No século 21, a folia de Veneza também está no Metaverso


Os primeiros registros de uma festa de carnaval em Veneza são de 1162, quando a festa também serviu para celebrar vitória da República de Veneza sobre seu inimigo: a cidade de Aquileia. Os venezianos se reuniram na Praça de San Marco para dançar e comemorar a ocasião. Desde então, a festa se repetia nas ruas de Veneza e apenas depois, dada à proximidade do Carnaval, é que incorporou os dois eventos em um só. Isso mesmo, a data da festa começa sempre 10 dias antes da “Terça-feira Gorda”(Terça de carnaval) e os desfiles de máscaras pela cidade tornam o Carnaval de Veneza diferente dos outros carnavais famosos da Itália. Estive em um deles, e é de fato de tirar o fôlego de lindo.

O uso das máscaras tem uma razão mais social e vem de uma tradição do século 13, quando os venezianos realizavam celebrações e festas (até o início da Quaresma) e escondiam sua identidade com máscaras – a princípio simples, mas aos poucos bem luxuosas – que impediam as pessoas descobrirem se debaixo do disfarce havia alguém de classes baixa ou alta. Sem um rosto, todos eram iguais, participando de todo tipo de eventos, em geral ilícitos como jogos de azar, casos clandestinos, danças, festas e até assassinatos.



Depois de séculos sendo celebrado, o Carnaval de Veneza foi proibido em 1797, pelo Sacro Imperador Romano Francisco II, impedindo portanto o uso de máscaras também. Em público, né? Porque as festas particulares não deixaram de acontecer. Por quase dois séculos a festa foi adormecida, sendo resgatada já no século 19, mesmo que timidamente. Apenas em 1979 que o Governo Italiano percebeu o negócio lucrativo e interessante, o de resgatar a tradição da cidade, que a festa ganhou a projeção atual.

As máscaras têm propósito e nomes diferentes. A bauta, que cobre o rosto todo, também era usada para as mulheres irem ao teatro, pois nos séculos passados não era bem visto. É considerada a mais tradicional, porque permite que o usuário coma e beba com facilidade, sem ter que revelar o rosto. A versão mais simples dela é a Moretta, que encobre olhos e nariz, sendo amarrada atrás do cabelo. De origem francesa, foi sucesso entre as mulheres venezianas por acentuar os traços femininos. Dizem que a máscara moretta surgiu primeiro com mulheres que visitavam conventos e precisava ser presa apertando um botão entre os dentes, garantindo o voto de silêncio. A modernidade liberou o uso nas ruas também, especialmente a facilidade de amarrar.

As máscaras brancas, unissex, são as Volta Veneza, com aspectos fantasmagóricos que cobrem completamente o rosto. Também é chamada de máscara larva. em geral usadas também com uma capa preta e o chapéu tricorno preto. E por último, as mais elaboradas são as Columbinas, que saíram dos palcos da Commedia dell’arte e deixavam todas muito bonitas, hoje decoradas com ouro, prata, cristal e penas e as assustadoras da máscara do Doutor da Praga, que são as que tem um bico como um pássaro. Essas não surgiram do Carnaval, mas vêm do século 17, criadas pelo médico francês Charles de Lorme e usadas para proteger os médicos durante o surto da peste, os protegendo de doenças transmitidas pelo ar. Depois de um tempo, os carnavalescos adotaram a versão decorada como memento mori, uma lembrança de sua mortalidade.

Com a pandemia da Covid-19, era de se pensar que o uso de máscaras fosse ser perfeito para o Carnaval, mas as mortes e a falta de vacina suspenderam a festa em 2021 e 2022, sendo retomada com maior fôlego esse ano. E a grande novidade: a folia acontecerá também no metaverso, o evento batizado como Original Sign (Signo Original).

Isso mesmo, a cidade promove (já está rolando!) o carnaval digital, o primeiro de muitos. Mesmo sem estar fisicamente em Veneza, as pessoas vistam máscaras versões virtuais e passeiem pelos canais. São três ferramentas diferentes: no Instagram, em forma de um filtro especial; na Ready Player Me, com uma versão de si mesmo fantasiado e interagindo com outros foliões e na Rolbox, da mesma forma, com seis tipos de máscaras: Colombina, Pantalone, Bauta, Medico della Peste e Fenice, assim como a “Original Sign”, criada especialmente para este carnaval e criada por Massimo Checchetto, diretor artístico do Carnaval de Veneza.

A festa está rolando desde o dia 4 e vai até o dia 21. Em termos de Metaverso, é apenas o começo. A proposta é reconstruir a história de Veneza digitalmente, ampliando sua relevância e visita para mais pessoas. Incrível, não? A programação pode ser conferida aqui.

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