Um Duque na Nova York da Era Dourada

Não que não-monarquistas sejam obrigados a saber, mas , a posição mais alta de um nobre – que não seja Príncipe ou Rei – é um Duque. Portanto, quando em The Gilded Age as mães ambiciosas de candidatas potenciais à casamento descobrem que um Duque britânico (e solteiro) está passeando por Nova York, podemos apostar em uma corrida pelo prêmio. No próximo episódio da série, iremos conhecer o Duque de Buckingham (Ben Lamb) e como ele está literalmente no coração da ddisputa entre Bertha Russell (Carrie Coon) e a Sra. Winterton (Kelley Curran), vamos falar dele?

Bom, a primeira coisa a saber é que, embora algumas personagens reais circulem na série, o Duque de Buckingham não é um deles. Os “verdadeiros” nobres que se casaram com herdeiras americanas, na época chamadas de as “princesas do dólar”, foram outros nos quais o personagem é inspirado. Em especial, o Duque de  Marlborough, que se casou com Consuelo Vanderbilt, em 1895.

É curioso que tenham escolhido o título de “Buckingham” para o fictício e não inventaram outro ducado, porque o título de “Duque de Buckingham” foi extinto e criado diversas vezes ao longo da monarquia britânica e havia um vivo ainda no período da série. Mas duvido que seja o ‘nosso’ pois o verdadeiro era casado e morreu em 1889, extinguindo a posição desde então.

O primeiro Duque de Buckingham foi Humphrey Stafford, em 1444, filho de Ana de Gloucester, Condessa de Buckingham, neta do Rei Eduardo III. Embora na Guerra das Rosas, os Staffords tenham apoiado a Casa de Lancaster, quando o Rei Ricardo III assumiu o trono (sou ricardiana, não digo que usurpou), seu neto, Henry Stafford, o segundo duque de Buckingham, ajudou ao príncipe de York, embora tenha se voltado contra ele em seguida e executado quando sua revolta deu errado. Seus títulos foram perdidos junto com o ducado até que Henrique VII se tornou rei em 1485. Mais uma vez, um Duque de Buckingham entrou na História como traidor porque em 1521, Edward Stafford (filho de Henry) se opôs ao cardeal Thomas Wolsey, principal conselheiro de Henrique VIII, quando o filho de Henry foi executado também e mais uma vez o título extinto.

Apenas em 1623 a posição de Duque de Buckingham voltou a existir, quando George Villiers, um dos favoritos de Jaime I da Inglaterra foi nomeado no título. A vida de George é tema da série Mary e George e ele é citado nos Três Mosqueteiros, mas foi assassinado em 1628. Seu filho herdou o título, mas como morreu sem herdeiros em 1687, mais uma vez extinguiram o título. E assim seguiu ao longo do tempo: até que em 1822 os Temple-Nugent-Brydges-Chandos-Grenville voltaram a ter o ducado, mas desde 1889, quando Richard Temple-Nugent-Brydges-Chandos-Grenville, morreu, ninguém mais recebeu o título.

Então, quem é Buckingham em The Gilded Age?

Onde ouvimos Buckingham, devemos pensar Malborough. Por que não é usado na série? Porque o título de Duque de Malborough ainda existe e pertence a ninguém menos do que um primo da Princesa Diana. Isso mesmo, Jamie Marlborough é hoje o 12º Duque de Marlborough, parente distante do primeiro-ministro Sir Winston Churchill, e de Diana, mas também ligado à Christina Onassis (é meio-irmão dela) por conta do segundo casamento de seu pai com Athina Livanos. Obviamente ele também é primo distante de Andrew Cooper, um Vanderbilt, pois sua bisavó foi Consuelo Vanderbilt. Parece complexo, eu sei, mas o fato é que com o verdadeiro Malborough em vida, ficou melhor usar um título sem dono, mesmo que historicamente pudesse gerar confusão.

Seguindo os passo do original, o Buckingham de The Gilded Age está destinado a se casar, eventualmente, com Gladys Russell (Taissa Farmiga), mas se Turner, a Sra. Winterton puder atrapalhar o objetivo de Bertha, não será fácil. E pelos teasers sabemos que até Caroline Astor (Donna Murphy) vai querer “comprar” o nobre. E ele estava mesmo “à venda”.

Charles Spencer-Churchill, o nono Duque de Malbourough, primo de Winston Churchill, se casou duas vezes e a primeira esposa foi justamente Consuelo, a herdeira ferroviária americana. A união foi puramente usa transação comercial: em 1892 seu ducado estava quase falido e se casar por dinheiro foi a solução mais rápida para resolver os problemas financeiros de sua família. Trabalhar era impossível para um nobre, portanto a outra solução era arrumar uma esposa rica.

A interferência de Alva Vanderbilt, desesperada para ver a filha uma duquesa, foi essencial e o preço de Consuelo ficou em torno de 77 milhões dólares em valores recentes, mais outras ações e dividendos. O sofrimento de Consuelo foi público desde o início, mas lendário depois. Ela alegou que ficou trancada em seu quarto até que concordasse com o casamento e descobriu ainda na lua-de-mel que marido amava outra mulher e que se casou com ela para “salvar o Palácio de Blenheim”. Ainda assim tiveram dois filhos (um herdeiro e o sobressalente) e viveu anos de tristeza na Inglaterra, até conseguir se divorciar.

O dote dela foi usado para restaurar o Palácio de Blenheim, até hoje estonteante. A duquesa escreveu sobre os problemas em sua autobiografia, The Glitter and the Gold, onde admitiu infidelidade de sua parte (com seu primeiro amor, Winthrop Rutherfurd, com quem queria mesmo se casar) além de três primos de seu marido. Uma vida infeliz era aceita pela sociedade e Consuelo (que também inspirou Madame Olenska de A Época da Inocência) chocou a todos quando se separou em 1906. A essa altura, uma arrependida Alva Vanderbilt testemunhou que coagiu a filha a casar com o duque, contribuindo para que o casamento fosse anulado pelo Vaticano em 1926, e liberando ambos para voltar a se casar.

Consuelo se casou como francês Jacques Balsan e morreu em 1964, já quando seu primogênito se tornou duque de Marlborough. Embora destestasse Blenheim, visitava o palácio com frequência. O Duque de Malbourough se casou com outra americana, Gladys Deacon, que se tornou amiga de Consuelo mesmo sendo amante do marido dela. A união dela com Charles foi de mal a pior. Casados oficialmente, passaram a se desentender tanto que Deacon mantinha um revólver no seu quarto para impedir a entrada do marido, que acabou deixando o palácio pelo qual vendeu a honra. Conseguiu despejar a segunda esposa, de quem se separou, mas nunca se divorciou. Charles morreu na Inglaterra, em 1934.

Ou seja, na realidade o duque gerou muito drama, será que o Duque de Buckingham estará à altura?


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