Na segunda temporada de Sex and The City, Carrie ainda está se recuperando do término do namoro com Big, no momento nem me lembro mais se o segundo ou terceiro. Arrasada, é encorajada pelas amigas a voltar a sair, ver gente, namorar. A única que a “autoriza” a ficar triste é Charlotte. As amigas tem uma discussão sobre quanto tempo se “pode ficar de luto”. Na matemática de Charlotte é a metade do tempo que você passou com a pessoa. Nem lembro mais qual foi a conclusão de Carrie na época.
Fim de namoro pode parecer uma morte, como ela sentia. A separação pode sentir igualmente como uma despedida definitiva, mas como Carrie se vê forçada a explicar às pessoas, Big morreu – literalmente – e não vai voltar. Sua perda é definitiva e eles estavam felizes, unidos, apaixonados. Viveram os 15 anos que para ela significavam o “para sempre”, mas nem mesmo Big – que foi um cachorro, todas reconhecemos – saiu do cenário e já estão cobrando de Carrie que “volte a namorar”, “volte a ter sexo”. Um desfile de insensiblidade inacreditável diante a viuvez.
Uma mulher de 50-quase-60 anos viúva não está morta, nem deve deixar de se abrir para um companheiro entrar. Essa mensagem é bonita, é importante e realista. O que não dá é tocarem no assunto no episódio seguinte do funeral. Por outro lado, o tempo está voando em Nova York mais rápido do que o planeta. Pelos pulos no tempo, talvez as mulheres de And Just Like That estejam quase entrando em 2024, mas definitivamente deixaram 2022 pra trás no episódio em que Carrie apareceu mancando e “meses depois” estava de salto alto. No episódio 7 ela levou três estações para escrever seu livro, porque fez sol, chuva, caíram as folhas, nevou e voltou o sol. Nessa altura mínimamente sabem mais do que a gente sobre o fim da pandemia.
Dentro dessa perspectiva de que já se passaram pelo menos um ano desde a morte de Big, talvez sugerir que Carrie possa conhecer outro não seja tão grosseiro como Miranda e Carrie e o mundo têm sido com ela. Afinal, só saindo que vamos atualizar nossa agenda de lugares bacanas que elas estão frequentando (o bar da date já está na minha lista, na Cortland Alley).


O avanço no tempo deu uma aliviada na crise matrimonial entre Steve e Miranda, mas o jeito bonachão do marido não vão dar crédito ao fato de que a advogada está sendo falsa com ele. Em vez de endereçar a questão com Steve, fala com Carrie e corre atrás de Che. As duas agora são oficialmente amantes e mais uma vez trazem o sexo para a série que um dia tinha isso como tema. Mas essa relação está igualmente morosa.
Uma outra coisa que me ocorreu, também de encontro com o que está rolando nas redes é mais uma vez questionar como alguma delas ainda tem amizade com Charlotte. Sua vida é de um vazio e uma superficialidade incomparáveis. Ela pré-julga, ela infantiliza… embora a melhor parte do episódio tenha sido se recusar a pedir desculpas por um jogo competitivo (tênis) onde seria a única quadra em que ela não tenha que se justificar.
E completa com Carrie aceitando ser “leiloada” em um date em uma escola onde não é nem o local nem o público para isso. A vergonha de não ter disputa só faz aumentar a humilhação. Não é a primeira vez que me pegunto como Carrie ou Miranda (ou Samantha!) ainda se esforçam para maner contato com uma pessoa tão fora do ambiente delas.
Nem menciono as novas personagens da trama. Sem empatia, sem relevância… trouxeram inclusão mas parece forçado, que não faz parte da trama. Apenas Che, mas transformando ela em elemento romântico e justamente da personagem menos empática, parece inútil.
And Just Like That tem mais três episódios para encerrar a temporada. Se correrem mais três meses, elas chegam em 2024. Esse descuido com o roteiro, que até agora não entregou uma situação sequer que mulheres de 50 ou jovens de menos de 40 consiga se identificar faz crer que Kim Cattrall estava certa. Como fã, ainda acredito em alguma virada. E que Carrie volte logo.

