Chegamos à metade da temporada final de Ted Lasso e assim começa a estrada da redenção de Nate Shelley (Nick Mohammed). Mas alô showrunners da série: Nate Shelley não tem perdão!

A série é tão bem amarrada que o caminho de Nate sempre foi alertado desde o início, seu recalque e seus problemas pessoais sempre conduziram sua atitude de falsa humildade, e foram os mesmos recalques e problemas pessoais que o conduziram a não apenas trair Ted (Jason Sudeikis), mas continuamente tentar humilhá-lo, diminuí-lo e até destruí-lo. Nate fez uma escolha e contextualizá-la é uma das grandes qualidades de Ted Lasso. Mas, entender como ele cai nas próprias armadilhas não significa que ele é uma vítima. Por favor, Ted Lasso, Nate não merece perdão.

Como já analisei aqui, Nate e Ted tem uma relação complexa, porém unilateralmente complicada. Ted faz sempre o que tala, ele não é de curvas ou atalhos. Ele está 100% certo? Claro que não. Sua escolha por positividade custou o casamento, o rebaixamento na primeira temporada e a sua relação com Nate na segunda. Para salvar Roy Kent (Brett Goldstein) e Jamie Tartt (Phil Dunster) acabou criando outro monstro – Nate – que ele relegou ao segundo plano.

A positividade de Ted – que ele claro vê como algo acima da raiva e da mágoa – o fazem ser passivo, ausente e até inconsequente, sem entrar no campo da clara incompetência para a função que foi contratado: comandar estrategicamente um time de futebol. Sim, Nate tem razão de ter crescido em sua frustração de fazer o trabalho e ver Ted Lasso recebendo o mérito, mas não era Ted jamais roubou idéias ou as fez parecerem ser suas. Ted Lasso é uma ótima pessoa, íntegro e grande líder, mas ser vê mais confortável como técnico motivacional, por isso se abalou tanto com a chegada da verdadeiramente profissional da área, Dra. Sharon Fieldstone (Sarah Niles). Aliás, com sobrenome perfeito – pedra no campo – que é figurativo e literal para ele. Não importa quanto as pessoas que o apoiem implorem que ele para minimamente contrabalance sua estratégia, assumindo algumas atitudes de forma mais assertiva, ele se recusa. É sua escolha e ele lida com as consequências.

E a fórmula deve, espero, se aplicar para Nate. Chega de vitimizar escolhas erradas, todos nós a fazemos em circunstâncias diferentes. Já entendemos que a trajetória dele é a de uma boa pessoa que derrapa, que é convencido de se tornar o que abomina, que se transforma no monstro que o aflige. Afinal, Nate tem um pai dominador, que aniquilou sua auto estima e é apenas com essa figura paterna – a que sempre nega reconhecimento e amor – que ele sabe lidar. Outro ponto que interfere nas escolhas dele é que, por ser filho de imigrantes, Nate também lida diretamente com racismo (declarado e estrutural), por isso, ao deparar com um cara que tem aparente cabeça no lugar (Ted), e que é indiferente ao que pensam dele, se projetou em Ted, caindo numa armadilha que vimos no que deu.

Eu realmente desgosto ainda mais de Nate quando o vejo bancando o arrependido. Como assim fala de sua saída do AFC Richmond como se tivesse saído sem falar com Ted? Deu amnésia daquela conversa dura na qual jogo na cara do técnico a incompetência dele? E o fato de que contou para Trent Crimm sobre os ataques de pânico? Esqueceu que ficava falando mal de Ted para os colegas? Não, Nate, de forma alguma ‘saiu de forma abrupta’. Você deliberadamente rompeu com Ted e a equipe, ficou irritado com a vitória deles e decidiu humilhar a todos rasgando o cartaz do BELIEVE. E seguiu os ridicularizando nas entrevistas, sendo mal educado com Ted publicamente. Nate é uma pessoa ruim, aquela que julga que “merece” o melhor, mas não entende que escolhe o caminho errado para alcançar.

A preconceituosa e racista Jade hoje deu a resposta que ele merece. E daí que agora seja famoso? Ele ainda é o mesmo cara fraco, invejoso, orgulhoso e que agora que acha que conseguiu, quer assoprar nos que considera pior do que ele. Oi, equipe de roteiristas de Ted Lasso: Nate não é vítima, Nate não é (mais) um cara legal, se é que um dia foi. Nate não merece nosso perdão.