A Importância Histórica de Daenerys Targaryen na Saga de Game of Thrones e House of the Dragon

Como podemos contextualizar Daenerys Targaryen na saga de House of the Dragon e Game of Thrones? Nos livros ela é diferente da série e, sem uma conclusão, é complexo ter uma resposta “correta”, portanto o que serve como base de defesa ou ataque da personagem está em sentimentos: como se sente pela Daenerys que projetamos do livro ou que vimos e analisamos da série.

Daenerys é uma personagem central na série Game of Thrones e dos livros As Crônicas de Gelo e Fogo, de George R.R. Martin, mas não a protagonista única, como seus fãs apaixonado defendem. Para entender seu papel na saga, é preciso entender tanto seu desenvolvimento ao longo de Game of Thrones assim como as referências à ela no pano de fundo histórico fornecido em House of the Dragon.

E isso tudo se torna mais importante diante do que virá na conclusão da segunda temporada da série, cujos vazamentos seis dias antes da exibição trazem um informação nova: de acordo com a visão de Daemon (Matt Smith), que vê os White Walkers e como Daenerys (Emilia Clarke) como parte da Profecia (nem sinal de Jon Snow (Kit Harington)!), agora ela é oficialmente a Princesa Que Era Prometida, e não Jon ou ela ao lado do sobrinho. Seria então, a confirmação de que toda a Saga é apenas sobre ela?

Uma princesa fora da sucessão que se transformou em líder messiânica

Como a filha mais nova do Rei Aerys II Targaryen, também conhecido como o Rei Louco, que foi deposto durante a Rebelião de Robert, conhecemos Danny ainda muito jovem e exilada em Essos, uma terra distante do continente de Westeros, onde sua família governava. Ao longo da série, Daenerys passa por uma transformação significativa. Inicialmente, ela é uma jovem vulnerável sob o controle de seu irmão Viserys (Harry Loyd), mas rapidamente cresce em força e determinação. Ela se torna a Mãe dos Dragões após chocar três ovos de dragão, um feito que a coloca em um caminho de conquista e liderança.

Movida por um forte senso de justiça e um desejo de libertar os oprimidos, com quem se identifica, ela se sente compelida a conquistar várias cidades em Essos, não apenas para ganhar fundos e homens para apoiar sua causa de reconquistar o Trono de Ferro, mas para também abolir a escravidão. Isso desvia por um bom tempo seu objetivo original de restaurar a Casa Targaryen ao poder.

Embora tentada a usar a força e o poder dos dragões, Daenerys só utiliza a Força para responder “com justiça a injustiça”, mas quem está mais próximo a ela e não se sente em dívida de gratidão à ela (como Missandei (Nathalie Emmanuel) ou Grey Worm (Jacob Anderson)) ou esteja apaixonado por ela, como Ser Jorah Mormont (Iain Glen), percebe que há indícios de narcisismo ou até delírios messiânicos, algo que podemos igualmente projetar para o público. Como diz Tyrion (Peter Dinklage), ele mesmo igualmente enamorado dela, “por onde ela andou matou homens maus e foi aplaudida por isso”, mas alguns inocentes foram colaterais em sua “justiça”, sem jamais um reconhecimento disso.

Uma virada polêmica e histórica

Para grande surpresa de Daenerys, quando ela chega à Westeros, é rejeitada por todos: plebeus e nobres. Quem a apóia não é por ideologia, é por vingança aos Lannisters e todos parecem imunes ao seu charme, à sua história, à sua liderança ou até mesmo reivindicação: ninguém quer um Targaryen de volta ao Poder. Nem os dragões, que causam medo, são o suficiente para impressionar.

Para piorar o ego magoado de Danny, aos poucos vai perdendo seus fãs, digo, assessores e vai ficando isolada física e emocionalmente. Sua paixão intensa por Jon Snow, cuja família e vassalos a desprezam por ser estrangeira, é a gota d’água de uma situação extrema pois ele se revela não apenas sendo seu sobrinho, que como Targaryen para ela é até mais apaixonante, como Jon é efetivamente o herdeiro legítimo do Trono, antes dela por ser homem e filho do herdeiro antes dela, o irmão mais velho, Rhaegar.

