Em dezembro de 1951, uma das maiores estrelas de Hollywood, Joan Bennett, se envolveu em um dos maiores escândalos criminosos do cinema. Em uma crise de ciúmes, seu marido, o produtor Walter Wanger atirou duas vezes no empresário da atriz, Jennings Lang. Walter foi preso, Jennings se recuperou e os dois homens foram “perdoados”. Joan, no entanto, jamais teve sua reputação recuperada de uma história mal explicada e marcada pelo machismo da época.
Todo esse conteúdo agora está sendo recontado no podcast Love is a Crime, com estrelas como Zoey Deschanel dando voz à Joan e Jon Hamm à Walter, entre outras estrelas. Certamente um material pronto para virar uma série, já já. O roteiro e direção do podcast tem uma força familiar: a neta e diretora de Joan e Walter, Vanessa Hope assina a produção, que conta com a historiadora e podcaster Karina Longworth também. Como elas ressaltam, uma das maiores estrelas do film noir protagonizou um dos maiores crimes na vida real também.
São poucos episódios semanais e é preciso dominar inglês, mas é uma volta ao chamado “tempo de ouro” da indústria do cinema.

Joan Bennett, uma estrela
Nascida em 1910, parte de uma família de artistas, Joan Bennett estreou no cinema ainda na época dos filmes mudos, quando era criança, mas conta como oficialmente ter começado sua carreira nos palcos aos 18 anos. Rapidamente fez sucesso em Hollywood, por sua beleza e talento, participando de filmes como Puttin’ on the Ritz e Moby Dick quando ainda tinha 20 e poucos anos. Estava na primeira versão de Admiráveis Mulheres, na mesma época que conheceu e se casou com Walter Wanger (seu 3º marido).


Ao escurecer seu cabelo, Joan criou uma nova persona nas telas e emendou em mais sucessos de bilheteria, agora como femme fatale. Foi uma das finalistas para Scarlett O’Hara de E O Vento Levou e virou lenda no clássico noir Um Retrato de Mulher, de Fritz Lang, o primeiro de vários com o diretor.
Ao entrar nos anos 1950s, Joan era uma atriz respeitada e requisitada. Tudo mudaria em uma única tarde.
O crime
Jennings Lang trabalhava representando Joan há 12 anos quando os dois se encontraram naquela fatídica tarde de 13 de dezembro de 1951 para discutir negócios.
Joan deixou seu carro estacionado perto das esquinas de Santa Monica Boulevard e Rexford Drive e pegou uma carona com o empresário para reunião. Walter, passando pela rua, identificou o cadillac da esposa, e como, meia-hora depois estava no mesmo local, resolveu estacionar e esperar por ela. Horas depois, Joan e Jennings voltaram para o estacionamento conversando normalmente. Nenhum dos dois percebeu a presença de Walter, escondido a poucos passos. Em um ataque de ciúmes, o produtor caminhou até eles e atirou duas vezes no agente: na perna e na virilha. Ao reconhecer o marido, Joan o mandou se afastar e ele jogou a arma dentro do carro da esposa. Como era perto da estação da polícia de Beverly Hills, Walter foi preso na hora. Jennings foi levado para o hospital, onde se recuperou.

Em seu depoimento, Walter acusou Jennings de estar tendo um caso com Joan, o que ela negou veemente. Segundo ela, o marido estava à beira de um colapso nervoso por estar passando por problemas financeiros. Liberado pela polícia depois de pagar fiança para responder em liberdade, Walter e Joan se separaram, mas ela se recusou a pedir o divórcio. E mais, fez uma declaração onde esperava que o marido não levasse “muita culpa” pelo atentado. A defesa usou a tese de insanidade temporária e Walter passou quatro meses na prisão, porém quando voltou, sua carreira retomou o sucesso. Joan, por outro lado, viveu o contrário.
Sob a suspeita de ter sido infiel, de estrela em demanda rapidamente foi para o esquecimento, fazendo apenas cinco filmes depois do incidente. Basicamente, entrou para uma lista negra. Nem amigos como Humphrey Bogart brigando por ela conseguiram inverter a situação. “Antes eu tivesse puxado gatilho eu mesma”, ela teria lamentado anos depois.
A partir de 1955, a carreira de Joan passou a ser no teatro e na TV, mas o escândalo nunca foi esquecido. Ela e Walter ficaram juntos até 1965.
Joan morreu em 1990, depois de uma parada cardíaca. Tinha 80 anos.
O podcast
Em 10 episódios (já tem três disponíveis), Vanessa não apenas recupera a memória da avó, como relembra as difíceis relações em Hollywood. Para ela, endereçar o escândalo com a perspectiva do tempo e da sociedade hoje permite ver a história com outro olhar. É viciante e uma aula de história. Vale cada episódio.