Ted Lasso está em uma fase delicada. Já conhecemos as personagens (quase todas) e como elas funcionam. Alguns segredos ainda persistem, mas, em geral, sabemos o que esperar e aí fica o impasse: como ser respeitoso e surpreendente ao mesmo tempo?
O problema não é privilégio da maravilhosa série da Apple TV Plus, várias outras como Shitt’s Creek (exemplo mais recente) passaram por isso. Mas, como fã, sigo apreciando a narrativa e os pontos sendo amarrados.
Primeiro, Ted (Jason Sudeikis). Na 1ª temporada ele confessou para Rebecca (Hannah Waddingham) que o segredo de ter aceitado o convite para conduzir o AFC Richmond tinha motivação pessoal: o conselheiro matrimonial que estava cuidando dos problemas dele com sua esposa, recomendou que Ted se distanciasse dela, para que pudessem reavaliar a relação. O resultado a gente sabe, sua ausência acelerou a decisão pelo divórcio. Como o técnico explica na 2ª temporada, a terapia só fez mal a ele, que sentia que não havia uma abertura para entender o que poderia ser salvo, mas que eram momentos onde o analista listava os problemas e defeitos dele. Portanto, agora entender que esse mesmo analista é o atual namorado de sua ex-mulher? Difícil se concentrar no jogo, né?
O arco de Ted Lasso está mais do que desenhado e a questão será quando vai decidir voltar para os Estados Unidos para pelo menos estar perto de seu filho, Henry. Pelo menos ele segue a terapia (uma mensagem importante!) e mesmo com as ameaças dos ataques de pânico, conseguiu se manter firme.
Outras histórias meio obvias são as românticas: Rebecca se arrependendo de ter se separado de Sam (Toheeb Jimoh), Roy (Brett Goldstein) e Keeley (Juno Temple) também sofrendo, mas seguindo em frente… teremos momentos “Jerry Maguire” mais à frente. Rebecca então, já sabemos que vem com o clichê da chuva e o ‘príncipe encantado’.

Uma pausa aqui. Sou do time que chipa Rebecca e Ted, portanto me deu uma esperança nos sinais mencionados pela vidente: que o ‘cavaleiro’ vem salvá-la — na primeira temporada esse era o código de Ted ao ajudá-la enfrentar Rupert (Anthony Head) — e o fato de que ela “será mãe”, o maior trauma que ela tem, não ter conseguido engravidar. Ser mãe não precisa ser biológica… pode ser que, com Ted, ela ganhe Henry como filho. Forçando a mão, mas é fato! Por hora começou o caminho quando ela recebeu a caixa verde de fósforos, para que entenda o que vem pela frente. Ok, pode ser que ela se case com Sam e engravide, mas espero que não.
E agora o 4-5-1, ou a estratégia de jogo “retranqueira”, o título do episódio. Ao adotar esse esquema tático, aparentemente se perde a habilidade ofensiva, porque se apóia em um atacante, quatro jogadores de defesa e cinco no meio campo. É o esquema que a estrela Zava (Maximilian Osinski) impõe e todos (menos Ted, que aceita, mas não compra) adotam com fé cega. Obviamente, ou por sorte, dá certo. Zava não é bem “parte do time”, o que preocupa Ted e incomoda Jaime (Phil Dunster), mas dá resultado e é o que precisam. Por hora.

Embora não esteja quase em cena, Nate (Nick Mohammed) tem acompanhado a ascensão do Richmond com o diferencial Zava (aliás, com a imagem de um Rupert irritado tive a resposta sobre sua filha e esposa) e vamos combinar: Nate faz falta para o Richmond. Nate é estratégico e brilhante no planejamento tático e até agora a virada do time comandado por Ted Lasso está 100% dependente do talento de um jogador. Se Nate o anular, ganha. O novo Nate não vai poupar as alternativas que tiver para fazer isso. O jogo vai ficar sujo.
A evolução de Jaime, muito mais culto do que os outros o creditaram ser (seu vocabulário é superior a de todos juntos quando precisa), está onde jamais se imaginava: tendo que se provar com talento e finalmente tendo alguma competição na figura de Zava. A entidade do jogador lendário ainda não conectou com ele, mas Roy finalmente vai adotar Jaime como seu pupilo. Jaime ainda pode brilhar e essa dinâmica vai ser boa.
Ted Lasso sendo a série que é já colocou em pauta outro tema sensível no mundo do futebol: a sexualidade de seus jogadores. Colin (Billy Harris) é gay e ninguém ainda pescou a informação. Com essa perspectiva, vê-lo ouvindo as “piadas” dos colegas, ter sido agressivo com Nate no início da série e agora estar para ser exposto (duvido que Trent Crimm (James Lace) deixe passar a notícia do que testemunhou), ganha outra dimensão.
Colin era um cara chatinho e sem personalidade, que seguia os comandos de Jamie Tartt e era ultra cruel com Nate. Quando a situação virou e Nate teve a chance de intimidá-lo, sentimos por ele porque havia algo ali que não estava claro. Como tudo em Ted Lasso, as dicas obvias estavam lá, mas agora é o novo tema. Seu relacionamento com Michael (Luke Ashton) certamente será explorado por Nate de forma errada, afinal atletas abertamente gays ainda encontram preconceito em todos os lugares, mas, em especial no futebol profissional masculino. Se Zava se espelha em Zlatan Ibrahimovic, Colin é inspirado em Jake Daniels, do Blackpool, o primeiro jogador a se assumir desde 1990.

Então estamos quase chegando à metade da temporada, parecendo que será impossível amarrar todas as histórias, mas confio em Ted Lasso. Me trouxe uma sensação agridoce de perceber que está mesmo na hora de parar para que fiquemos com o gosto do quero mais, mas temos o suficiente para ansiar nas próximas partidas.
Infelizmente receio que o nosso favorito Trent Crimm terá que escolher ser um bom repórter ou uma boa pessoa. No final da temporada passada ele tentou as duas coisas e não alcançou seu objetivo. De alguma forma a vida pessoal de Colin vai sofrer a interferência do ex-repórter do The Independent. Será que vão partir para o ataque ou manter a retranca?
O grande jogo será contra Nate e poderemos sofrer e conferir tudo semana que vem. O tempo não passa rápido o suficiente!