmio de mãe do ano. Ficou viúva em 2013 e pode ser vista em apresentações do ABT, onde a encontrei e admito que tietei, ficando emocionada com tamanho carinho e simpatia que ela me recebeu. Não fiz selfie, não tive coragem. Estar ao lado do mito preencheu minha memória com mais sentimento do que qualquer foto.







Abaixo, relembrando em vídeo alguns de seus momentos que entraram para a História da Dança. Parabéns Makarova!
Giselle, com ABT, em 1974
Don Quixote, com Fernando Bujones
Other Dances, criado para ela e Baryshnikov por Jerome Robbins
Como Manon
Lago dos Cisnes com Anthony Dowell
Dançando Lago, em 1988, de novo com o Kirov, 18 anos depois da deserção
Como Odile, no Kirov, nos anos 1960s
E, a Morte do Cisne
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