A soma disso tudo destrói a saúde mental de Daenerys que em um surto atípico e violento, depois de derrotar seus inimigos violentamente decide destruir a capital King’s Landing, matando a esmo inocentes enquanto focava em matar a derrotada Cersei Lannister (Lena Headey). Após o massacre, Danny se mostra ainda mais ambiciosa e sem remorso. A partir dali vai até ao Norte, onde está Sansa Stark (Sophie Turner) para domar sua inimiga declarada, que acontece ser a prima de Jon, criada como irmã dele. Forçado a escolher, Jon mata Daenerys, é exilado, seu primo-irmão Bran (Isaac Hempstead-Wright) é eleito Rei, Sansa vira Rainha do Norte e todos menos qualquer um sangue Targaryen vive feliz para sempre.

Esse final confuso e polêmico tem sido rejeitado e comentado desde 2019 e afetou diretamente a adaptação de House of the Dragon.

O futuro redefinindo o passado: o efeito Daenerys

De todas decisões erradas, ou questionáveis, de Game of Thrones, a morte de Daenerys Targaryen é a que é a maior divisora de apoiadores. Na verdade, ninguém queria sua morte, mesmo que não a quisessem no trono. Por isso, quando House of the Dragon chegou ao ar, é impossível evitar as comparações: de roupa, de liderança, de tudo. Os créditos de abertura avisam que a história se passam quase 200 anos ANTES de Daenerys Targaryen, fazendo dela, ao lado de Aegon o Conquistador, a Targaryen mais icônica da saga.

House of the Dragon explora especificamente a Dança dos Dragões, uma guerra civil dentro da Casa Targaryen que envolve os ancestrais diretos de Danny. Esta série fornece um contexto histórico que é crucial para entender a ascendência e as tradições da Casa Targaryen, incluindo sua ligação com dragões e seu histórico de governança.

Embora Daenerys não apareça em House of the Dragon, a série oferece insights sobre a dinastia Targaryen, suas complexas dinâmicas familiares e as disputas de poder que moldaram seu legado. Isso ajuda a contextualizar a obsessão de Daenerys com dragões e sua visão de restaurar a glória de sua família, afinal, sua jornada em Game of Thrones reflete tanto os altos ideais quanto as tragédias da história de sua família. Assim como seus antepassados, Daenerys enfrenta dilemas de poder, lealdade e justiça, e seu destino final é influenciado tanto por suas próprias escolhas quanto pelo legado histórico de sua casa.

O problema das profecias e suas interpretações

Em As Crônicas de Gelo e Fogo, ouvimos falar da profecia do “Príncipe Prometido” ou “Azor Ahai”, que é mencionada várias vezes ao longo dos livros e tem várias interpretações, mas geralmente está associada ao retorno de um herói lendário que salvará o mundo das trevas. Em Game of Thrones ela também tem um papel relevante pois foi inclusive graças à ela que Rhaegar Targaryen se apaixona e se casa com Lyanna Stark, pais de Jon Snow, pois ele interpreta que será um de seus filhos o Príncipe Prometido.

O problema é que quando a profecia passou a ser determinante na história da série, o mundo estava passando pelo movimento do Me Too e o feminismo ganhou um espaço onde protagonistas homens passaram a ser reescritos ou reavaliados, algo que afetou diretamente a trajetória imaginada de Jon Snow, reforçando por outro lado a força de Daenerys, abraçada como símbolo desse novo movimento cultural. Portanto a profecia, que falava de um príncipe, passou a ter uma tradução de gênero neutra, colocando a possibilidade que esse líder fosse Daenerys em vez de Jon.

A profecia de Azor Ahai inclui vários elementos importantes usados ao longo de Game of Thrones:

Nascido entre sal e fumaça
A criança prometida nascerá em um local onde sal e fumaça são abundantes. Isso é frequentemente interpretado como uma referência a um local de grande sofrimento ou um evento catastrófico. Tanto Daenerys como Jon nasceram durante a guerra liderada pelos Baratheons.

A Espada Flamejante
Azor Ahai forjará uma espada chamada Lightbringer, que brilhará como fogo e será usada para combater as forças das trevas.

Aqui é confuso: a espada flamejante não foi vista nem com Jon ou Daenerys, mas de Beric Dondarrion (Richard Dommer). E aí?

A Longa Noite
A profecia está intimamente ligada à “Longa Noite”, um período de escuridão e frio extremo que ocorreu milhares de anos antes dos eventos dos livros. Azor Ahai é esperado para retornar durante uma nova Longa Noite para combater os Caminhantes Brancos e salvar a humanidade.

