Hoje, 19 de maio de 2023, completam 487 anos da morte de Ana Bolena, a trágica e indecifrável figura feminina que provocou o rompimento da Inglaterra com a Igreja Católica, acelerou a polarização religiosa, gerou uma das mais aclamadas rainhas de todos os tempos (Elizabeth I) e no entanto acabou sendo executada por “traição” por ordem do marido, o rei Henrique VIII. Conhecida como a Ana dos Mil Dias (o tempo que foi Rainha da Inglaterra), Ana Bolena é uma mulher que foi chamada de bruxa, prostituta, oportunista, apaixonada e inocente, sem nenhum historiador concluir com seu perfil mais próximo da verdade. Sem surpresa seu fantasma é dos mais conhecidos na Torre de Londres.
A história de amor entre o rei casado e a nobre que não aceitou ser amante é material de poemas, filmes, livros, óperas, balés e séries nesses quase 500 anos, no entanto a revisão mais recente de sua trajetória foi ofuscada com a polêmica de escolherem a atriz Jodie Turner-Smith no papel, mas, em geral, é comum ressaltar sua personalidade forte, sua quase petulância de falar o que pensava e seu desespero nas horas finais. Atributos considerados negativos por muitos séculos e que ainda não a isentaram na narrativa atual. Ana provou que um Henrique VIII jamais aceitaria uma negativa como resposta, mas que igualmente lidava com as vidas de seus amigos e mulheres como nada, rapidamente ganhando a fama de tirano. O problema é que como jovem ele era popular, Ana é sempre a referência da “mudança do rei”, reforçando o mito de manipuladora e calculista. Desconfio que possa ser injusto.

Nos tempos atuais Ana seria uma mulher admirada, não necessariamente popular, mas firme. Ela foi usada eu pai e tio para que eles ascendessem politicamente, testemunhou como o rei tratou (mal) sua irmã quando a descartou do papel de amante e não podia fazer ela mesma uma união com o homem que queria. Em algum momento da paquera do rei, ela se apaixonou (muitos insistem que não), mas, ousou em não ceder “ser mais uma”.

Será que ela só queria escapar do destino das mulheres “escolhidas” por Henrique VIII? E o plano deu errado quando ele comprou a briga para tê-la como esposa. Documentos e historiadores divergem sobre o quanto Ana planejou o que viria a acontecer, mas ela nunca foi aceita como soberana em vida ou em morte. Talvez seu despeito juvenil quanto à mulher mais velha trocada por ela, Catarina de Aragão, tenha contribuído pela antipatia histórica. O que ninguém disputa hoje é que ela foi vítima de um complô e pagou com sua vida quando Henrique VIII queria se casar novamente, menos de dois anos de ser seu marido.
Oficialmente, Ana Bolena foi acusada de adultério, incesto e alta traição. Cinco homens, incluindo o seu irmão, foram também presos e interrogados sob tortura. Ela morreu mantendo sua inocência de todas acusações. Seu corpo foi jogado em uma vala comum, sem nome. Henrique VIII se casou com Jane Seymour menos de duas semanas depois.
Nesse 19 de maio, as redes sociais relembram a Rainha e a Mulher, cujo mistério jamais será decifrado, mas tampouco esquecido.