O coreógrafo Marius Petipa é creditado com frequência como o papa do balé clássico e por 34 anos criou a maioria das obras que até hoje são dançadas como ele inventou. Sua parceria com Piotr Illytch Tchaikovsky rendeu três obras das mais populares de todos os tempos, A Bela Adormecida, O Quebra-Nozes e O Lago dos Cisnes. Dois deles, Bela e Quebra-Nozes, foram encomendas suas para o compositor.

Como autor, Petipa era controlador. Ele não coreografava para a música, mas ao contrário. Em sua encomenda, dizia exatamente o que queria, do tempo, ritmo e… som. Apenas a melodia ficava a critério do músico. (não deve ter sido fácil!), portanto quando escreveu para Tchaikovsky que, para a variação da Fada Açucarada no 2º ato de O Quebra-Nozes ele queria um som de “gotas de água que caem de uma fonte” o compositor ficou com um desafio nas mãos.

Na época, 1892, poucos instrumentos teriam o som que estava na cabeça de Tchaikovsky, mas por sorte, em uma viagem a Paris no ano anterior ele descobriu um instrumento recém criado, a celesta.

A celesta tem a aparência de um piano, um som delicado como ele mas o som é como se fossem sinos. O compositor amou o som que achava “divino”, “maravilhoso” e que parecia um piano miniatura. Já estava querendo usá-lo e quando viu o que Petipa queria para a Fada, sabia que tinha a perfeita oportunidade para explorá-lo. Encomendou um instrumento em segredo porque queria ser o primeiro compositor russo a usá-lo. Conseguiu.

Parte da música de O Quebra-Nozes foi apresentada antes do ballet ficar pronto. No dia 19 de março de 1892, nove meses antes da estreia, Tchaikovsky tocou a Suite de O Quebra-Nozes em um concerto, com a música da variação da Fada Açucarada já incluída e com a celesta sendo eternizada como ela. Para os ouvidos apurados sabe-se que a celesta é usada em vários trechos no segundo ato, quando Clara está no Reino dos Doces.

Há poucos registros da variação original da Fada, em termos de coreografia. Essa variação é atribuída a Lev Ivanov (embora a polêmica de quem de fato assinou a obra possa deixar um espaço para que tenha sido Petipa). Há algo que até hoje acontece, no entanto. Na primeira apresentação o trecho que chamam de presto, em que acelera a música, foi cortado. Essa versão da música foi a versão que Gelsey Kirkland dançou no Quebra-Nozes do ABT de 1977. Atualmente ela “voltou” e está nas versões do Bolshoi e do Royal Ballet.




O que os especialistas têm sobre a coreografia original descreve uma série de passos curtos, na ponta e com petite batteries e attitudes. Delicada com música e formas circulares e, no final piruetas e rounds de jambe.

A primeira Fada Açucarada foi Antonietta Dell’Era, que tinha técnica apurada mas que não era considerada “atraente”. Uma das poucas atrações da versão original foi que o papel, que é para uma primeira-bailarina, tem muito pouco a fazer em termos de trama e só dança no final da noite. Por isso, em 1919, Alexander Gorsky alterou para que Clara – que dança desde o prólogo – deixasse de ser interpretada por uma criança e passasse a ser o papel principal do balé, do início ao fim. Ainda é assim no Bolshoi e no ABT, mas não no Royal Ballet ou New York City Ballet.


Quer rever alguns dos solos? Veja abaixo:
Na visão de Balanchine:
Na versão de Grigorovich:
Na versão de 1977, do American Ballet Theatre:
3 comentários Adicione o seu