Renascimento sob uma estrela sangrenta
A profecia também menciona que Azor Ahai renascerá sob uma estrela sangrenta, o que pode ser interpretado como um cometa vermelho ou outro fenômeno celestial.

Personagens como Melisandre (Carice Von Houten), a sacerdotisa do Senhor da Luz, acreditam fervorosamente nessa profecia e tentam identificar quem seria o Príncipe Prometido e, no caso dela, inicialmente acredita que Stannis Baratheon(Stephen Dillane) é Azor Ahai renascido, mas as evidências nos livros sugerem que Jon Snow ou Daenerys Targaryen possam ser eles. Na série, até a virada das temporadas finais, nos induziu descaradamente a acreditar que ele seria Jon.

Se isso tudo não bastasse para ficar confuso, House of the Dragon veio com OUTRA profecia e uma que coloca em cheque toda conclusão de Game of Thrones. Na primeira temporada, Viserys I (Paddy Considine) explica à Rhaenyra (Milly Alcock) que Aegon I, o Conquistador, teve uma visão antes de invadir Westeros. Ele acreditava que a união dos Sete Reinos era necessária para enfrentar uma ameaça futura que viria do Norte, uma ameaça que só poderia ser combatida por um Targaryen no Trono de Ferro. E chamou essa profecia de A Canção de Gelo e Fogo.

Esse segredo era transmitido apenas de herdeiro legítimo para herdeiro legítimo, por isso apenas ela sabia e nem Aegon II (Tom Glynn-Carney) ou Daemon sabiam, mas ela já passou para Jacaerys (Harry Corlett). Daenerys não fazia idéia dessa profecia nem mesmo Jon (aliás, ele nem sabia que era um Targaryen) porque infelizmente ela vai morrer com os personagens em House of the Dragon, ou assim pensamos. Daenerys, que nasceu após as mortes de Rhaegar e Aerys, não estava na sucessão e só passou a reivindicar o Trono por pensar ser a última Targaryen viva.

A profecia é passada de geração em geração dentro da família Targaryen, simbolizando a responsabilidade que eles sentem em proteger o reino contra essa ameaça futura e por isso é preciso garantir que a linhagem seja diretamente ligada à Aegon I.

Seja como for, A Canção de Gelo e Fogo, que também é o título da série de livros de George R. R. Martin, é a base tanto de Game of Thrones quanto House of the Dragon e se refere à batalha entre o gelo (os Caminhantes Brancos e o Rei da Noite) e o fogo (os dragões Targaryen). Há também a referência da união entre o Starks (do norte gelado) e os Targaryens (fogo), sendo que Jon é literalmente a união de gelo e fogo, potencialmente o herói nascido para enfrentar essa ameaça dos mortos-vivos. Mas não. Agora sabemos que era sempre Daenerys. E ambos, Jon e Daenerys, são descententes de Aegon I.

E o que significa a “confirmação” de Daenerys como a Princesa Prometida?

Primeiro: quem está determinando que é uma confirmação sãos fãs. A imagem de Daenerys na visão de Daemon só confirma que sim, ela traria de volta a mágica à Westeros por conseguir renascer os dragões.

Segundo, sabendo que Daenerys não uniu os sete reinos para lutar, isso é ainda a única vitória inegável de Jon na série, e que ela não matou o Night King (nem Jon, aliás). Portanto, se House of the Dragon intenciona confirmar que Daenerys é a verdadeira princesa que era prometida significaria que ela seria a escolhida, destinada a desempenhar um papel crucial na salvação do mundo conhecido. Não podemos negar que sim, ela foi crucial pois sem os dragões não teriam chance. Ou seja, a visão envolve várias interpretações e, no final das contas, ambas profecias fazem pouco sentido nas séries.

Subjugar as outras casas para que sirvam à ele alegando que está “unindo” o continente não altera o fato de que Aegon INVADIU, AMEAÇOU e DOMINOU Westeros, sem jamais alertar ou fazer efetivamente algo contra os White Walkers. E a profecia do Príncipe Prometido era tão evasiva que justificou Rhaegar trocar de esposa e abandonar seus dois primeiros filhos para serem asassinados, confundiu Melisandre que convenceu que o insosso Stannis seria o messias, o levando a queimar viva a própria filha para uma vitória que não conseguiu. Depois definiu que seria Jon, mas deixou a porta aberta para Daenerys. Muito, muito confuso! No entanto, é o assunto que mais uma vez divide o sensível e agressivo universo de GOT. Qual a sua opinião?


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