Com a liberação de três episódios por semana, até o metade de maio teremos dito adeus à Maravilhosa Sra. Maisel, uma das séries mais premiadas e importantes da plataforma da Amazon Prime Video. Foram cinco temporadas, iniciadas em 2017 e que renderam vários prêmios, inclusive Emmys de Melhor Atriz (Rachel Brosnahan), Atriz Coadjuvante (Alex Borstein), Ator Coadjuvante (Tony Shalhoub) e Ator (Luke Kirby), além de direção, roteiro e Melhor Série de Comédia. Embora a fórmula de “oners” – cenas longas de apenas uma tomada e muito diálogos – se mantenha, a série tem dado pulos no tempo já nos mostrando como será o futuro das personagens em 20 e poucos anos, trazendo elementos novos para a narrativa.
Começando entre os anos finais dos anos 1950 e início dos anos 1960, A Maravilhosa Sra. Maisel é a história de Miriam “Midge” Maisel, uma dona de casa “perfeita” de Nova York que, ao ser surpreendida com a separação do marido, Joe (Michael Zegen), um comediante frustrado, descobre ter ela mesma um talento especial para comédia stand-up, chocando a todos quando decide seguir carreira nisso. Embora fictícia, a trajetória de Midge Maisel cruza com personagens verdadeiros, como Lenny Bruce (Luke Kirby) e outros, mas ela mesma é uma mescla de duas comediantes femininas: Joan Rivers e Totie Fields, especialmente Joan, cujas vidas marcaram a infância da showrunner, Amy Sherman-Palladino, que cresceu ouvindo histórias sobre elas mencionadas por seu pai, um comediante de stand-up baseado na cidade de Nova York.

Midge é uma personagem complexa, menos complicada que Debora Vance (Jean Smart) de Hacks, mas na mesma linha. O humor de stand-up ainda hoje é um universo bem machista, na época então era bem pior. O conservadorismo reinante julgava ainda mais as mulheres que ousassem trazer palavrões ou outros temas menos “femininos” para o palco e boa parte das piadas de Midge são de seu cotidiano, expondo parentes, amigos e filhos por uma boa risada. Sua personalidade aparentemente suave esconde uma ferocidade atroz, uma que frequentemente a coloca com problemas, o principal deles o de avançar em sua carreira.
Na despedida, os avanços no tempo nos mostram algumas coisas importantes: Midge será famosa e rica; terá muitos outros romances e casamentos (adorei a homenagem à Carrie Fisher colocando Midge como ex-mulher de Paul Simon), terá problemas com os filhos que já mencionamos inúmeras vezes serem relegados à segundo plano por ela, mas, acima de tudo, terá rompido com sua principal incentivadora e confidente, Suzy Myerson (Alex Borstein) que foi a primeira pessoa a identificar e acreditar no seu potencial de comediante. A série ainda não mostrou nada que possa levar as duas a deixar de se falar e depois de TUDO que sobreviveram, chega a ser assustador imaginar o que possa levar ao rompimento.
A fórmula do sucesso de A Maravilhosa Sra. Maisel está no talento do texto combinado com a química do elenco, porém já se sentia desgastada nas duas últimas etapas da história. As auto-sabotagens de Midge a afastam do sonhado sucesso e a “sorte” providencial que a salva materialmente soa fantasiosa demais. Ela está determinada a vencer e vemos que alcançará o objetivo, o que alivia vê-la, de novo, multiplicando os já difíceis obstáculos em sua vida.
Tem tudo para ser uma ótima temporada final. Vai se despedir ainda maravilhosa.

