Russian Doll, ou Boneca Russa, é uma pérola no acervo da Netflix. Uma espécie de Feitiço do Tempo mais profundo, estamos presos, como Nadia, em um loop estranho que a conduz para o mesmo lugar, ao som da mesma canção, Gotta Get Up, de Harry Nilsson. Não demora para perceber a realidade…

Nadia, interpretada pela maravilhosa Natasha Lyonne, está… morta. Em uma série de pequenos eventos que parecem desconexos, ela precisa juntar as peças para entender como chegou onde chegou e, mais importante, sair dali. É a tal da segunda chance que é mais difícil do que parece.
Nessa trajetória pesada, mas divertida, Natasha revê dolorosamente seus erros e aos poucos percebe que há sim uma interferência que pode alterar, ainda que minimamente, os fatos. São linhas do tempo que se cruzam em universos paralelos e co-dependentes. No seu caminho, entra Alan (Charlie Barnett), o único que consegue interagir com a “verdadeira” Nadia. Ele, outro SPOILER ALERT, também está morto, tendo tirado sua própria vida depois de uma rejeição amorosa.

Em uma bem construída e emocionante conexão entre almas (de novo, literalmente) perdidas, eles tentam lidar com traumas passados, perdoar e serem perdoados, de forma que possam se libertar. A evolução dos dois, que acabam agindo como anjos mútuos, é um dos grandes segredos de Russian Doll. Nos despedimos dos dois com um novo problema. Eles não estão mais na mesma linha do tempo, cada um está com a versão não evoluída do outro, em duas realidades paralelas, mas que influenciam uma à outra. Nadia e Alan precisam se ajudar, superar e salvar outros amigos de um destino onde não existam. É incrível.


A narrativa da série, criada por Natasha, Amy Poehler e Leslye Headland, não é feita em episódios, mas sim nos loops do tempo que acontecem verticalmente assim como horizontalmente. Há um intricado mapa para não furar em nenhum detalhe e de fato, não há falhas. Dentre sua originalidade está a de evitar os papéis de mocinha e mocinho obvios. Nadia não é uma pessoa legal e a solução para ela e Alan não é se apaixonar verdadeiramente. A evolução é bem mais profunda e complicada.
Russian Doll foi sucesso de crítica e prêmios em 2019. Era para voltar em 2020, mas a pandemia atrasou as gravações até março de 2021, portanto pode-se sonhar com a volta em 2022. A comparação com Feitiço do Tempo, embora inevitável, não é o que as showrunners mais apreciam.

A notícia de que Annie Murphy, depois do sucesso de Schitt’s Creek, entraria para o elenco foi celebrada, mas ainda não se sabe o papel dela na trama. A atriz foi registrada gravando com Natasha Lyonne no Soho, em Nova York, vestindo preto e dirigindo um carro esportivo.
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