No início de sua carreira, Tom Cruise buscava estar ligado aos maiores do mercado. Quando ele mesmo passou a ser o maior entre os maiores, desistiu (aparentemente) dos filmes de Arte e que poderiam lhe trazer o Oscar e passou a fazer bons filmes de aventura e ação. Ficou ainda mais milionário e popular.
Foi com alguma surpresa que o astro tenha resistido bastante em considerar uma continuação para seu mega sucesso, Top Gun, mas se revelou acertado. Ao esperar quase 40 anos, deu tempo para atualizar a franquia em sintonia com os tempos atuais. Mais do que isso, Top Gun: Maverick é um filme para fãs, com easter eggs e avanços interessantes, mas mantendo os elementos originais para atrair um novo público. Resulta em melhor do que o original, pois aprofunda mais nas relações e traumas de Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise), que volta a Top Gun por pedido do Almirante Tom “Iceman” Kazansky (Val Kilmer), outrora opositor e agora grande amigo. Apesar de que, no original, Maverick parecia estar superando a morte de Goose (Anthony Edwards), descobrimos que não conseguiu se livrar desse fantasma, escolhendo auto exílio.
Atenção para os SPOILERS.


Para efetivamente curtir Top Gun: Maverick, é preciso ser fã do filme de 1986 e lembrar dele em detalhes. A abertura dos créditos é uma homenagem, cada ação de Maverick ao aparecer é uma referência ao original (a moto, a jaqueta, etc). Ele não explica em nada a ausência de Charlie Blackwood (Kelly McGillis), mas nos deixa saber que Carole Bradshaw (Meg Ryan), viúva de Nick “Goose” Bradshaw (Anthony Edwards), faleceu. Maverick tentou se manter como professor em Top Gun (que foi a conclusão do filme de 1986), mas sua indisciplina atrapalhou a carreira. Ficou isolado como piloto de teste.
Para os fãs, lembramos que Maverick era atormentado pela morte de seu pai em combate, um trauma que o fazia ser suicida e, assim, o melhor piloto de caça da História. A morte acidental de Goose é agora o que Maverick usou para substituir a dor original, aliás, nem cita mais o pai, esse trauma ele superou. Ainda mulherengo, a ex-namorada mencionada por Carole para Charlie em uma rápida cena, Penny Benjamin (Jenniffer Connelly) é o amor da vida do piloto e os dois ainda não se acertaram, mas, estão mais calejados e maduros, esse problema de falta de comprometimento por parte dele finalmente aparenta ter sido solucionado para Maverick.
O mais interessante de Top Gun: Maverick é ver em paralelo a trajetória de Tom Cruise. Em 1986, um jovem ansioso, ganancioso para realizar seus sonhos e ser coroado como o melhor. Em 2022, seguro, maduro e lidando com as relações pessoais, mas ainda apaixonado pelo que faz. E sim, ainda o melhor de todos.
A amizade com Iceman ficou emocionante também, e Maverick está mais doce e cansado perto dos 60 anos. Quem sabe dos problemas reais de saúde de Val Kilmer não consegue deixar de perceber a emoção dos dois atores quando se reúnem.
O conflito está com Bradley Bradshaw, ou Rooster (Miles Teller) filho de Goose, que Maverick tem como filho mas que age como ele agiria com o pai. Afinal, secretamente a pedido de Carole, ele atrapalhou como pôde a carreira do afilhado na Marinha, portanto Rooster pode até ter entendido que a morte do pai foi acidental, mas não perdoa Maverick por ter interferido na sua vida. No fundo, os dois têm que superar seus medos, suas projeções para juntos conseguirem seguir com suas vidas. É a relação de pai-filho-amigo que está no coração da continuação. E funciona!


Para quem assistiu ao film de 1986, fica a conclusão de que Top Gun: Maverick é melhor do que o original, justamente por focar mais nas relações pessoais antes de entrar nas inacreditáveis sequências aéreas, com os atores participando dos vôos e trazendo a credibilidade para o filme atual. Tem mais consistência, é visualmente bonito e respeitoso com sua origem. Por isso os elogios.
É o melhor filme do anos? Naah. Exagero. Porém, como de alguma forma é tipo um “Creed nos ares” e considerando que Creed chegou a ser indicado ao Oscar, quem sabe? O mais interessante de Top Gun: Maverick é ver em paralelo a trajetória de Tom Cruise. Em 1986, um jovem ansioso, ganancioso para realizar seus sonhos e ser coroado como o melhor. Em 2022, seguro, maduro e lidando com as relações pessoais, mas ainda apaixonado pelo que faz. E sim, ainda o melhor de todos.