É difícil torcer por algum dos filhos de Logan Roy. São três pessoas ruins. Por escolha. E é ainda mais difícil escolher quem é o pior deles, mas estou mesmo entre Shiv e Roman. Kendall é uma das figuras mais trágicas da TV nos últimos anos, sempre com um pé na moral e outro no ego. Só faz escolhas erradas, seja em confiar nas pessoas erradas ou seguir as piores.
Na noite da eleição presidencial só houve perdedores. Apenas uma pessoa manteve o foco e aparentemente foi bem: Roman. Mas chegaremos lá porque fora da redação as coisas eram simples.

É noite de eleição e é assustadoramente apertada. Embora todos queiram se manter isentos, estão apavorados ou comprometidos de alguma forma. Como sempre, parece que o pior desafio para todos é entender o ‘momento certo’ para conversar, ser honesto ou jogar. No final, todos perdem.
Kendall é mesmo o anti-herói de Succession. Ele agiu pelas costas dos irmãos, ou pelo menos planejou agir sozinho, mas ao ver as consequências das escolhas de negócios (apoiar a extrema direita, nesse caso) na ‘vida real’, voltou a hesitar. As hesitações de Kendall vêm do lugar certo, mas nas horas nas quais são negativas para ele. Kendall é aberto sobre o que o motiva, seja o ego, seja a insegurança, seja o ciúme e algo que ele não faz é manipular. Quando quer algo, pede, explica, se justifica. Aqui é onde ele e Shiv são opostos. Kendall quer poder, adulação e amor, mas confunde as ordens das coisas.
Depois de uma ‘grande vitória pessoal’, rapidamente se sente ameaçado pela confiança de Roman na noite de eleição porque é o caçula que faz a ponte política e é onde Ken nunca se dá bem. Ninguém o leva a sério, ou o ajuda ou tem empatia com ele como têm com seus irmãos. E, liderar uma empresa de comunicação demanda essa conexão e ele sabe que não tem. Por isso, abre o coração com a irmã, é 100% honesto: quer ser o chefe, mas não quer perder a família. E pede que ela o ajude. Shiv perde a melhor chance de dizer a verdade, opta em manipulá-lo a seu favor. Mais uma vez ela subestima Kendall. Ao não ser honesta, perde a chance com os irmãos. Ken, sem opção, apóia Roman e com isso definem um país em perigo e perigoso. Ele alega que é uma decisão de negócios, mas vemos que não é e seu coração está partido. Mais uma vez Ken está isolado e sozinho.

Roman está apenas começando. Ele se vê como Logan, e efetivamente tem muito mais do pai do que Shiv ou Kendall porque para ele tudo é simples quando tem uma única meta. Ele não age pelas costas (agia, com Logan vivo): ele quer ficar onde está, concorda com Ken que a ATN não pode estar com Lukas Matsson, mas, como avisa à Kendall, quem decide o cardápio agora é ele. A conversa entre bife e frango dos dois é hilária, íntima e perfeita. Roman tinha pitis quando criança porque sentia que a decisão das coisas era determinada pelos irmãos e agora não quer mais isso. Ele tampouco fica jogando com psicologia com Ken. Mas a inconsequência de suas decisões terão um preço alto.
Tom é outra figura complexa. Sua relação com a família Roy está no chinelo. Não confia mais em Shiv e sabe que os irmãos só estão com ele por ser o cunhado. Está indo à toda contra o muro e não tem outra alternativa. Sua noite sem comando da redação ou dos donos da empresa deixaram ainda mais claro que ele está em uma posição muito acima de suas habilidades. Mas não sinto por ele, plantou e está colhendo.
Greg está confirmando muitas teorias de fãs como um jogador astuto. Já está no círculo de Lukas Matsson, está próximo de Kendall e soube perfeitamente negociar com Shiv. Ela o subestima e pagou por isso.


Shiv deveria ser uma personagem pela qual eu torceria, mas não consigo. Sua falsidade, sua maldade e sua arrogância vêm sempre antes de qualquer expressão de empatia. Ela se julga melhor em tudo: moral, inteligência, conexões e acredita que suas derrotas vêm apenas do sexismo, mas jamais consegue criar um distanciamento para pensar antes de agir.
SIM, Shiv é vítima de sexismo. Seus irmãos a colocam nos bastidores e a excluíram das decisões em menos de uma fração de segundos, na verdade, sem sentir. Eles acham que a estão deixando participar, mas ela quer comandar. O atalho para o que sempre quis é traição.
Para Shiv, mais do que ser a CEO sozinha em vez de Roman e Ken, é poder ser a CEO sozinha humilhando os dois. Quando eles abrem o jogo que não querem mais vender a empresa e ela discorda, é porque nos dois planos de venda ela será a chefe, mas jamais comenta com os irmãos sua motivação. E pior, com Lukas ela está tão cega que agiu antes de assegurar sua posição, o que mostra uma impetuosidade perigosa. Ela “assume” que Lukas concordou com sua demanda, mas ele já revelou que mente sobre números, que é assediador e que a está usando. Mas Shiv ainda acha que é mais esperta que todos. Em vez de confrontar Lukas de estar abrindo o jogo com Greg, ela ameaça o primo, sem oferecer nada em retorno. Shiv é a pior negociadora de Succession. Com ela não há empate, só goleada. Vai voltar para casa com um 7-1, pelo visto.

E uma casa solitária. Shiv usou Tom como capacho e não prestou atenção quando ultrapassou o limite. Ao ter uma segunda oportunidade, o marido foi honesto sobre o que e como queria que fosse a união dos dois, mas, mais uma vez, ela ‘finge’ aceitar e acredita que o engana. Tom foi muito duro com ela, inclusive de questionar a veracidade da gravidez, mas Shiv deixou isso acontecer. No auge de uma briga de trabalho tirá-lo da sala para “pedir desculpas” e comunicar que está grávida não poderia ter outra resposta. Pode ser que o plano de Shiv tivesse sido fingir distância para poder salvá-lo sem deixá-lo desacreditado, mas, a essa altura, ela só está expondo Tom. Ele não quer mais nenhuma migalha. E com isso, ela pede aos irmãos que destruam o ex. Será que ela mesma vai fazer isso caso consiga vender a ATN? Aqui Shiv é como Kendall, nunca decide.
O próximo episódio é finalmente o velório e enterro de Logan, que está há uma semana congelado em algum lugar até que seus filhos possam parar para enterrá-lo. Não tenho pena não, ainda acho que é muito que façam qualquer homenagem.
America Decides foi mais um episódio perfeito de uma série que está fechando no tempo certo. Impossível de antecipar o que vai acontecer.A. única certeza é que as duas próximas semanas serão intensas.