“Você já venceu. Você tirou aquele palhaço da sua vida”.
Se apenas Rebecca (Hannah Waddingham) entendesse isso. Mas ela ainda não está convencida e de alguma forma segue perdendo tempo olhando para trás. Sabe de uma coisa? Não a culpo.
Como parte do time #tedbecca, que torce pelo romance entre ela e Ted Lasso, me assusto com o grau de trolagem dos roteiristas da série Ted Lasso. Há três anos nos provocam sem menor perdão, mostrando o casal perfeito que ainda não se deu a menor chance. Faltam apenas 4 episódios para acabar!
E o cenário está complicado: Ted nem desconfia do caso que Rebecca teve com Sam, mas ela está mais do que acompanhando o relacionamento aberto dele com uma de suas melhores amigas, Sassy. A vantagem é que ela SABE que o que há entre eles não é nada sério e que o fato dele ter considerado transformar o sexo casual em namoro foi apenas uma tentativa de seguir em frente com a vida dele. Em outras palavras, não atrapalha em nada os dois. Ao contrário, mostra que ele pode estar pronto.
O grande problema para Rebecca ainda está no passado. Não importa quantos amantes ou caras legais que passem em sua vida, ainda é Rupert (Anthony Head) que a destrói. Esse vilão sem menor pudor ou profundidade é o Iago na vida dela e de Nate (Nick Mohammed), e também é o antagonista de Ted (Jason Sudeikis). Mais ainda, é o homem que todas nós odiamos. Rico, poderoso, nojento e tóxico. Mais ainda, Rupert é cruel. Ainda bem que Rebecca explicou seu modus operandi para que a gente tenha a resposta de como ela foi cair no papo dele. E sim, ela tem tudo para vencer.

A trajetória de Rebecca representa muitas mulheres maduras. Seu casamento de 12 anos com Rupert tirou dela um tempo vital para ser feliz: abriu mão da maternidade (escolha dele), se afastou dos amigos (escolha dele), não trabalhou (escolha dele) e mesmo assim, foi traída Até que se cansou e pediu o divórcio.
Portanto foi como um plano de vingança contra Rupert que Rebecca, que ficou com o time de futebol que ele tanto ama, trouxe Ted Lasso para sua vida. Ela queria atingir o ex com a única coisa que ele realmente se importa: uma derrota no futebol. Quase conseguiu, mas paradoxalmente mesmo rebaixando o AFC Richmond, foi a vitória pessoal de Rebecca que afetou o ex-marido. Ela se descobriu uma ótima empresária, se reconectou com amigas do passado, fez novas e importantes confidentes (Keeley) e até já teve namoros e flertes. Embora pareça que seja o futebol que o atinja, é o fato dela estar forte que faz Rupert voltar tantas vezes à sua vida.
Homens tóxicos como ele havia às pencas numa sociedade em que priorizava o homem nos relacionamentos, qualquer um e, em particular, os emocionais. Até recentemente, uma mulher sem marido era vista como fracassada, complicada e uma pária.
Rupert representa todos esses homens com perfeição.

Em um universo complexo como o de Ted Lasso, é de se estranhar como Rupert é um homem simples. O jogo dele é ver as pessoas sofrerem, é levar a vantagem sempre e ter prazer em destruir. Não precisa ser agressor físico, ele é frio, calculista e paciente. Age suavemente e consistentemente. E pode ainda fazer muito mal a mais pessoas.
Um dos maiores poderes de Rupert é o de observação. Sabe identificar com facilidade os pontos fracos das pessoas. Obviamente no caso de Rebecca, após um casamento de 12 anos tem uma vantagem ainda maior para sua maneira de ser e até o momento, mesmo o enfrentando com muita classe, Rebecca não tem a habilidade de disfarçar sua vulnerabilidade.
Para machucar Rebecca, boicotou um leilão que ela organizou e ainda doou £ 1 milhão para fazê-la parecer sovina. Começou a namorar uma mulher significativamente mais jovem cujo nome também é Rebecca, com quem se casou e teve uma filha em menos de um ano. Para atormentá-la ainda mais, primeiro comprou a participação minoritária em Richmond para permanecer na vida da ex. Quem esquece que ele escolheu o funeral do pai dela, para anunciar a compra do West Ham United e fechar a temporada contratando Nathan?
Só há uma pessoa que encarou Rupert de frente: Ted Lasso (Jason Sudeikis).

Vindo de outro país e com outro objetivo, Ted não depende em nada de Rupert. Ele só aceitou o desafio de trabalhar com futebol para se distanciar de um casamento fracassado, para ter espaço para um divórcio dolorido. Ele quer o melhor para o time, para as pessoas em geral, mas sua prioridade é outra.
Rebecca e Ted se completam, passam pelas mesmas coisas ao mesmo tempo e a Paz que sentem quando estão juntos é o combustível para a campanha #tedbecca. Mas o que faz de Ted o homem para a situação é, para começar, o fato de que ele é homem. Rupert, machão tóxico, sabe manipular o jogo com participantes mais fracos, mas não encara um Ted de frente. Já o subestimou nos dardos e foi humilhado abertamente, ainda assim, acha que pode destruí-lo. Se apenas Ted se importasse com ele.
Ted cresceu cercado de homens como Rupert, precisa de muito mais para tirá-lo da jogada. E ele avisou isso no embate do pub. Por saber que Nate foi mais uma peça dessa estratégia que Ted é tão empático com o ex-assistente, e embora discorde do perdão, é algo que só faz Ted ser genuinamente incrível.

Eu torço para um novo jogo de dardos antes da série acabar. No campo de futebol, Rupert lida com terceiros fazendo a partida por ele, covarde como sempre. É o brilhantismo de Nate nas estratégias, são os jogadores fazendo gols e as regras do futebol sendo usados para seu benefício. Na vida, Ted é bem mais preciso do que no gramado.
Rebecca ainda está com o ego ferido, ninguém a culpa. Mesmo sendo o cara desagradável e abusador de sempre, Rupert usava contra ela as coisas que “descobriu com outra”, como alegou no caso da paternidade quando dilacerou o coração da ex-mulher ao afirmar que só estava esperando pela pessoa certa para ter um filho. Nem mesmo ela vendo que ele não mudou em nada (traindo a nova Rebecca com a secretária), deu à Rebecca a certeza de que já ganhou, como Ted comentou. A maior vitória dela é ser feliz, e como #tedbecca, apenas um homem a fará entender isso. Seu nome? Ted Lasso.