Sofia Coppola é uma diretora e roteirista respeitada e premiada, incluindo um Oscar por Melhor Roteiro no seu curriculum. O mesmo reconhecimento não se pode estendido à sua atuação como atriz. Ao contrário, a mesma paixão com que seus filmes são recebidos é aplicada negativamente quando se menciona o nome de Sofia em frente das câmeras e, em especial, em O Poderoso Chefão 3. O filme de 1990, que conclui uma das trilogias mais adoradas do cinema, fracassou nas bilheterias e na crítica e a jovem Sofia, então com apenas 19 anos, pagou o pato por uma atuação fraquíssima.

Tudo começou mal. Havia uma grande expectativa dos fãs ao redor do filme, especialmente porque o segundo, para muitos, supera o original, algo raro na história do cinema. Apenas Guerra nas Estrelas conseguiu o mesmo status. Isso porque há a lenda de que o “filme do meio” de uma trilogia nunca é o melhor porque perde o aspecto da novidade do primeiro e não conclui a história como o terceiro. No entanto, O Poderoso Chefão 2, usando a parte do livro que foi excluída do primeiro filme (a juventude de Don Vito Corleone), tinha uma narrativa amarrada, com cenas que vieram a ficar clássicas e merecidamente vencedora de vários Oscars, incluindo o primeiro de Robert DeNiro como coadjuvante. Além disso, consolidou Al Pacino como um dos maiores atores americanos dos anos 1970s. Mais ainda, o pai do diretor Francis Ford Coppola, Carmine Coppola, venceu o Oscar de Melhor Trilha Sonora (acho um absurdo pois o tema clássico e merecedor do prêmio era o de Nino Rota, mas isso é outra história). Ou seja, quando os fãs cobraram a conclusão da história dos Corleone, Coppola estava mais do que seguro onde estava pisando. Mas se enganou.

O elenco contava com as estrelas Diane Keaton e Al Pacino, além dos (na época) ascendentes Andy Garcia e Winona Ryder. A primeira baixa veio com a recusa de Robert Duvall de voltar como o consigliere Tom Hagen, que foi “morto” na trama e substituído por outra personagem. Em meio às filmagens, Winona Ryder – no auge do conturbado romance com Johnny Depp – foi diagnosticada como exaustão e obrigada a deixar a produção. Coppola precisou definir uma substituta imediatamente e escolheu, para choque de todos, sua filha, Sofia, para o importante papel de Mary Corleone, a filha preferida de Michael e crucial para a conclusão do drama.
Na verdade, Sofia sempre foi parte da família Corleone. Quando ainda era bebê de colo, ela apareceu na famosa cena do batizado que encerra o primeiro Poderoso Chefão. Quatro anos depois, era uma das crianças em um barco, na continuação. Portanto, mesmo que as atuações anteriores (não creditadas) não contassem como “trabalho”, Francis Ford Coppola confiava no talento da filha. Sua mulher, Eleanor, se opôs. Sabia que a pressão seria gigantesca, mas se seu pai é um diretor premiadíssimo te elege e diz que você consegue, você negaria? Sofia aceitou o desafio.

Embora seja apontado como a estréia de Sofia como atriz, ela já tinha atuado na frente das câmeras (também dirigida pelo pai) antes. Não amou a experiência e eventualmente se encontrou como diretora. O papel de Mary Corleone era importante por vários aspectos: a importância dela para Michael, o envolvimento dela com o primo e justamente a vulnerabilidade que a relação dela com mafiosos, mesmo involuntária, a colocava em risco. Sofia não consegue passar sentimentos ou mesmo despertar paixão, que era essencial para a personagem fazer algum sentido. Sua atuação, mesmo que reduzida, é constrangedora. No entanto, ela não é o único problema de O Poderoso Chefão 3.

O relançamento do filme, com cortes, reacendeu todo drama da escolha de Sofia para substituir Winona. Com o tempo, os fãs da saga passaram a gostar mais da conclusão da história e até a olhar com mais carinho para Mary. Sofia diz que se surpreendeu com a onda de negatividade sobre seu trabalho, mas que não ficou paralisada.
Hoje chega a ser curioso ver os primeiros passos de uma das melhores diretoras atuantes do cinema (foi a primeira americana a ser indicada ao Oscar na posição e a terceira na história da premiação). Quer rever o filme? Está disponível na Netflix.