Uma família chamada Murdaugh

A pequena cidade de Hampton County, na Carolina do Sul, tem menos de 20 mil habitantes hoje, fica a pouco mais de 100 km da capital, Charleston, e está no centro do noticiário mundial graças às mortes de 5 pessoas, todas de alguma forma conectadas à uma única família: os Murdaughs.

Para nós que falamos português, perdemos a ironia da pronúncia do nome, que, com o sotaque sulista, soa como “murders”(assassinatos) o que nem é o mais bizarro de uma história assustadoramente impressionante. Hampton County fica no que se chama de Lowcountry, uma área pantanosa que fica ao longo da costa da Carolina do Sul, incluindo as Sea Islands e é onde a família de advogados se estabeleceu no início do século 20. Desde então, os Murdaughs vêm sido conhecidos como a “Lei” no condado, uma vez que se estabeleceram tradicionalmente como advogados e promotores públicos, cuidando de todos os casos criminais da região. Que em Hampton County eles fossem igualmente temidos, criticados e admirados, faz sentido, mas os crimes em torno de Richard “Alex” Murdaugh e seus filhos ganharam o mundo, em especial com os documentários disponíveis na Netflix. O mais recente, Os Assassinatos Murdaugh, foi disponibilizado ainda antes do recultado do julgamento de Alex, e é rico de imagens e depoimentos.

Todo universo e drama em torno dos Murdaughs lembra – e muito – a primeira temporada de True Detective, que está para voltar na HBO. Dois dos 5 mortos nem teriam tanta conexão, mas vistos em perspectiva traçam uma sociopatia de pessoas criadas em um universo de privilégios.

O primeiro crime que chamou a atenção nem foi o primeiro. Em 2019, Paul Murdaugh, o caçula de Alex esteve envolvido em um acidente de barco quando estava bêbado, provocando a morte de uma adolescente, Mallory Beach. O acidente era fatídico, mas o fato que os Murdaugh encobriram a culpa de Paul, tentando colocar a culpa em outra vítima. Se isso não bastasse, Alex sofreu uma “tentativa de assassinato” poucos anos depois e, em 2021, tanto Paul como sua mãe foram encontrados mortos – por Alex – na residência de verão da família. Ambos mortos à tiros. É por esses crimes que Alex hoje está preso e sendo julgado, porém há mais.

Em 2015, o adolescente Stephen Smith foi encontrado morto em uma estrada deserta, com um trauma contundente que a polícia classificou como atropelamento. Sem suspeitos, o caso ficou por isso mesmo mas Stephen, que era abertamente gay, era amigo do filho mais velho de Alex Murdaugh, Buster, que foi implicado no crime por algumas testemunhas. O caso foi arquivado sob a influência dos Murdaughs. Em 2018, antes da morte de Mallory e da “tentativa de assassinato/suicídio” de Alex, a polícia foi chamada para mansão do clã depois que a governanta, Gloria Satterfield, caiu da escada e bateu com a cabeça, morrendo em seguida como consquência do acidente. Não houve investigação ou autópsia, com Gloria oficialmente morrendo por “causas naturais”, mesmo contra a opinião de um legista. Alex interferiu em toda ação policial, assim como fez depois no caso de Mallory. Para piorar, Alex ficou com a apólice de seguro de $ 4,3 milhões que eram para os herdeiros de Gloria, desviando o pagamento do seguro para sua conta.

Com os assassinatos de Paul e de sua mãe, Maggie, ficou mais difícil para Alex exercer mais influência e ele está respondendo por esses crimes no seu julgamento. Ficção perde para tanta virada surpreendente. Por isso vale – e muito – conferir o documentário da Netflix. Até para ver os próximos capítulos.

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