Não curtia Janis Joplin. Me parecia histérica, excessiva e distante de mim. Não cresci com ela, já tinha morrido, portanto quando era mencionada era sempre aludindo a sua morte. Na época diziam “jovem”. Eu achava velha. Janis morreu com apenas 27 anos. Uma menina.

Em outubro de 2020 completaram 50 anos de sua despedida. Ela foi encontrada morta em um quarto de hotel, depois de uma overdose de heroína. Vários detalhes de como estava o corpo foram citados ao longo dos anos, ainda bem que pararam. Janis estava trabalhando em um que foi considerado seu melhor álbum, Pearl (Pérola). Um título ironicamente perfeito.

Embora seja comum falar de pessoas que vieram à frente de seu tempo, esse era o caso de Janis Joplin, que nasceu e cresceu em uma pequena cidade do Texas e que não se encaixava no padrão de beleza ou comportamento da época. Sua família extremamente tradicional era sufocante para uma menina que era considerada feia e gorda, que sofria bullying e que não via esperança dentro do que era esperado dela.
A música abriu uma janela em sua alma e o movimento hippie, em voga na época, encontrou uma apaixonada adepta. A tímida, acanhada, acima do peso e cheia de espinhas Janis era outra quando cantava. Primeiro folk, depois, blues. A rejeição social despertou um processo de depressão com o qual ela brigou toda sua curta vida. As drogas e a bebida entraram com tudo para mantê-la no oposto que sentia.


Ela deixou a universidade, onde foi eleita “o homem mais feio do campus” por São Francisco. Na California, se juntou a outros músicos e passou a usar drogas mais pesadas, assim como consumia mais álcool.
Com a banda Big Brother & The Holding Company ela inventou o rock ‘n roll. A participação deles no Festival Pop de Monterey é histórica, graças à Janis. Piece of My Heart liderou as paradas de sucesso e fez da rejeitada texana uma estrela mundial.
As dores na alma, infelizmente, nunca curaram. Ela tentou se reaproximar da família e da cidade natal, mas ainda não encontrou aceitação. O vício a essa altura já atrapalhava sua carreira e vida social. Passou um tempo no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, para desintoxicar e por aqui encontrou o verdadeiro amor, segundo sua família contou no belíssimo documentário Com Amor, Janis (2015).
Quando voltou aos Estados Unidos, o romance esfriou e ela se dedicou a gravar Pearl. Estava bem, com esperança e começando uma nova etapa. Porém ficou sozinha em um quarto de hotel onde teve um relapso fatal.

Hoje, 19 de janeiro, seria o aniversário de Janis. Aqui fica uma homenagem à grande cantora que já sofria dos mesmos males modernos que hoje afligem as pessoas. A falta de empatia que cala muitas almas como a de Janis Joplin.
Uma playlist com 10 sucessos de Janis Joplin
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