Os 145 anos do ballet Sylvia

Reza a lenda que Tchaikovsky teria afirmado que, se tivesse escutado a partitura que Leo Delibes fez para Sylvia, jamais teria escrito O Lago dos Cisnes. Tamanha a sua admiração pela música de Delibes. Aproveitando que hoje, 3 de setembro de 2021, completam 69 anos da versão tida como a definitiva, a do Royal Ballet, vamos lembrar sua história?

A origem

Sylvia, originalmente Sylvia, ou La nymphe de Diane, foi montado prla primeira vez em Paris, em 1876 com coreografia de Louis Mérante. Dividido em três atos, a história se apoia na peça Aminta, de 1573. Sua estréia, em junho de 1876, não ganhou destaque, aliás, mesmo anos depois, não foi sucesso comercial. Apenas alguns, como Tchaikovsky, apreciavam o brilhantismo da obra.

Na Rússia, Sylvia foi dançado pela primeira vez em 1886, mas apenas trechos. Apenas em 1892 viram a versão completa, dançada por Carlotta Brianza. O Ballet Imperial planejou sua versão completa em 1901, em uma parceria com Sergei Diaghilev, mas discordâncias artísticas impediram esta produção de acontecer (e levaram à criação dos Ballets Russes), em 1909. Outra versão, no entanto, criada por Pavel Gerdt, chegou aos palcos em 1901, com Olga Preobrajenska como Sylvia, Sergei Legat como Aminta, Agrippina Vaganova como Diana e o próprio Pavel como Orion. Mas de novo Sylvia não emplacou.

Não fosse Anna Pavlova manter alguns trechos em suas turnês, talvez tivesse sido esquecido. Por obra do destino, em uma das apresentações de Pavlova estava o jovem Frederick Ashton, que foi impactado pelo que viu, decidindo anos depois, usar Sylvia como um trabalho para sua musa: Margot Fonteyn.

Quando Margot virou Sylvia

A coreografia de Frederick Ashton mudou a história de Sylvia, no sentido de reconhecimento e sucesso. Segundo consta, tudo veio em um sonho. Na versão do coreógrafo, por volta de 1946, ele encontrava com Leo Delibes que o encomendava recuperar a obra tão desprezada. Ashton aceitou o desafio.

Mais do que isso, transformou o ballet em um tributo para Margot, a maior estrela da companhia na época e no auge de sua carreira. Desta vez, foi sucesso absoluto e Sylvia entrou para o repertório do Royal Ballet.

Embora seja essencialmente clássico – da trama à dança – Sylvia tem uma modernidade única que o difere dos demais ballets, especialmente por conta da música sinfônica de sua partitura, tão apreciada por gênios como Tchaikovsky. Segundo ele, “é o primeiro ballet cuja música constitui não apenas o principal, mas o único interesse. Que riqueza de melodia, ritmo e harmonia”. Não é supresa que seja justamente sua música o elemento mais forte e destacado do ballet até hoje, como o compositor russo sugeriu.

Delibes já tinha feito sucesso com Coppélia, também considerado moderno em sua composição. Em Sylvia, no entanto, é a música que lidera a ação, não apenas a completa. O solo do terceiro ato é um dos mais famosos e o primeiro a usar o que chamam de pizzicati, um conceito que ficou ligado ao autor desde então.

Puxado pela originalidade da música, especialistas apontam que a modernidade da coreografia, mesmo a original de Merante, pode ter contribuído para o “fracasso” comercial. Mulheres caçadoras era uma novidade para a época, conservadora, por exemplo. Para ajudar ao público a acompanhar a intricada história, Ashton incluiu mais mímica em sua versão. Para muitas bailarinas, a maior dificuldade da versão do Royal Ballet é justamente por ela ter sido tão personalizada para Margot, que estava no auge de sua técnica em 1952.

Sylvia hoje é um ballet mais popular e adorado. Merece completamente seu lugar no pódio.

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