Os (possíveis) enganos de The Mandalorian

Como publicado no Correio do Estado

Serei massacrada pelo texto aqui, mas tenha a certeza que minhas questões são genuínas. Sou apaixonada por Star Wars e The Mandalorian, mas, a um episódio para encerrar a terceira temporada, me incomoda como maltratam nosso herói. Opa, aviso: SPOILERS em toda a coluna!

O penúltimo episódio da terceira temporada trouxe finalmente nosso (suposto) protagonista em um momento heróico incrível, onde enfrentou sozinho um batalhão antes de ser capturado pelo vilão, Moff Giddeon (Giancarlo Esposito). Mesmo assim, foi ofuscado. Juro! Eram tantos mandalorianos fazendo tanto ao mesmo tempo que só me toquei que era Din Djarin com os créditos rolando. O que me faz voltar atrás e listar as armadilhas de The Mandalorian.

Fãs celebraram quando em 2019 a Disney lançou o conteúdo originalíssimo, idealizado e dirigido por Jon Favreau, trazendo um ator como Pedro Pascal, que tem grande base de admiradores no papel título, e, de quebra, apresentou outra personagem original que viria a roubar a cena: o bebê Yoda, ainda sem nome.

Seguindo uma premissa de western intergalático, a ação da nova série se passa cinco anos depois de O Retorno do Jedi (que marcou a morte de Darth Vader) e tem em Din Djarin, o mandaloriano do título, como um solitário caçador de recompensas que foge para proteger um bebê da espécie de Yoda, que é alvo de desejo dos apoiadores do antigo Império.

Já nessa primeira fase alguns problemas deram os sinais de estranhamento, mesmo com todas indicações à prêmios e elogios da crítica. A começar que Pedro Pascal jamais mostra seu rosto, sempre escondido por um capacete, meio que tornando o papel algo como o de Darth Vader (que era dublado por James Earl Jones em pós produção). Pra que ter Pedro Pascal no elenco se vai esconder seu rosto? Sua voz não é especialmente possante ou marcante, é sua habilidade de expressar emoções com o rosto (que não vemos).

Seguindo. O bebê Yoda não fala uma palavra, o que é fofo e lindo, porém o deixou sem nome até a segunda temporada, quando foi encontrada uma alternativa para que se descobrisse que o nome dele é Grogu. E mais ainda, com cada episódio sendo uma aventura quase independente, nem sempre (ou poucas vezes) o protagonismo estava com a personagem que dava nome à série. Pedro estava mais em um ensemble cast do que uma série sua. Para piorar mais ainda, se o público não for bem versado no universo Star Wars além dos filmes, não entende boa parte de quem entra e sai das aventuras. Ainda assim, engajou, emocionou e vendeu. Tanto que gerou spin-offs como The Book of Boba Fett e as futuras Ahsoka e Skeleton Crew, e ainda o projeto de um filme para concluir as histórias interconectadas.

Muitos se perguntam a razão de que ainda escondam o rosto de Pedro Pascal e não o tenham colocado do lado dos mandalorianos que não seja da linha radical de nunca tirar o capacete. Ele “quebrou” o juramento por Grogu e em vez de ter sua virada, ao voltar na terceira temporada, fez de tudo para “recuperar o direito de estar entre os que escondem sua identidade”.  Em apenas dois episódios conseguiu completar a missão. Arco enxuto esse, não?

Desde então, estamos acompanhando a trajetória dramática da princesa Bo-Katan Kryze (Katee Sackhoff), a provável “mandaloriana” do título agora. Ou seria Grogu, que é meio-jedi e meio-mandaloriano? Não sabemos. O nome da série é no singular, mas são múltiplos mandalorianos que nos são apresentados. Inclusive, como falei na abertura da coluna, mesmo quando finalmente Din é o grande herói da batalha, é ofuscado por outro. A morte de Paz Vizsla (Jon Favreau) é muito mais dramática e tem mais destaque do que a captura de Din. Como assim?

Sem surpresa, circulam rumores de conflitos nos bastidores desde a segunda temporada de que Pedro anda insatisfeito e que nem deve retornar para a parte final da história (o filme). Daí agora passa a ser considerado ‘proposital’ ter mais de um mandaloriano para ter alternativas à crise. Efeito do ovo ou da galinha, né? Para piorar, a captura de Din pode sinalizar um “momento Han Solo em Star Wars O Despertar da Força“. (façam o google para que eu não estrague ainda mais o que quer dizer).

Obviamente é um palpite pessoal. Eu estava torcendo que sua servidão à Bo-Katan fosse um romance (sou sempre pelos corações em chamas!), mas chegamos à conclusão da série na semana que vem com esse relacionamento com cara de improvável.

Além de esconder sua estrela e tirar dela o protagonismo, The Mandalorian criou um problema com Grogu também. A essa altura, sua atitude de criança e seus grunhidos fofos são aqueles momentos em que nossas reações superam o raciocínio, porém ele não domina a Força, não luta, não fala, não confia em quase ninguém. Finalmente, vimos o grande trauma de sua vida (ter testemunhado o massacre da Ordem 66, a que determinou o extermínio dos Jedis), mas, sem comunicação, ficou por isso mesmo.

São oportunidades perdidas que a gente lamenta, trocadas por sequências de ação incríveis (que também amamos). A conexão de Grogu com Din Djarin, ele mesmo um órfão também traumatizado de ter testemunhado o massacre de seu planeta, fica na sugestão. E a liderança do mesmo Din Djarin, uma espécie potencial de Jon Snow no universo de Star Wars, é irrelevante perto de Bo-Katan.

Embora eu pareça estar detestando tudo, na verdade estou lamentando que poderia ser ainda melhor. As primeiras palavras de Grogu, com um método só entregue no penúltimo episódio da terceira temporada, refletem muito do que sentimos. Duas palavras repetidas: Sim, Sim, Sim. Não, Não, Não. Binário como tudo em tempos de algoritmo. Fico na torcida de engolir meus receios e minhas críticas com o final da temporada semana que vem…


Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s