Amores Eletrônicos: quando a IA tem ciúme

No embalo da banda AIsis, fica a questão: IA pode escrever canções?

Segundo o cinema, sim!

Em 1984, na cola da fórmula – história de amor em clipes musicais, popularizada com Flashdance – Em Ritmo de Embalouma comédia romântica, Amores Eletrônicos (Electric Dreams), teve uma curta vida nos cinemas, mas grande sucesso nas rádios. Com trilha sonora assinada por Giorgio Moroder incluía sucessos como a canção Love is Love, do Culture Club, Amores Eletrônicos é uma versão de Cyrano de Bergerac em tempos eletrônicos. Em outras palavras, o triângulo amoroso é entre dois humanos e um computador. Isso mesmo, quase 40 anos antes de que Inteligência Artificial viesse a ser um tema tão crucial nas vidas das pessoas, o longa que marcou a estreia no cinema de Steve Barron, o diretor mais disputado da MTV na época, hoje é um clássico. Mais ainda, em tempos em que a Inteligência Artificial escreve música e roteiros, voltou a ser atual.

A trama gira em torno de Miles Harding (Lenny Von Dohlen), um arquiteto que compra um computador pessoal para ajudá-lo a desenvolver suas ideias, mesmo que não tenha grandes conhecimentos tecnológicos. Por exemplo, Miles compra vários dispositivos extras como interruptores para controlar eletrodomésticos, um sintetizador de voz e um microfone. Ao acidentalmente tenta baixar todo o banco de dados de um computador mainframe no trabalho, seu computador começa a superaquecer. Em estado de pânico, Miles usa uma garrafa de champanhe próxima para apagar a máquina de superaquecimento, mas ela surpreendentemenye se torna consciente. Batizado como “Edgar”, o computador ganha “vida”, inicialmente imitando Miles falando e depois ganhando sua própria identidade. As coisas ficam mais confusas quando Miles pede ajuda à Edgar para conquistar sua vizinha, Madeline Robistat (Virginia Madsen), uma violoncelista.

Há sequências incríveis no filme, graças ao conhecimento de Barron de criar videoclipes. A cena em que Edgar “duela” com Madeline em um ensaio de cello é até hoje incrível. Ela está praticando Minueto #4 em Sol (BWV Anh.II.114) , do Caderno para Anna Magdalena Bach, escrito por Christian Petzold, e o computador elabora uma variação paralela da peça. É a Inteligência Artificial escrevendo música, algo que hoje ainda questionam a possibilidade. No filme, copiando a premissa de Cyrano, Madeline acredita que foi Miles que está por trás da música e se apaixona por ele.

Depois do duelo, vem a cena ainda mais famosa. Fingindo ser mesmo o autor do duelo, Miles pede à Edgar que escreva uma canção para Madeline, o que ele faz e canta na voz de Boy George, com o hit Love is Love. Porém, se sentindo usado, e enciumado pois ele está apaixonado pela violoncelista também, Edgar se volta contra Miles. Cancela os cartões de crédito de Miles, o registrando como um criminoso “armado e perigoso” e parte para briga física, dando choque elétrico e o assediando em um labirinto improvisado de eletrônicos domésticos controlados remotamente, no estilo do Pac-Man. Porém, Edgar sabe de sua limitação e passa a aceitar o relacionamento entre Miles e Madeline, decidindo, aparentemente, se sacrificar ao enviar uma grande corrente elétrica por meio de seu modem acoplador acústico para se apagar. Pouco tempo depois, no entanto, Miles e Madeleine ouvem a voz de Edgar dedicando uma música para os dois em uma rádio, a canção é Together in Electric Dreams. Enquanto os dois curtem a música, os executivos da estação de rádio tentam desligá-la sem sucesso, tentando descobrir de onde vem o sinal. Isso mesmo, é a Inteligência Artificial tomando conta das ondas sonoras.

Muitos anos depois, muitos compararam HER com Amores Eletrônicos, mas Spike Jonze negou a referência. Concordo com ele, é outra história, mesmo que o sistema Samantha (Scarlett Johansson) tenha escrito uma canção para seu usuário (Joaquin Phoenix). Ano que vem, Amores Eletrônicos completam 40 anos. Vale lembrar algumas de suas cenas mais famosas e conferir que a ficção não estava tão longe da realidade, né?

Muitas curiosidades de bastidores alimentam o status de cult do filme. Apesar de seguir as fórmulas de sucesso na época, Amores Eletrônicos não aconteceu nos cinemas, sendo mais popular tempos depois, quando os filmes passaram a ser alugados e vendidos em VHS. Alguns culpam as sequências musicais exageradas, outros que a história estava muito à frente de seu tempo. A pedidor do diretor, o ator Bud Cort, que deu voz à Edgar, teve que trabalhar literalmente dentro de uma caixa no set, em vez de dublar depois e não pode interagir com o elenco para não atrapalhar a performance. Outro detalhe interessante é que a sequência musical do sonho, Edgar sonha com ovelhas elétricas pulando uma cerca, enquanto Miles cochila para dormir. A referência é ao romance de ficção científica escrito por Philip K. Dick em 1968, Do Androids Dream of Electric Sheep?, que retrata a natureza frágil do que é o mundo real e na construção da identidade pessoal.

Tendo questionado até que ponto a IA pode cobrir a música, sabemos a resposta. A música, afinal, é uma combinação de algoritmos, portanto é uma Arte cujo caminho já foi percorrido pela Ciência. Há muito tempo.

Publicidade

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s