A saga de Vikings é uma das séries mais fascinantes dos últimos anos, e, apesar de ter um grande público mundial, não alcançou o patamar de Game of Thrones, nem mesmo depois da principal concorrente ter chegado ao fim. Uma pena. A série de Michael Hirst é uma das melhores elaboradas e escritas dos últimos anos, com ótimas atuações. Foram seis temporadas e a parte final vai ser exibida (na forma antiga, um episódio por semana), a partir do dia 30 de dezembro. Será, sem trocadilhos, épica.

Embora pareça fantasiosa, a história é inspirada em fatos reais. O showrunner Michael Hirst, que está por trás dos filmes Elizabeth e Elizabeth – A Era de Ouro (estrelados por Cate Blanchett), e a série The Tudors, é a cabeça criativa e executiva de Vikings. Assim como Gloria Peres faz em suas novelas no Brasil, ele escreve todos os episódios sozinho, garantindo coerência, continuidade e genialidade.

A idéia da série surgiu de uma curiosidade pessoal. Depois de Elizabeth, Michael escreveu um roteiro sobre a história do Rei Alfred, o Grande, SPOILER ALERT HISTÓRICO, que venceu a batalha contra a invasão viking na Inglaterra. Ao pesquisar, o roteirista viu que havia pouco material sobre os nórdicos e estava muito interessado na saga deles, seus mitos e deuses. Anotou que “um dia” retomaria o tema, e, em 2012, a oportunidade se concretizou com o projeto do History Channel. A essa altura, The Tudors já tinha sido um sucesso e Michael estava pronto para embarcar em uma nova aventura, contada do ponto de vista dos invasores.

Toda história tem um protagonista e Vikings precisava de um para começar a amarrar a trama. Um amigo historiador e especialista em Idade Média, o período das trevas, sugeriu que Michael buscasse a história de Ragnar Lothbrok, o primeiro Viking a surgir como uma lenda. Ragnar é apontado como o primeiro a ter atacado a Inglaterra. “Foi assim que achei meu herói”, lembrou o autor em uma entrevista. Ragnar, além de inteligente, teve vários filhos que mantiveram seu mito vivo e isso interessou particularmente a Michael. “Eu pensei, essa série pode ser eterna”, disse.

E é verdade. A história de Ragnar e seus filhos foi dividida em várias temporadas. Algumas liberdades cronológicas foram tomadas para ajudar na narrativa, pegando outros vikings famosos e o colocando ao redor do herói, mas a continuidade da família Rothbrok, com o mesmo elenco, é um dos segredos do sucesso da série.

A figura de Ragnar foi registrada em poesias e lendas nórdicas, cujo maior feito foi atacar Paris, em 845, depois de navegar pelo Sena com 120 embarcações vikings. Há ainda controvérsias sobre seus feitos e família, até se existiu, mas o fazendeiro que virou guerreiro e Rei certamente ganhou muitas gerações de fãs na pele do australiano Travis Fimmel.

SPOILER ALERT A história de Ragnar acaba na quarta temporada, sendo imediatamente continuada por seus quatro filhos. Dois deles, Ubbe e Ivar, invadiram a Inglaterra em 865, e essa parte já apareceu na quinta temporada, mas efetivamente será o coração da etapa final da série, com Alfred já adulto enfrentando Ivar, o desossado.

As crenças pagãs dos Vikings trazem o elemento fantasioso da série, mas como faz parte da fé e folclore nórdicos, tem fundamentos históricos. “Mas eu nunca poderia ter um dragão em uma história minha”, o autor cutucou a concorrência direta.

Um dos elementos de Vikings que logo se destacou e antecipou o movimento de empoderamento feminino por alguns anos são as personagens femininas. Lagertha, a ex-mulher de Ragnar, é guerreira assim como ele. A canadense Katheryn Winnick, que SPOILER ALERT, chegou até a primeira parte da temporada final, virou uma das maiores referências da série. É que na sociedade viking, o papel das mulheres já era moderno, com destaque para lutas e com voz. Nos tempos atuais, especialmente ainda no início da década de 2010, Michael teve que brigar muito para manter Lagertha como a vimos.

Vou tentar ainda falar de todas as temporadas, mas a atual traz as SPOILER ALERT consequências da batalha civil entre os filhos de Ragnar. Não é verdade que eles lutaram entre si, isso é parte da ficção. A verdade está na invasão da Inglaterra que Ivar vai liderar e as batalhas contra Alfred.

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O elenco “jovem”, dos filhos de Ragnar, é tão sensacional quanto o original. Em especial se destaca Alex Høgh Andersen, que interpreta o difícil e fascinante Ivar, o desossado. Faltam poucas semanas para a estréia, mas Vikings já deixa saudades agora que se aproxima de sua conclusão.

E o que Michael Hirst vai nos trazer em seguida? Bom, há dois anos ele está trabalhando com Martin Scorcese em uma nova série sobre os imperadores romanos. The Caesares ainda não começou a rodar, mas será certamente, espetacular.