Blonde revisa a vida de Marilyn Monroe

Ainda esse ano, se tudo der certo, veremos a versão da Netflix para o best-seller Blonde. O projeto, que começou com Naomi Watts, depois passou para Jessica Chastain ser escalada para viver Marilyn Monroe, no final terá a cubana Ana de Armas no papel principal. Justamente no ano em que completam 60 anos da morte da maior lenda criada em Hollywood. Depois das polêmicas sobre Nicole Kidman como Lucille Ball ou Kristen Stewart como Princesa Diana, ambas indicadas ao Oscar, podemos antecipar as dicussões sobre Ana de Armas em 2022.

Blonde não é uma biografia. Faz parte do gênero “ficção histórica”, que demanda um distanciamento e estudo sobre a História verdadeira para poder apreciar a fantasia. Algo, que, infelizmente, em tempos de preguiça e pouca educação, faz do gênero algo perigoso. Mas isso é para outro post. Vamos falar aqui de Blonde: série, filme e livro.

Hoje, um artigo da PageSix alega que o filme dirigido por Andrew Dominik será recomendado para maiores de 18 anos, por causa de cenas fortes de sexo e nudez. O diretor nega os rumores de cenas gráficas sobre sexo oral durante uma menstruação, mas confirma que haverá a cena de estupro que está no livro de Joyce Carol Oates. O diretor espera que a produção seja lançada a tempo para competir em Cannes e garante que, apesar da nacionalidade cubana de Ana, “ninguém vai reclamar de sua performance”. Além da atriz, estão no elenco Adrien Brody, Julianne Nicholson e Bobby Canavalle. Dominik é o autor do brilhante O Assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford, por isso tem minha confiança.

O best-seller, que foi lançado em 2000, tem quase 700 páginas. São tantas biografias “definitivas” que a autora decidiu “reimaginar” o mito. O filme vem em bom timing porque 2022 é o ano em que falaremos muito da morte da atriz, que pode ter sido acidental ou suicídio, mas cuja teoria conspiratória de que teria sido assassinada é adotada no livro como verdadeira.

Segundo consta, Joyce Carol Oastes se inspirou para fazer o livro ao ver uma foto de Marilyn aos 15 anos, quando venceu um concurso de beleza. Com os cabelos naturalmente escuros e uma coroa de flores na cabeça, ela transparece inocência. “Eu senti um reconhecimento imediato de uma jovem garota cheia de esperança, tão americana, que me lembrou fortemente de meninas da minha infância, algumas de lares partidos”, ela disse em uma entrevista, lamentando que foram meninas cujos sonhos acabaram em derrotas.

A proposta inicial do livro era para ser uma espécie de estudo da transformação de uma jovem comum em uma estrela, porém, revendo os filmes de Marilyn, Joyce Carol decidiu que sua obra não poderia vitimizar Norma Jean/Marilyn. Passou a ver a estrela como um símblo complexo e profundo da cultura da celebridade, e quis ressaltar o lado trágico e obscuro de sua trajetória.

Já é comum olhar para a vida de Marilyn separando suas fases, e Blonde a divide em três. A primeira cobre sua infância, uma menina que jamais soube quem foi seu pai (há várias teorias) e sofreu as consequências do desequlíbrio emocional de uma mãe bipolar, que passava longos períodos internada em hospitais. Logo Norma Jeane foi colocada em orfanatos, foi adotada por diferentes famílias, sofreu o 1º abuso sexual aos 11 anos e passou a sonhar que um dia seria genuinamente amada.

Quando adulta, entra a “segunda” personagem: Marilyn Monroe. A deusa sexy, cuja beleza inigualável inspirava sexo e admiração, mas que era uma criação de Hollywood, fruto de plásticas e intervenções para criar a fantasia e esconder uma mulher que sofria de cólicas menstruais, de abortos naturais ou optativos.

E finalmente a terceira persona que é a Loira, a Blonde, a lenda que ganha proporções fantasiosas além da dimensão terrena. Essa persona idealizada é a que vive a vida de luxo, adoração e beleza, mas que nos bastidores é violentada, tratada como objeto.

Para a escritora, o mito Marilyn Monroe junta essas três personalidades e uma biografia não permitiria ressaltar. Mudou a ordem dos fatos e até de pessoas para transmitir sua visão da personagem. Algumas tiveram seus nomes verdadeiros mantidos, outras são referidas por apelidos, mas inventou pessoas como o filho de Charles Chaplin, Cass, e Edward G. Robinson Jr., que não existiram. Joe DiMaggio virou o “Atleta” e Arthur Miller, “O Autor de Teatro”.

Um detalhe que em 2000 alguns da indústria pescaram, mas que 22 anos depois ficará mais claro, é apesar de Joyce Carol ter usado o nome do verdadeiro Darryl F. Zanuck para criar uma personagem, Mr. Z, já aludindia a Harvey Weinstein. A cena do estupro de Marilyn – escrita ANTES do movimento do #metoo – repete o fato que tantas sobreviventes descreveram quando Weisntein foi julgado, em 2018.

A decisão da autora de adotar a teoria de que Marilyn foi assassinada também é controversa. A primeira adaptação do livro para a TV , 2001, não incluiu isso. O filme vai.

Andrew Dominik anunciou ainda em 2012 que finalmente iria adaptar Blonde para o cinema, mesmo com o apoio de Brad Pitt – que é o produtor – mas levou 7 anos para ser financiado e finalizar a produção. Com isso, Jessica Chastain teve que sair Ana de Armas fez o teste, ganhando o aval do diretor, mas lidando com muitas suspeitas da ousadia de ter uma latina interpretando um dos maiores ícones americanos.



As gravações acabaram em 2021, e, em breve veremos o resultado. Quem viu a versão bruta, como Jamie Lee Curtis (filha de Tony Curtis, que trabalhou com Marilyn em Quanto Mais Quente Melhor), ficou sem ar. Diz que Ana está i-gual à Marilyn. Seria um Oscar para Ana de Armas em 2023? A campanha já está começando…

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