O vestido da Rainha Camilla

Quando Elizabeth II subiu ao trono, em 1952, ela sabia quem queria que fizesse seu vestido: Sir Norman Hartnell, o estilista das estrelas de Hollywood e da nobreza inglesa. Ele foi o designer que assinou seu vestido de casamento cinco anos antes por isso mesmo perfeito para o desafio. Em oito meses ele criou o longo de cetim branco e bordado em dourado e prata com emblemas do Reino Unido e do Commewealth, considerado o mais importante usado pela soberana e emblemático da Casa Windsor. Por isso, com coroação de Camilla como Rainha Consorte, ao lado de Charles III gerou tanta curiosidade, afinal, o que ela usar no dia 6 de maio será de relevância histórica. O eleito foi Bruce Oldfield.

Seus modelos facilmente estão entre alguns dos mais reconhecidos no mundo, graças à sua relação próxima com a Família Real britânica. Depois de uma parceria de 10 anos com a Princesa Diana (notoriamente seus primeiros anos, entre 1980 a 1990), atualmente ele é um dos favoritos de Camilla. Em tempos polarizados, os fãs de Diana naturalmente ficaram chocados e até ofendidos com a escolha, como se ele fosse exclusivo de Diana ainda hoje, mas a verdade é que Bruce já tem trabalhado com a Rainha consorte há muitos anos, sendo uma escolha natural e acertada. Como ele mesmo definiu em uma entrevista recente, ele deu glamour à tímida Diana e confiança à uma madura Camilla.

Bruce Oldfield é um dos estilistas mais famosos do mundo, tendo explodido ainda nos anos 1970s e atualmente com vestidos usados por Kim Kardashian, Taylor Swift e Rhianna, entre outras. Com 73 anos, ele venceu várias batalhas pessoais, a começar pela infância complicada por ser filho de uma mãe solteira irlandesa branca com pai jamaicano negro. Bruce passou os primeiros seis meses de sua vida hospitalizado, com gastroenterite, e jamais conheceu seus pais biológicos que o deram para adoção. Foi criado com muito amor por uma costureira a quem credita seu amor por roupas, sendo que seus primeiros modelos foram para boneca de sua irmã adotiva.

Desde cedo lidou com racismo e uma gagueira que driblou sozinho, se apoiando em sua determinação e arrogância (nas palavras dele) para ser alguém. Entrou para faculdade de Artes com apenas 18 anos e logo se destacou. A primeira a ver seu talento foi a editora da Vogue inglesa nos anos 1960s, Judy Britten, mas foi a editora do Women’s Wear Daily London, Joan Juliet Buck, que o recomendou como estilista para a rede de lojas americana Bendels, que o levou para Nova York e encomendou sua primeira coleção. Quando voltou para Inglaterra no início dos anos 1980s, já famoso e requisitado, teve um choque pois o Reino Unido passava por um período de recessão com as ruas repletas de lixo e as pessoas sem dinheiro. Foi quando uma princesa mudou sua vida para sempre.


Nos primeiros anos de seu casamento com Charles, Diana era vista com vestidos largos, fechados, e quase professorais. Com talento nato para lidar com sua imagem, ela decidiu que precisava mudar e foi com Bruce Oldfield que deu a virada para virar ícone fashion. A parceria começou quando a princesa pediu um modelo especial para o evento de acender as luzes de Natal da Oxford Street. Deu tão certo que ela passou a usar todos os vestidos mais glamurosos assinados por ele. Talvez o mais famoso seja o de lamê prateado brilhante com ombreiras angulares, costas nuas e uma saia ampla. É difícil eleger apenas um.

Para os que ainda o apontam como o “favorito de Diana”, é importante lembrar que a dobradinha com a princesa acabou (segundo ele diz, ‘abruptamente’) quando ela o trocou por Catherine Walker, no início dos anos 1990s. O costureiro mantém a certeza de que foi ele quem colocou Diana na “direção certa” para criar sua assinatura, mas se irrita quando esquecem que já tinha uma carreira de sucesso antes e depois dela.

Sua associação com a sucessora (e inimiga) de Diana, Camilla, foi natural e parecida. Assim como a princesa, a Rainha Consorte também precisou criar um look mais glamuroso, especialmente depois de seu casamento com Charles, afinal são muitos eventos oficiais, banquetes e cerimônias. Bruce a ajudou na transição. O vestido longo, estreito e turquesa claro com top de renda assinado por ele foi um dos destaques da viagem dela ao Sri Lanka e mesmo que Camilla também use com frequência modelos assinados por Stewart Parvin, sua confiança no estilista foi confirmada ao escolhê-lo para criar o vestido da Coroação.

Certamente o fato de que ele seja reconhecido por sua genialidade na construção de espartilhos internos – ideal para prender figuras de meia-idade – o fato de ser britânico também pesou na decisão. Sempre discreto, Bruce evitar falar de sua cliente mais famosa, mas está feliz com o desafio, que veio em boa hora. Durante a pandemia, ele precisou fechar seu ateliê, que funcionava há 50 anos no mesmo endereço e depois de vencer um câncer por duas vezes, se sente mais do que pronto para deixar sua assinatura no evento mais importante da Monarquia britânica nos últimos 70 anos: a coroação de um novo Rei e uma nova Rainha. Nem vimos ainda, mas o vestido de Camilla certamente será estudado e comentado por anos à frente, eternizando Bruce Oldfield para muitas gerações.

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