Emily Brontë era a mais tímida das irmãs Brontë, e seu único romance publicado, em 1847, é até hoje um dos mais populares e analisados livros da cultura inglesa. O Morro dos Ventos Uivantes foi inicialmente lançado como parte de um conjunto de três volumes que incluía Agnes Grey, de Anne Brontë, sob os codinomes de Ellis e Acton Bell. O nome verdadeiro da autora só foi divulgado três anos depois, quando o livro já era um sucesso.
Emily, assim como as irmãs, era muito estudiosa e tinha uma imaginação fértil. Com Charlotte e Anne, inventaram terras imaginárias, assim como escreviam poesia. Charlotte foi a primeira a alcançar algum sucesso, com o livro Jane Eyre (também publicado sob um pseudônimo masculino), mas Emily superou ambas com sua única obra.


Para uma jovem sem experiência de 30 anos, a maturidade de O Morro dos Ventos Uivantes segue impressionante mesmo 145 anos depois. Se hoje a relação tóxica e abertamente sexual entre Cate e Heathcliff ainda é incômoda, na época vitoriana foi um choque. Narcisistas, cruéis e intensos, os dois eram completamente diferentes de tudo que era escrito na época, se permitindo a paixões sem pudor, manipulações e chantagens mútuas. Até hoje não despertam exatamente empatia com o leitor, que é atraído para acompanhá-los em meio a incredulidade, curiosidade e muitas lágrimas.
Eu sou Heathcliff!
Catherine
A narrativa é feita em 1ª pessoa pela governanta Nellie, que testemunhou toda história de amor e vingança que aconteceu na casa “dos morros uivantes”. O nome se dá pela posição geográfica da casa, em cima de uma colina frequentemente atingida por ventos ruidosos (como a paixão de Cate e Heathcliff).


Detalhista, conseguimos imaginar exatamente o que tinha em imaginação quando escreveu o livro e a linguagem coloquial – hoje normal – era uma novidade também. Acima de tudo, O Morro dos Ventos Uivantes inovou ao apresentar dois anti-heróis como protagonistas, nos fazendo sofrer pelos mocinhos, incapazes de superá-los. A pitada gótica – em moda na época – traz o lado sobrenatural de almas obsessivas. A modernidade da obra é clara ainda hoje, só se pode imaginar como foi recebida na época.
Nem em oitenta anos a amaria tanto quanto eu a amo em um dia
Heathcliff
Não é surpresa que conceituados psicólogos como Carl Jung e Sigmund Freud tenham estudado o livro a fundo. Parodiando Emily, do que quer que as almas sejam feitas, a dela e as nossas são iguais.



Da mesma medida, uma história tão passional e intensa logo ganhou a atenção do cinema, que produziu várias adaptações. As mais famosas são a de 1939, com Laurence Olivier e Merle Oberon, e de 1992, com Ralph Fiennes e Juliette Binoche. Para os atores homens, Heathcliff é tão desafiador como Hamlet e a maioria dos mais famosos fez sua interpretação em algum momento.


E se falamos de inspiração, uma curiosidade. Emily Brontë teria se inspirado nas paredes de pedra de Thornton Moor, perto de Haworth, em Yorkshire. A escritora morava perto e gostava de fazer caminhadas pelo local. A aposta é que a abandonada Top Withins Farm House seja o cenário no qual a escritora se baseou para escrever a casa dos Earnshaws.
No dia 30 de julho, Emily completaria 204 anos de vida. Ela faleceu aos 30 anos, antes da publicação de seu livro. Ela apresentou uma constipação grave no enterro do irmão (que morreu de tuberculose) e acabou apresentando tuberculose em seguida. Hoje acredita-se que condições insalubres da sua casa (a água que recebiam vinha contaminada pelo escoamento do cemitério da igreja) e o clima severo contribuíram para sua morte prematura. Na manhã de 19 de dezembro de 1848, faleceu em casa, ao lado das irmãs.
Pelo poder de uma história atemporal e incrível, fica aqui a homenagem a Emily Brontë e O Morro dos Ventos Uivantes.