A história verdadeira que inspirou House of the Dragon

Como sempre divulgado, George R. R. Martin é fã do que chama de História popular e usa elementos reais para inspirar sua complexa trama da franquia Game of Thrones. Para contar a história que virou a série, o escritor citou o conflito da Guerra das Rosas como fonte. Esse trecho da história britânica ficou marcado na cultura pop pelas peças de William Shakespeare, que traçou a origem do problema como a disputa na ordem sucessória. Sempre a sucessão…

Basicamente os elementos que estão em GOT desse período são as famílias lutando pelo trono, com seus lemas e símbolos, alternando quem estava com a coroa. Na Guerra das Rosas, chamada assim porque a Casa York usava a rosa branca como bandeira e os Lancasters, uma rosa vermelha, acabou com a derrota do Rei Ricardo III – um York – e a ascensão de Henry VII – um Tudor, lutando pelos Lancasters – ao trono. Como George explica, ele não reconta a história mas sim pega emprestado o elemento dramático que motivou o conflito. Por exemplo, para os Targaryens, ele claramente pegou a família Ptolomeu, de Cleopatra, como base.

Não seria diferente para House of the Dragon, onde ele volta a usar a História medieval britânica como fonte, mais especificamente com um trecho fascinante conhecido como A Anarquia. Aqui abro parênteses para ressaltar que, em um resumo simplista, é o ponto de junção de Vikings, Vikings- Valhalla e Game of Thrones, tudo graças à fascinante presença feminina da Imperatriz Matilda, a mulher que teria sido a primeira rainha britânica e uma das mais ferozes de todos os tempos.

Os elementos da trajetória que o escritor usou desse período histórico foram dois: a ordem sucessória questionada para evitar a ascensão de uma mulher e a guerra civil que despertou por isso. Outros detalhes também estarão na série, como podemos perceber.

Quem foi Matilda?

Neta de Guilherme, o Conquistador, e filha de Henry I da Inglaterra, Matilda entrou na linha sucessória quando seu irmão mais velho, William, se afogou em um evento conhecido como o desastre do Navio Branco, em 1120. Trezentas pessoas estavam a bordo da embarcação que naufragou com apenas um sobrevivente, que não era o príncipe. Sem outros filhos homens, Henry I fez de sua filha sua sucessora. Naturalmente a escolha de Henry I não foi bem recebida porque mesmo sendo herdeira legítima do trono, Matilda era uma mulher que potencialmente seria primeira rainha da Inglaterra (de todos os tempos). A aristocracia era firme em acreditar que seu gênero a fazia incapaz de assumir a responsabilidade do título. Mas ficaram quietos e seu primo, Stephen, a apoiava.

Matilda viveu no exterior boa parte de sua vida pois foi casada quando tinha apenas 8 anos com um antagonista dos britânicos, Henrique V, do Sacro Império Romano. Ficou viúva aos 23 anos e seu pai a casou novamente, desta vez com Geoffrey Plantagenet, Conde de Anjou e ela vivia na Normandia. Quando seu pai morreu, em 1135, para surpresa de Matilda, seu primo Stephen mudou de lado. Afirmou que o tio havia mudado de ideia em seu leito de morte, o reconhecendo como seu sucessor ao trono no lugar dela. Portanto ele era o novo Rei e ela que engolisse a mudança. Os nobres apoiaram Stephen e a vida seguiria o curso “normal”.

Subestimaram Matilda.

Indignada, se recusou a aceitar tranquilamente e começou uma luta pela coroa. A guerra civil durou 19 anos e o período ficou conhecido como “A Anarquia”, com batalhas de cercos durante a qual os apoiadores de ambos os lados se revezavam para sitiar as fortalezas uns dos outros rende histórias de batalhas incríveis.



Stephen chegou a ser capturado depois que foi derrotado na Batalha de Lincoln, em 1141, mas foi libertado em troca do prisioneiro Robert, Conde de Gloucester, o homem de confiança de Matilda. Finalmente com a coroa, o tempo de Matilda no trono foi breve, pois uma rebelião liderada por Stephen a forçou a fugir de Londres e o primo recuperou a coroa.

Matilda ficou sitiada no Castelo de Oxford durante o inverno de 1142 em um cerco durou 3 meses. Sua fuga é uma das maiores da história inglesa: em uma noite gelada de dezembro, Matilda se enrolou em uma capa branca e esgueirou-se pelas linhas inimigas disfarçadas contra a espessa nevasca ao seu redor. Ninguém a viu. Em seguida, usando um par de patins de gelo, fugiu pelo rio Tâmisa congelado até a segurança do Castelo de Wallingford.

Naturalmente com a história tendo sido escrita por homens, Matilda ficou conhecida como uma mulher orgulhosa e arrogante, mandona e mimada. Foi impopular entre seus súditos, mas não desistiu de seus direitos. Com a morte do conde de Gloucester, em 1148, Matilda voltou para a França e de lá, em 1153, assinou um tratado de Paz com o primo, estabelecendo que Stephen seria rei até morrer, mas que depois a coroa seria do filho dela, Henry II. Curiosamente, menos de um ano depois Stephen bateu as botas e Henry II deu início à linha de reis plantagenetas, uma linhagem que acabaria justamente na Guerra das Rosas. Tecnicamente Matilda não venceu as batalhas, mas sem dúvida venceu a guerra. Viveu até 1167, desfrutando de mais de 10 anos do reinado de seu filho antes de morrer. Claro que a vida de Henry II e sua linhagem é repleta de traições, guerras e sangue, mas já vimos em Games of Thrones.

George R. R. Martin se espelhou em Matilda para criar a história de Rhaenyra Targaryen, que vai disputar o trono com seu meio-irmão, Aegon I. O conflito entre irmãos será determinado a partir do episódio 6, mas desenvolvido nas próximas temporadas. Promete ser incrível.

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