Em tempos digitais, troca de cartões físicos é algo que um whastapp ou e-mail resolve. Mais ainda: um post nas redes sociais. Mas, na cultura britânica o hábito de produzir cartões e enviá-los pelo correio segue firme e forte. Em especial, os cartões da Família Real são divulgados e geram notícias, com especialistas avaliando cada detalhe do registro anual. Em 2022, por exemplo, Rei Charles e a Rainha Consorte Camilla elegeram um momento de felicidade mútua registrado em um evento dos dois juntos. Já Príncipe William e Kate Middleton divulgaram o cartão deles, com os filhos, com roupas informais passeando em um jardim. Ainda não vimos o cartão de Meghan Markle e Príncipe Harry, mas certamente será criativo. O de 2021 tinha o casal com Archie na mansão deles em Montecito e o do ano passado era a prova da felicidade dos dois, com os filhos rindo, de jeans rasgados e Harry descalço. Os cartões da Princesa Diana, por exemplo, sempre focavam nos filhos, sendo que o último que mandou tinha Harry e William ao lado das primas, Beatrice e Eugene (e pela vez, nada da própria Diana). Os cartões da Rainha Elizabeth 2ª, em geral, traziam fotos dela ao lado do marido, Príncipe Philip. A tradição dos Cartões de Natal ganhou fôlego com a Família Real, ninguém duvida.


E como surgiu essa tradição de cartões de Natal? Você sabe?
Foi em 1843, na Inglaterra, quando Sir Henry Cole, um famoso inventor e comerciante, também funcionário público, estava tão atolado de trabalho no fim do ano que se viu sem tempo para responder individualmente as várias cartas que recebeu. Ele não tinha como opção ser rude e não responder, afinal ele mesmo foi fundamental na reforma do sistema postal britânico apenas três anos antes, quando ajudou a criar o Uniform Penny Post, uma correspondência pré-paga acessível (um penny por envio), feita através de um formato menor que carta, mas o suficiente para incluir algumas palavras que viria a ser o conhecido como “cartão postal”. Naquele Natal, Sir Henry buscava uma alternativa prática e que não tomasse muito o seu tempo para escrever suas cartas e teve uma idéia revolucionária, assim como lucrativa.
Para realizar seu plano precisava de ajuda e entrou em contato com o artista John Callcott Horsley, literalmente o único que poderia ilustrar o que idealizou. O conceito era duplo: em uma única mensagem personalizada queria desejar felicidade pelas festas, mas lembrar os mais carentes. Aproveitando o formato do cartão postal, inseriu a imagem de sua família em celebração, feliz e com fartura de comida e bebida, contraposta por ilustrações que mostravam pessoas menos afortunadas recebendo doações de comida e roupas. A mensagem dizia apenas “Feliz Natal e Próspero Ano Novo”.
Com visão comercial apurada, Sir Henry mandou gravar mil cópias coloridas à mão: 500 cartões foram enviados para amigos e clientes, a outra metade pôs à venda em sua loja em Londres. Precisa dizer que virou sucesso imediato? Claro que não. Assim nascia o primeiro cartão de Natal comercial.

Mais do que as festas, os cartões inventados por Sir Cole tiveram grande utilidade na troca de comunicação nos séculos 19 e 20, com os envios postais multiplicados e se transformando relevante na comunicação durante as duas guerras mundiais. Ainda hoje, apenas no Reino Unido, estima-se um volume de mais de um bilhão de trocas de cartões.
Embora na Inglaterra se mantenha viva a tradição da imagem da família (mais tarde com fotos em vez de ilustrações), temas religiosos também dominam muitos dos cartões de Natal, sendo que a inegável popularidade da figura do Papai Noel se deve à Rainha Vitória. Isso porque a soberana foi a primeira a usá-lo nos cartões anuais que ela enviava para funcionários, amigos e inquilinos, tanto em Windsor quanto em Osborne House. Com a já citada popularização da fotografia, firmou a tradição da imagem popular para desejar boas festas, algo que até hoje a Família Real respeita e usa.

Ainda há exemplares originais dos cartões de Sir Henry Cole que são disputados por colecionadores. Sua criação é apontada como a responsável por ter criado um grande impacto nas indústrias voltadas para a criatividade e estética, já que desde 1843 criou um mercado para designers e redatores, contratados para desenvolver uma variedade de cartões e brindes decorativos a serem comercializados. Apenas no Museu Victoria & Albert, em Londres (do qual Sir Henry foi o primeiro diretor), há uma coleção de mais de 30 mil cartões. Com esse contexto, fica bem mais interessante a troca de mensagens, não é?

