A história de Monica Lewinsky revisitada

Mais de duas décadas se passaram de um dos maiores escândalos políticos na história americana, mas o assunto ainda curiosidade e opiniões diferentes sobre o caso. Sim, estamos lembrando sobre o romance entre Bill Clinton, então presidente dos Estados Unidos, e a estagiária, Monica Lewinsky. Por causa desse envolvimento ele recebeu um impeachment (anulado no Senado americano) e é o tema da série Impeachment: American Crime Story que estreia essa semana no FX.

O escândalo foi tão grande que o mundo inteiro sabia todos os detalhes e isso apenas porque Monica, sem saber, estava sendo gravada quando conversava com a amiga Linda Tripp e contou sobre o romance para ela. Na época, Bill Clinton, já era acusado, entre várias outras falhas, de abusos sexuais com múltiplas mulheres ao longo de muitos anos. Porém, não havia provas contundentes. Algo que não aconteceu quando descobriram sobre Monica.

Tempos pré-#metoo: mulheres sem voz

O escândalo Lewinsky, nos anos 1990, foi um período onde as mulheres ainda não tinham a voz que têm hoje. As acusações de abuso não eram levadas a sério, o passado de cada uma era usado “contra” elas e as próprias mulheres não tinham sororidade. Minimamente, o comportamento masculino era encarado como uma questão cultural, como se a questão não pudesse ser mudada.

Há muitos lados sobre o drama. No plano pessoal, o inegável passado mulherengo de Bill Clinton, humilhando publicamente Hillary Clinton, que de alguma forma aceita e perdoa seu comportamento. Não devemos julgar sua escolha, embora muitas mulheres o façam. Para Hillary, Monica foi “plantada” na vida de Clinton com objetivos políticos. É possível entender seu ponto de vista, mas não foi o que aconteceu.

Monica Lewinsky era uma jovem da California que conseguiu o prestigioso estágio na Casa Branca e, como muitas mulheres na época, era atraída pelo carisma do presidente americano. Como diz Linda Tripp, “sua bússola moral era questionável”, no sentido de que ela já tinha se envolvido com um homem casado antes e – aos 22 anos – se apaixonou pelo segundo.

Monica virou porta-voz contra bullying cibernético após o ocorrido e não importa o quanto se arrependa pelo ocorrido, sempre acaba se justificando por suas escolhas. Sempre cândida em suas respostas, ela nunca negou que se fez notada pelo Presidente, que quis se envolver com ele e que estava tendo um caso com um homem casado que por acaso era o Presidente dos Estados Unidos. Os encontros furtivos incluíam locais como a Sala Oval – o escritório presidencial – em “hora de trabalho”, revelando que o presidente interrompia o trabalho para manter o caso extra-conjugal.

As relações entre os dois nunca incluía penetração, o que até hoje provoca discussões acaloradas se sexo oral pode ser considerado “sexo”, entre outros. Monica, que estava acima do peso na época e tinha baixa auto-estima, virou motivo de piada mundial e até hoje é lembrada por isso.

Linda Tripp era uma funcionária pública que desgostava da administração democrata e estava frustrada com uma série de fatores. Quando conhece Monica, quando as duas estão afastadas da Casa Branca e trabalhando no Pentágono, se aproxima e ficam amigas rapidamente. A diferença de 24 anos entre elas não significava nada e Monica rapidamente abriu o coração para ela. Linda, mesclando motivações pessoais e civis, decidiu gravar as conversas entre elas, sem o conhecimento ou autorização de Monica. Foram essas gravações que Linda entregou para o FBI, que questionou a ex-estagiária e levou ao processo de Impeachment.

Linda, assim como Monica, foi massacrada pela mídia por causa de sua aparência, em uma humilhação mundial que foi preservada pelas redes sociais onde ainda encontramos os vídeos, os memes e as “brincadeiras” sobre ela. Linda faleceu, de câncer, em 2020.

A série, e a vida, colocaram a questão na tecla da “traição” de Linda contra Monica, em uma interferência não solicitada pela jovem. A amizade entre elas acabou, com Monica falando oficialmente em seu testemunho que odiava a ex-amiga. Todo o imbróglio contribuiu muito para o que hoje as mulheres lutam, que é mudar a percepção de competitividade, inveja e desconfiança entre nós. No final das contas, as mulheres foram as “punidas”: Hillary jamais se livrou da fama do marido, Monica e Linda viraram piada internacional. E Clinton? Continua admirado e livre.

A série da FX será um bom momento para revisitar uma história tão simples e tão complicada, que desperta o pior em todos nós, que julgamos e rimos das dores alheia. Mas não conseguimos evitar.

As atuações de Beanie Feldstein e Sarah Paulson, como Monica e Linda já estão sendo consideradas favoritas para Emmy. E Clive Owen como Clinton, uma escolha curiosa, também promete elogios.

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