Ted Lasso: a hora de mudar é sempre a mais difícil

Ainda não entendi como chegamos ao segundo episódio da última temporada de Ted Lasso sem endereçar como o romance entre Rebecca Welton (Hannah Waddingham) e Sam Obisanya (Toheeb Jimoh) está caminhando ou se parou há algum tempo. O que quer esteja acontecendo, foi em bons termos, mas me parece que já acabou. Afinal, o foco da empresária voltou a ser reagir às maldades de Rupert Mannion (Anthony Head), um homem cruel cujo passa-tempo favorito é despertar o pior das pessoas. Aliás, já nasceu o filho dele? O que houve com essa sub-trama?

São algumas perguntas sem resposta mesmo. A professora de Phoebe que abalou o romance entre Keeley Jones (Juno Temple) e Roy Kent (Brett Goldstein) também desapareceu. Nada que seja importante, aparentemente. O tema central da temporada parece ser decidir quando parar/sair/voltar, ou, como Ted (Jason Sudeikis) se questionou: saber o que estamos fazendo onde estamos.

O fato de que o técnico segue sem entender as regras do jogo, pensar em estratégias sem usar a dos outros ou sequer saber os nomes dos maiores jogadores do mercado já perdeu a graça no final da primeira temporada e só reforça o fato de que Nate Shelley (Nick Mohammed) tem alguma razão no seu ressentimento. São em alguns pequenos rompantes que Ted mostra ser um homem de pulso e não o falastrão sem noção: quando despejou em Nate sua frustração por estar se divorciando, na 1ª temporada, e quando se encheu de ver que Roy estava perseguindo Trent Crimm (James Lace), o ex-jornalista que agora está escrevendo um livro sobre Lasso e o AFC Richmond, que estava recebendo o gelo dos jogadores. Ted tem uma coragem invertida de encarar constrangimentos: não foge da raia e não curte quem o faz.

Daí vem uma das surpresas do episódio, amarrado em várias situações. Os algozes de nossa saúde mental, da nossa auto-estima vêm do passado e em diferentes papéis. Trent despejou seu veneno quando escreveu sobre um iniciante Roy anos atrás, minando para sempre a auto-confiança que o jogador tinha de si, colaborando para a construção da muralha cínica e agressiva de Roy que jamais esqueceu as duas palavras sobre ele. O jornalista confirma que o fez também por insegurança, precisava provar que era um repórter sagaz naquela época e como ambos vieram longe, as desculpas são aceitas.

O mesmo não acontece com Rebecca e Rupert. Ela comenta com Keeley o método eficaz de ataque do ex-marido: ser encantador, persistente e fazer com que “você se sinta única e especial”. Ele venceu o cinismo dela anos atrás, quando ela percebeu que seria uma enrascada se envolver com ele, mas o jogo foi eficaz e agora ela está presa às reações negativas que ele sabe despertar nela. É o que ele está fazendo com Nate e tenta fazer com o novo jogador, Zava, mas ‘perde’ para Rebecca.

É interessante como Ted Lasso é coerente com Rebecca. A série nasceu do problema dela nessa relação doentia com seu ex, mesmo com sucesso e novos romances, é seu ego ferido que tira o pior dela e Ruppert se delicia em mexer na ferida. Ou seja, no espelho de todas relações, Rebecca tem um fraco quando se trata dele, mas tem mais vitórias do que costuma contar. Ruppert não se conforma com a autonomia de sua ex e a batalha nos incomoda. E entretem.

Ted quase desmaia quando sabe da separação do casal que ajudou a formar e – como todos – não entende a razão do fim de Roy e Keeley. Mas temos a dica. A assessora de imprensa foi uma das mais reconhecidas “Maria Chuteiras”, se expondo (literalmente) em fotos sensuais, aceitando ser apresentada como objeto e pulando de uma relação para outra com jogadores. Suas melhores amigas seguem assim, como Shandy (Ambreen Razia), uma mulher inteligente, mas sempre ligada à jogadores. Shandy é quem lembra Keeley a importância da separação de Roy: ela é uma mulher independente e que alcançou o sucesso SEM devê-lo a nenhum namorado ou marido.

Apenas mulheres sabem o que é viver à sombra de seus relacionamentos, mesmo que Roy não seja um cara ruim.  E não, ela ainda não conseguiu provar ela mesma para as pessoas. Até mesmo sua Diretora Financeira, Barbara (Katie Wix), demonstra preconceito com sua chefe, julgando sua habilidade profissional  por conta de seu passado e aparência. E quando Keeley finalmente a confronta as coisas parecem se alinhar.

Sem Nate para se provar, Ted tem agora o espelho em Roy. O ex-jogador “volta para casa”, no caso um jogo contra seu ex-time, o Chelsea, e é homenageado pela torcida carinhosa. O conflito entre o que tinha com o público em contraste com que ouvia da imprensa geraram uma insegurança nele, tanto que, quando achou que ia perder tudo por não saber quando parar, antecipou sua aposentadoria para manter a aparência de controle na sua vida. Porém, como confessa, não curtiu o que tinha quando o tinha, algo que sem perceber reforça em Ted seu próprio questionamento. O técnico americano está contemplando voltar para os Estados Unidos e ficar perto de seu filho, ainda mais que sua ex-mulher já está seguindo em frente com sua vida. A dúvida de Ted não é a volta, mas quando deve voltar e está parecendo que será em breve.

O segundo episódio foi mais falho do que o usual brilhantismo, com a mão forçada em situações “engraçadas” com o time e os pontos soltos serem meio óbvios. Mas eu acredito em Ted, portanto foi apenas um tropeço.

Antes que eu me esqueça aqui vai meu palpite sobre o que vai acontecer no final da temporada: Ted Lasso será convidado para ser o técnico da Seleção de Futebol americana, que vai sediar a Copa de 2026 (com o Canadá e México). Por isso vai deixar Londres e o AFC Richmond. O caminho está todo desenhado. Mas antes disso, terá que enfrentar Nate e ajudar a Rebecca a superar Rupert. Roy e Keeley? Já são nosso Rachel e Ross…

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